por Cris Lopes
Acordei cedo. Assim que abri a cortina do quarto me empolguei com o sol brilhante. Foi abrir a porta e deparar com Carla correndo aos gritos. “D. Cristina, liga a televisão, liga a televisão agora”. Pensei logo em tragédia. Quando Carla pede para ligar a TV, no mínimo da pena tem o Wagner Montes narrando alguma atrocidade.
Sintonizei a Globo News. Nossa! falavam de uma tragédia na zona oeste, mais precisamente em Realengo. Interrompi tudo para ouvir a história do rapaz que entrou num colégio e saiu atirando. Matou 12 crianças, feriu 13.
Entre os mortos, o próprio assassino, que, diziam, levou um tiro na perna e depois se matou. Duvido. Levou foi um tiro mortal muito bem disparado. Num caso assim, que me desculpe a sociedade protetora dos assassinos, eu, se fosse policial, faria exatamente a mesma coisa. O mesmo tiro mortal.
O jovem, chamado Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, foi aluno da escola. Deixou uma carta incompreensível, dizendo o que todo mundo já sabe, tal a repercussão do atentado no país e no planeta.
Saí para a minha caminhada que precede a fisioterapia do dia. Caminhando e pensando. Uma das crianças, ferida, pulou a janela e, salva por um amigo, foi correndo chamar a polícia. Um pequeno herói, aquele menino que saltou a janela. Qual é o nome dele? Quem é ele, que salvou outros colegas do massacre continuado? Ninguém sabe até agora e poucos falam nele. Garoto de coragem!
Como pode acontecer algo assim em um belíssimo dia de sol e luz, num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza? Por que? Lá vou eu. Sempre estou buscando o por quê da coisa. O que fazia o assassino? Onde morava? A irmã de criação apenas disse que ele era esquisito. Como assim? Esquisito?
Não encontrei resposta e lá fui rumo à Policlínica preparada para a minha tortura física particular. A psicológica eu já havia sofrido com o noticiário, o choro da Carla e os telefonemas para os parentes dela que moram por ali. Imediatamente lembrei-me que tenho um neto de 12 anos, rapazinho que pega ônibus para ir ao colégio.
E se fosse com o meu neto? Com certeza, eu estaria com os sentimentos embaralhados. Tristeza inconsolável e ódio profundo. Sim, eu não estaria escrevendo sobre isso e muito menos lamentando até pela família do jovem Wellington. Sim, sempre penso na dor dos pais e irmãos de um assassino. Não devem sentir menos do que os pais que perderam os filhos.
Na fisio, enquanto esperava minha vez, o assunto não era outro. Tentei me concentrar no meu livro relaxante, mas ouvia coisas do tipo “a filha da fulana, recepcionista, estuda lá”. Fechei o livro e fiquei ouvindo as conversas entre fisios, enfermeiras e médicos, até que passou a recepcionista, uma bela negra de seus 35 anos, chorando e indo embora. Soube depois que a filha dela não estava entre as vítimas, mas pude sentir o desespero de muitas mães que saíram de seus trabalhos apavoradas em direção ao colégio onde uma barbaridade aconteceu.
Voltei ao meu livro, a minha dor física e guardei comigo a tristeza de mais uma tragédia na cidade maravilhosa. Mesmo assim, decidi compartilhar com você, aqui, meus sentimentos e preparei este post da rua mesmo, antes de retornar à casa. Assim escrevi este meu primeiro post via Word no celular. Como se fosse emergência de jornal.