sábado, 26 de março de 2011

Meu avô está no dicionário de Fred Navarro.

Leonardo Mota Neto (*)
 
O livro de Fred Navarro (“Dicionário do Nordeste”) é uma joia do agreste. Um cactus lapidado.
Quem escreve de amor àquela terra pereniza o rio de sua sabedoria (e que não precisa de transposição).Merece louvação de todos nós.
Leo e Clara, lendo juntos Fred Navarro
                                                           
Falo de meu sentimento domesticado, pois levo o nome de um poeta, folclorista e jornalista dos sertões nordestinos, o cearense Leonardo Mota, que está citado como referência pelo menos 30 vezes no livro do Fred.
                                                                       
Ele era conhecido no seu tempo como”Leota”. Saiu não só pelos sertões mas pelo Brasil inteiro em conferências para narrar a cultura popular mais autêntica, a verdade dos repentistas, cantadores e  violeiros.
Leonardo Mota com Violeiros
                                                        
Eram as décadas de 30 e 40. Não havia gravador. Nem telefone. Rádio, só o de galena, que os mais jovens nem sabem do que se trata. Só havia telégrafo. Leota se  embrenhava nas pequenas vilas do interior para colher na fonte a sábia produção do espírito sertanejo.Passava até dois anos fora de casa.
                                                    
Anotava tudo o que tinha ouvido nas feiras, praças, portas de igrejas e  e mercados, e à noite, nas pensões em que se hospedava, à luz  da lamparina, dava forma ao apurado na mina dos sábios.

Quando voltava a Fortaleza, escrevia os originais dos livros com os resultados da colheita: repentes, desafios, anedotas, versos, trovas, ditados populares, mitos, autos, chistes e historietas saídas  da alma do povo.

Definição dele mesmo, sobre seu apurado trabalho de campo:


”Nas conferências que proferi, de Norte a Sul, pus o melhor dos meus empenhos em fazer ressaltar a acuidade, a destreza de espírito, a vivacidade da desaproveitada inteligência sertaneja, de que os menestréis são a expressão bizarra e esquecida, apesar de digna de estudos."
                                                      
 Foram seis livros, todos nos anos 30 e 40 : “Cantadores, “No Tempo de Lampião “Violeiros do Norte”e ”Sertão Alegre”,”Prosa Vadia” e “Padaria Espiritual” - todos  editados pela Editora do Globo, de Porto Alegre, a mais importante do País naquela  época - além de um ensaio,”Cabeças Chatas”, e uma coletânea post-mortem: “Adagiário Brasileiro”.
Este último com 22 mil adágios populares brasileiros e seus similares  em vários idiomas. Prova que a alma popular é a mesma em qualquer país.  A arte de colecionar provérbios e afins chama-se  paremiologia Portanto, Leota era um paremiólogo.
Leonardo Mota e Anselmo Vieira, Ipueiras (CE)
Clique aqui : http://migre.me/47BjU , para saber mais sobre o cantador de Ipueiras (CE), Anselmo Vieira.                                    

Os livros de Leonardo Mota estão todos esgotados. Só são achados em alguns sebos ilustres. Houve edições posteriores por universidades, como a do Ceará, porém também esgotaram-se assim que saíam.
Morreu em 1948. Apresentava-se como  “o último boêmio do Ceará” e “judeu errante do folclore nacional”.

Obrigado, Fred, pela restauração desse patrimônio nacional com as referências bibliográficas em  "Dicionário do Nordeste".


(*) Leonardo Mota Neto é jornalista, da Carta Polis(www.cartapolis.com.br)

Saiba mais:
O rádio de galena é um dos receptores mais simples de modulação AM que se pode construir. Ele utiliza as propriedades semicondutoras do mineral galena, um dos primeiros  utilizados, ou seja, antes do germânio e silício. Ele demanda uma antena de grande extensão (tipicamente 15m) de fio cru, um circuito ressonante, formado por uma bobina em um  capacitor, em que um deles é variável,  sintonizado na frequência AM de interesse, passando por um circuito retificador (formado pelo diodo de galena) associado com um circuito "passa baixo" do tipo RC (resistor-capacitor), que filtra as altas frequências. O sinal, sintonizado, retificado e filtrado é transmitido diretamente a um transdutor de alta impedância, do tipo transdutor de cristal como monofone (altofalante). O rádio de galena não necessita de fonte externa de energia para produzir som audível no monofone: toda a energia é captada pela antena de grandes dimensões, tipicamente de 1/2, 1/4 e 1/8 do comprimento de onda a ser sintonizado.
Fonte: Wikipédia

4 comentários:

  1. A familia Mota agradece por tão eloquente edição do post,que valorizou a cultura popular com um precioso documentário sobre a nossa melhor tradição nordestina.Parabéns, Clara Favilla,pelo interesse em divulgar o folclore brasileiro, que de falta de apoio fenece diante dos modismos estrangeiros impostos pela massificação!

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  2. Aprendi mais um pouco sobre folclore brasileiro. Obrigada.

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  3. Adorei a história do Leonardo. E queria mais: queria ouvir tudinho.

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  4. Minha dissertação do mestrado é sobre a fase folclorista de Leonardo Mota, gostaria muito de entrar em contato com você. meu email é juhollanda@gmail.com

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