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segunda-feira, 14 de março de 2011

O amor não é cego (o luxo e o lixo do Rio)

por Cris Lopes

Manhã sem luz. Olhando da minha janela, a nítida impressão que Niterói, as montanhas e o mar desapareceram. Faltava um pedaço da cidade. Cadê minha vista, aquela que tanto me anima ao acordar? Onde estão os barcos? Tudo completamente encoberto por nuvens espessas. Chovia fino. Frio? Nem pensar. Calor grudento, abafado. Pensei:  Ai,  meu Deus, com tantas coisas para fazer, inclusive a tal tintura dos cabelos, e um dia assim insosso.

Chuva: lágrimas na paisagem
                                                          
Comecei os afazeres domésticos, tomei um belo café da manhã e aos poucos as nuvens foram se afastando, o céu clareou, Niterói reapareceu e eu pude ver o MAC. A chuva também foi embora, mesmo que temporariamente. Estamos em março e as águas do mês foram até imortalizadas por Tom Jobim. “São as águas de março fechando o verão...”

Lá fui para a rua. Poucas pessoas poderão compreender o que me significa ir à rua sozinha e na hora que pretender.  Só me entenderia quem um dia passou pela loucura de uma síndrome do pânico vinda sem maiores explicações e que me deu trabalho para ir embora. Eu não tinha medo da rua. Morando no 12º andar, meu pavor vinha do elevador! Descer, tudo bem, mas subir... Até hoje, se puder, vou de escada. Mas, convenhamos, aqui em casa isso não é possível, exceto quando falta luz.

Gosto da rua porque amo caminhar olhando as pessoas. Cada uma se veste como quer e ninguém repara. Magrelas como eu de bermudinha, senhoras enormes de gordas caminhando com suas gorduras vestidas com roupas de magra, chapéus de todas as cores e modelos. Uma delícia olhar tudo isso.

E o visual? Baía de Guanabara com a água que engana. Olhando-a, é tão translúcida e linda que é capaz de enganar, como se sereia fosse, aos que não a conhecem. A limpidez da água na verdade é o disfarce de pura poluição e descaso. Desde 1993, quando comecei a me preocupar com a despoluição da Baía, só vejo programas e mais programas, dinheiro e mais dinheiro, e a Baía cada vez mais poluída.

Caminhei até a Urca. Na mureta que fica ao lado do Iate Clube, a sujeira impressiona. Todo lixo de barco que você puder imaginar está lá, jogado na grande poça. Quer dizer, a sujeira também vem de quem tem muito dinheiro. Se formos à UFRJ, a coisa ainda é pior, mas a universidade está despoluindo com êxito o seu pedaço. O lixo dos alunos vai de camisinhas a saquinhos de batatas fritas. Isso sem contar que já retiraram sofás e fogões lá de dentro.

Amigos, o que eu queria era dizer a vocês que nem tudo são flores nesta cidade maravilhosa. Quando chove muito empoça, a baía continua poluída e eu sempre amando tudo isto.