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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SOWETO, SOU GUETO

por Memélia Moreira
 
Nas minhas muitas inquietudes que se traduziram em viagens, fui a um país que me fascinava e pelo qual sentia repulsa. O deserto de Kalahari, a altivez do povo Zulu, o repugnante apartheid que marcou a história do país, Nélson Mandela, Dom Desmond Tutu, o escritor J.M. Coetzee, a África do Sul sempre frequentou meu mapa aventureiro. E foi assim que em 2000 embarquei para aquele país, onde a África flerta com a Austrália, a duas esquinas do fim do mundo.
 
 
Cruzei o deserto de Kalahari, porque os desertos me magnetizam, estive em Joanesburgo, Durban, Pretória, Cidade do Cabo, mas não ouvia ninguém me indicando uma visita ao Soweto, a favela da resistência negra que se transformou em cidade, ao lado de Joanesburgo. Mas foi lá que vivi uma das grandes emoções de minha vida. 
 
 
Não havia hotel em Soweto. Nem brancos. Fui de táxi. O motorista, um ex-piloto chamado Isak, não gostou quando lhe disse que voltasse no dia seguinte para me buscar. É que decidi dormir em Soweto. Ele fez careta garantindo que o lugar era perigoso para negros e não negros. Ignorei o conselho e rodei a favela, até encontrar a "Casa di Stella", um bar-restaurante, onde à noite negros se reuniam para tocar jazz e que foi também minha pousada na noite de 9 de março de 2000. 
 
Stella, a proprietária, me recebeu como se me conhecesse e quando lhe disse que queria dormir na favela, não se alterou e me levou a um cubículo com esteiras de palha nova e disse que eu podia dormir ali, "sem medo". Perguntou se eu ia almoçar e me deu um guia para visitar a favela.
 
Estive na casa onde Mandela viveu antes de passar 27 anos na cadeia. Toda perfurada de balas, chão batido, a casa era só o prenúncio do que me esperava. Caminhei pelas ruas e, vi uma escola quando, de repente, percebi um  Memorial. Eu estava exatamente no lugar onde acontecera o "Massacre de Soweto". 
 
Meu corpo sacudiu e chorei. Era hora da saída da escola. As crianças, pulando e rindo, vinham em debandada. Foi aí que tive a exata noção do que aconteceu no dia 16 de junho de 1976. Estudantes faziam um protesto pacífico por melhores condições de ensino e foram massacrados. A polícia descarregou suas balas usou bomba de gás lacrimogêneo e testou bomba de petróleo. Quatro estudantes foram mortos. Um deles, Hector Pierson, tinha 13 anos. Conhecia a história porque o noticiário correu o mundo e vi pela televisão no momento em que amamentava Cristina, minha filha mais velha. Naquele março de 2000 chorei tanto ou mais do que em junho de 1976 porque pensei em outros massacres onde mataram crianças. E escrevi o "poema" que se segue.
 
Antes de mais nada, peço desculpas porque não sei se é exatamente um poema. vamos chamá-lo apenas de "poético".
 
Ruas de lata,
homens de luta.
Terra cinzenta de um povo
da cor da noite
Soweto, Soweto.
Sou gueto.
O mesmo sorriso fácil das crianças
do Jardin de Luxembourg', Hyde Park, Manhhatan,
Diauarum, Mekness, Lago Sul.
O mesmo alarido infantil
nos uniformes em azul e branco na saída da escola.
Mas conheceram o sangue,
antes de conhecerem a vida.
Too young to die, e mesmo assim
se foram naquele inverno de 76.
Pobre menino negro e seu olhar perplexo,
carregando um corpo igual na cor, nos sonhos, na sina.
Meu corpo estremeceu no teu Memorial e
as bombas de petróleo ecoavam em todos os meus sentidos.
Soweto, MyLai, Puerto Cabezas, Haximu, Rocinha, Kosovo, Sabra, Chatila, Treblinka
Minhas crianças que jamais crescerão.
Por que plantaram tantos hectares de ódios? Por que?
Soweto do langor mississipiano, do sax de liberdades.
Soweto livre no batuque da rua, reconstruindo a desconstrução.
Soweto desafio da pátria resistente,
te entrego aqui lágrimas e minhas mãos para dançarmos a ciranda 
das emoções, nesta aldeia universal.
Soweto, meu povo, meu amor.

Em 09/03/2000

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ela todo dia faz tudo igual: se atira do térreo... Conheça Maria Lúcia, a tuiteira

por Memélia Moreira

Na vida, real ou imaginária, há quem mate um leão todos os dias. Outros cantarolam, às vezes artisticamente, que todo dia é dia de índio. Uns tantos, os queixosos rotineiros, reclamam da falta de originalidade dizendo que todo dia  ela faz tudo sempre igual. Mas só ela, Maria Lúcia, todos os dias se atira do térreo. E faz sempre tudo igual, até mesmo matar seus leões, medos, frustrações que se sucedem diariamente numa sequencia de bipolaridades e incertezas.


Mas quem é Maria Lúcia? Ela existe na vida real ou é apenas mas um desses personagens que vivem no planeta de Nenhures? Ela pisa no chão, almoça, toma banho, lê, ama? Ou flutua no etéreo mundo virtual? Que idade ela tem? É bonita igual a imagem pública que divulga? Ou é apenas comum e se esconde sob o escudo de uma beleza consagrada?


Sim, Maria Lúcia existe. E apesar de ainda não ser uma mulher famosa, com ensaios ou livros publicados, sem sequer ter posado nua ou participado dos bigbroderes, ela tem um biógrafo oficial. Chama-se Lula Falcão, cronista, jornalista, pernambucano, radicado na República da Vila Madalena, São Paulo.


Lula tem esse dom extraordinário, quase exclusivo dos cronistas, que é o de observar,com acuidade e ironia, o comportamento humano na sua individualidade e nos seus envolvimentos coletivos. Foi isso que ele fez ao traçar o perfil de Maria Lucia.


Ela é o o retrato de uma personalidade que começa a chegar à idade madura sem ter conquistado seus ícones próprios. É a digna representante de uma geração-hiato que se dividiu entre aqueles  que sentem nostalgia dos inconformistas e hippies dos anos 60 e os que, talvez por opção, foram incapazes de seguir a trilha dos yuppies dos anos 80. Daí que passam dias, e noites, caçando no baú do tempo, causas ou bandeiras válidas para o século XXI.  Tudo isso na luta incessante para pagar o aluguel no fim do mês, comer além do miojo com ketchup e, a qualquer custo, ter o suficiente para se embriagar e assim sobreviver num universo paralelo onde todas as pequenas misérias da vida se desfazem.

A  personalidade de Maria Lucia se traçou logo no prefácio. Lá está o buraquinho da fechadura para espiar esta mulher que   “... é contraditória. É maluca. É cachaceira. É maconheira. É fogosa. É angustiada. É solitária. É viciada em internet. É uma filósofa. É atarantada. É a cara do nosso tempo”. O tempo das redes sociais. Maria Lúcia, na verdade,  não passa de uma tuiteira, neologismo da  rede social,  Twitter, que tolera amor, ódio, sexo, política, poesia, ensaios, monografias, merchandasing. Tudo em 140  caractéres. 


Com todas essas característica, é claro que Maria Lúcia é uma personagem que seduz, irrita, diverte, provoca. Tipo da pessoa que mesmo escondendo seu rosto na multidão, não consegue passar despercebida. E, fisicamente, é difícil não apreciá-la. Está entre 30 a 40 anos, diz seu biógrafo. Na capa do livro, ela não mostra o rosto porque ele é feito de mil, duas mil faces. Mas há seu corpo. Um  belo corpo de mulher. Esguia, longas e bem delineadas pernas, joelhos  inspiradores. Os sapatos, apesar de gastos, são de alguém que tem bom gosto, embora se vista de modo quase vulgar. Calma, não precisa chamar as patrulhas. Maria Lúcia não está de vestido colado, curto e cor-de-rosa comestível. Ela não consegue ser totalmente vulgar. Até nisso fica no limite.


Dispersa, essa personagem é desempregada ou, às vezes, subempregada. Seu maior obstáculo é responder um formulário burocrático para deslanchar sua profissão. Obviamente, num país acostumado às benesses do estado, sua profissão, mais ou menos indefinida, depende de recursos governamentais. Quantas pessoas você conhece assim? Diante da impossibilidade, Maria Lúcia vai sufocando sonhos. Passa pela extrema humilhação de voltar à casa dos pais que, seguem a fórmula da classe média brasileira. Ou seja, a mãe lhe sugere fazer concurso público. De fiscal. Ela quer apenas sair com sua câmera na mão atrás de uma idéia.


QUERO FAMA

Tão multifacateda é Maria Lúcia que podemos encontrá-la em em diferentes  perfis dos tuiteiros. Seu biográfo, fez uma verdadeira “operação pente-fino” entre os frequentadores de sua tela do computador. E ela, a exemplo de outras marias-lúcias, busca a fama em 140 toques . E confessa seu pecadilho:
“Arrisco um comentário num post de um jornalista conhecido. Cruzo os dedos enquanto espero a resposta. Não veio. Que vergonha. Queria mesmo era dar uma notícia quente...”

Nesse mundo de tuiteiros, há muitos que seguem a fórmula de Maria Lúcia, já profetizada por Andy Warhol. Fama quae sera tamen..Ou, por 15 minutos. Outros criam uma vida totalmente fictícia. Tuitam suas ilusões e terminam por acreditar nessa irrealidade talvez para fugir da aridez de suas próprias vidas. O Twitter tem sua biodiversidade. Há acadêmicos enfadados, curiosos anônimos, intimidades artificiais, encontro de velhos amigos e de novos amigos de infância e, principalmente, um dilúvio de informações. Até mesmo as úteis.

A edição do livro optou por uma diagramação (ai que saudades de ver uma página de jornal sendo diagramada!) que usa o símbolo @ para iniciar cada parágrafo. Até nisso, a biografia escrita  por esse jornalista, escritor e tuiteiro nos remete à vida do mundo virtual. Afinal de contas, o símbolo da arroba que há tempos tinha cheiro de naftalina,  vestiu roupa nova e se impôs ao mundo desde que o computador  se popularizou. Portanto, embora seja essencial para os tuiteiros, ela é entendida por qualquer pessoa que tenha acesso ao revolucionário mundo da internet.

Não sei se Lula Falcão, jornalista que aprendi a admirar exatamente nesse  universo etéreo tem consciência de ter escrito o primeiro manual psicanalítico  dos tuiteiros. Mas só sei que escrevi esse texto cheia de cuidados. Afinal de contas, tento analisar o livro de uma pessoa que tem um texto onde reúne profundidade, leveza, humor e ironia. Claro, tem um pouco mais de 140 caractéres. Por isso, apaguei. Ops! Deletei frases, reescrevi trechos. Enfim, suei num ambiente onde a temperatura está sempre a 22° C. Quase roendo as unhas, igual foca na sua primeira matéria de 15 linhas.


Mas chega de blablábla. Recomendo a leitura. E garanto que “Todo dia me atiro do térreo #tuiteira” vai fazer você se sentir totalmente normal. Só peço que quando terminarem de ler, me informem se Maria Lúcia é real.
P.S. Antes que me esqueça. A editora se chama BOOKESS

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ter amigos é tudo de bom!

por Katia Maia

Viajar é bom, mas viajar e ter amigos por perto é melhor ainda! Pela primeira vez na vida, fiz uma viagem internacional com meus filhos e tive por perto amigos para chamar de meus nos locais onde ficamos.


No quintal de Memélia

Não acho ruim viajar solta no mundo, sozinha, tendo que contar comigo mesma e seguir a minha própria vontade, mas confesso que foi maravilhoso estar perto de amigas nos locais por onde passei nessa empreitada pelos Estado Unidos.

Comidinhas saudáveis de Memélia
Não foi nada longo, não foi uma temporada, mas posso dizer que os momentos que passei na terra do Tio Sam foram sem dúvida mais agradáveis porque pude contar com a presença das queridas Memélia Moreira, em Orlando, e de Giuliana Morrone, em #NYC.

Falo agora de Orlando, onde pude conhecer o núcleo internacional do Café & Veneno. Foi uma experiência ímpar. Estar em terras estrangeiras e conhecer a cidade sob o olhar de quem mora lá é bem diferente do turismo que fazemos quando viajamos sozinhos.

Criamos certa identidade com o lugar. Sentimos que temos autonomia sobre o espaço e dominamos a área pelo simples fato de estarmos ali com alguém que conhecemos em uma cidade que nossos amigos conhecem.

Memélia e o marido Frank
E, olha, o núcleo internacional do Café & Veneno é bem acolhedor. Fomos recebidos – eu e meus filhos, portanto TRÊS pessoas – com uma atenção, uma delicadeza e uma harmonia que só encontramos em lugares onde sabemos que a afinidade e a felicidade acontecem.

Foi tudo tão tranqüilo que nos sentimos em casa. Tanto que meu filho mais novo – um admirador incondicional do futebol (até das partidas frustrantes de nossa seleção) conseguiu ver os (vergonhosos) jogos da seleção brasileira na Copa América durante nossa passagem por Orlando. Pode?

Pode! Desde que tenhamos amigos que se dispunham a nos receber em suas casas numa quarta-feira a noite ou num sábado à tarde. E foi exatamente isso que aconteceu.

Tudo isso, claro,  só foi possível porque tínhamos amigos na cidade. E quando falo amigos, me refiro à Memélia e ao Frank. Sentimo-nos queridos e acolhidos na casa dos dois e isso só significa uma coisa: amizade!

domingo, 10 de julho de 2011

Vida inteligente ou vidas estúpidas independem da Geografia.


A propósito da visita ao Museu Dali, na Flórida
Por Memélia Moreira
Os snobs podem até não acreditar mas, existe, sim, vida inteligente nos Estados Unidos. E, para a perplexidade do grupo, um clube multinacional, essa vida inteligente vai além dos muros de Harvard. E também não se concentra apenas em Boston, Manhattan, Chicago ou Los Angeles. Até porque vida inteligente (e também as estúpidas), independe da Geografia. Digo isso porque, uma vez, quase me inscrevi no Clube dos Snobs. Mas Elia Kazan, Louis Armstrong, T.S. Elliot e John Steinbeck seguraram meu braço quando me preparava para assinar a ficha de inscrição.
Fachada já evoca a obra de Dali
Feita a confissão desse flerte com o esnobismo posso lhes garantir que até mesmo na Flórida, que não figura no roteiro de produção intelectual, pode-se viver momentos de puro deleite para o espírito. Cito dois para não me estender: o concerto de carrilhões em Lake Wales e o novo Museu Dali, em Saint-Petersburg. Antes que me esqueça, o clube muitas vezes torce o nariz quando se fala em Dali."Muito comercial", pontuam. 
Memélia e o marido Frank
Mas é do novo Dali Museum que vou contar porque lá estive e me encantei. Desde a inuaguração, em janeiro deste ano, planejava passar um dia em Saint-Petersburg que fica a exatos 120 km de Kissimmee, onde vivo.
SAUDADES DA RÚSSIA 
Além de uma viagem agradável, em estradas que nem de longe parecem terem sido construídas ou conservadas pelo DNIT, Saint-Petersburg foi plantada numa penísula que divide a Baía de Tampa do Golfo do México e em dias de sol explode num azul-cobalto que só Van Gogh e Frida Kahlo seriam capazes de reproduzir.
Cadeira do Café do Museu
A cidade tem 135 anos e leva esse nome porque seu fundador, Kanie Vladiskoviuch morria de saudades de sua Saint-Petrsburg natal, lá nas margens do rio Neva, na distante e gelada Russia dos eternos czares. E, talvez por influência de sua homônima, que abriga o Ermitage, o maior museu do mundo, Saint-Pete, como é carinhosamente chamada, sempre que pode, cria mais um museu. Nos seus 344 km quadrados (parte deles sob água), há escolhas variadas.
O Museu de Belas-Artes, que reúne peças de arte pré-colombiana, peças greco-romanas e arte européia dos séculos XIX e XX. Há ainda o Museu do Holocausto, o Internacional da Flórida, com suas exposições itinerantes e objetos pessoais da família Kennedy (é, os Kennedy igual á maioria dos seus conterrâneos sonha em se aposentar e viver na Flórida. E tem propriedades em Miami, Saint-Pete e outros balneários). Há também um "Museu da Criança" contando sobre as grandes conquistas da humanidade, além de muitas galerias de arte. E agora, a mais recente jóia da coroa, o novo Dali Museum (o antigo foi fundado em 1982) que se orgulha de contar com a maior coleção do pintor catalão Salvador Dali, colega de escola e amigo de nada menos do que do poeta Federico Garcia Llorca.
SALA DE CONTEMPLAÇÃO
Por mais que busque um outro adjetivo para classificar a arquitetura do Museu Dali, a primeira palavra que me vem é "estonteante". Se você não quiser (ou não tiver) os 20 dólares para pagar a entrada não se preocupe. Circule pela área externa. Há um lindo jardim, mesinhas do restaurante com suas belas cadeiras em acrílico, o labrinto, baseado em desenho de Dali e.... o museu, cercado de palmeiras.
Da prancheta de Waymouth saíu a construção em forma de um trapézio de concreto envolto em uma camada ondulada de vidro e aço. Sua estrutura é capaz de resistir a um furacão de categoria cinco, o que tranquiliza o visitante.  Tudo isso debruçado sobre o mar.
No térreo (considerado primeiro andar), estão o restaurante e a lojinha que vende reproduções dos trabalhos de Salvador Dali, além de camisetas, bolsas e até o famoso relógio derretido. O mesmo relógio tão presente nas obras do artista, que até parece ser uma obssessão com o tempo.
Quem resiste a uma lojinha de Museu?
No segundo andar, a biblioteca e, seguindo-se pela escada em espiral, chega-se a Dali, no terceiro andar.
E aí, situam-se duas galerias. Do lado esquerdo da escadaria, as obras mais famosas e também outras nem tão conhecidas. À direita da espiral-escada a galeria com as mais variadas manifestações de arte desse gênio que mais que um pintor, fez experimentos nas diferentes artes visuais. Além da pintura (e escultura), filmes (entre eles, "Le Chien Andalou", com o amigo e também genial Luís Buñuel, e "Destino", com Walt Disney) e até holografia, onde retrata sua alma gêmea na música, Alice Cooper. Se vivesse hoje Dali seria web design e estaria em frente a um computador brincando com o Simbolismo, Cubismo, Pontilhismo, Dadaísmo, Surrealismo e outras correntes que marcaram seu talento.
Lembraça do Dia de Dali, já na casa de Memélia
Nas duas galerias pode-se escolher entre admirar as obras num grupo com um guia ou pegar um gravador digital que descreve os quadros. Se você estiver frente ao gigantesco "Descobrimento da América" e este for o número 26, você digita o 26 e ouve as explicações necessárias. 
Quando você pensa já esteve em todos ambientes eis que uma placa informa: "Sala de Contemplação". Opa! Lá dentro, apenas um extenso banco de concreto, nada mais. Em frente....o mar, a contemplação do infinito.
BIGODES DE VELAZQUEZ
Da obra de Salvador Dali, o quê mais há a dizer? Ela já foi dissecada pelos experts. Mas ao ver o conjunto e até seus estudos tive consciência de que ele foi profundamente violentado pela II Guerra Mundial. Seu trabalho pós-horrores trazem imagens em sombra dos Cavaleiros do apocalipse, corações sangrando, olhos em pânico.
Dali
Também é marcante seu fascínio por Velázquez, de quem copiou os bigodes e a quem homenageou no quadro "Velázquez pintando a princesa Margarida com as luzes e sombras de sua própria glória". ´
O nome desse quadro de homenagem foi outra característica que me chamou atenção. Salvador Dali devia ter pena dos pobres mortais iguais a mim que, muitas vezes, diante de um quadro surrealista tem absoluta certeza de que admiram a Esfinge. E a qualquer momento podem ouvir a terrível frase "Decifra-me ou Devoro-te". Seus quadros Os quadros são auto-explicativos, com títulos extensos. Ele mesmo decifra e você o devora.
Velasquez
E de todos eles, um me fez passar mais tempo em admiração: "O Burocrata Comum". Uma figura que parece humana, sem cérebro, sem coração, olho distorcido. É a própria imagem do burocrata, um homem sem sonhos, sem, sentimentos, olhar vazio, o oposto desse artista retratou os sonhos, o irreal e transformou a vida numa performance.

domingo, 3 de julho de 2011

Itamar e eu


por Memélia Moreira

Faz quase 20 anos, mas todos os detalhes continuam tão vivos que posso até contar uma história daquelas cronometradas, minuto por minuto. Talvez seja uma das mais inusitadas das muitas inusitadas experiências que já tive. E não tenho dúvidas ao dizer isso, claro. Afinal de contas, foi a primeira e única vez que me aconteceu uma aventura palaciana.

  Parafraseando Neruda: o homem é o seu topete
                              
Calma, mentes libidinosas. Não, não foi uma aventura amorosa. E se fosse, eu jamais estaria aqui, frente a um computador, a contar segredos. Jamais contaria a quem quer que fosse. Conversas de alcova merecem nascer e perecer entre lençóis. Seja com reis ou mendigos. É parte do código de elegância dos amores fugidios, dos amantes perenes, dos companheiros de vida. Mas, vamos ao que interessa.

A FLORESTA

A aventura começou com o massacre de garimpeiros contra os índios Yanomami na região conhecida por Haximu. Na época, todo o território Yanomami estava conflagrado por uma massiva invasão de 20 mil homens, escavando o chão, destruindo os pilares que sustentam a Terra.

Lá, onde Brasil e Venezuela compartilham florestas de beleza quase agressiva, montanhas erguidas qual castelos medievais e paredões que se parecem colunas de soldados prontos a defender as matas, se travava a batalha do último grande povo primitivo do planeta, os Yanomami, contra milhares de famintos de todo o Brasil em busca de uma pepita que lhes salvasse a vida.

Lá se chama Roraima, ou Roraimã, que na língua do povo de Makunaimã, os Makuxi, significa "terra dos ventos". Foi o que me ensinaram da terra onde nasci. O número de mortos, embora Aritmética seja uma ciência exata, é variável. Uns falam em 90, outros em 13, alguns dizem que chegou a 15. Mas o Supremo Tribunal federal reconheceu o massacre como ato genocida. E foi.  

Nunca, ou talvez só daqui a muitos anos, as ossadas descarnadas, com aquele branco ofuscante dos esqueletos determinem com exatidão quando, quantos e como morreram as vítimas do massacre de Haximu. Porque até mesmo a data precisa do massacre flutua a cada texto. A única informação certa é a de, que, sim, houve um massacre em Haximu e morreram muitos índios. Os demais fugiram apavorados.

A notícia chegou ao Brasil (é isso sim, de Roraima para o Brasil, acredito, a notícia pode durar mais de dez dias, mesmo na era dos MSN, Google Earth, smartphones e outros quetais) nos primeiros dias de julho. E foi aquele estupor de sempre. O estupor de uma sociedade que, ao se olhar no espelho entra em choque. Ela enxerga, sem máscaras, toda a monstruosidade de que é capaz de perpetrar em nome de uma discriminação que nega, mas está presente a cada movimento do corpo.

O choque foi tão forte que não hesitamos avançar, dedo em riste, em direção aos garimpeiros. E, com ar de desprezo, apontá-los como únicos responsáveis pela ocupação fundiária desordenada de uma Amazônia sem lei, mas com sobas e reis atrás de cada árvore, ou restos de árvore.

O massacre tomou vulto e se espalhou pela comunidade internacional, essa entidade mítica que cria verdadeiros marimbondos de fogo no estômago de cada autoridade. É quando o sentimento do colonizado se aflora em carne viva. “O que é que o patrão vai pensar de mim” fantasiam presidentes, senadores, ministros, se não tiverem uma resposta aos colonizadores. Sim, todos eles, sem exceção, comportam-se como meninos do grupo escolar em dia de visita do diretor da escola. Do suor de seus rostos as gotas pingam formando interrogações nos ladrilhos, assoalhos, chão batido. O que será que eles (os estrangeiros, os colonizadores, claro) vão pensar de nós, brasileiros? Essa mentalidade só muda de quatro em quatro anos, quando entramos num campo de futebol, com o coração aos saltos e a certeza da resposta nos pés. Mas chega de poesia, blablabla, nariz de cera.

O massacre caiu bem na sala do procurador geral da República, Aristides Junqueira Alvarenga, a quem eu assessorava, caíu do lustre do Salão Oval do Palácio do Planalto, onde o presidente se reunia com seus pares, caíu feito bola de fogo no gabinete do ministro da Justiça, um pacato advogado, apreciador de um bom malte, derrubou paredes da Funai e e foi fazendo seus estragos em direçao a todas as fronteiras.

Daí a pouco, o mundo inteiro congestionou as linhas telefonicas do Brasil. Houve um massacre! "Eine Massaker"… gritavam os alemães ao telefone, quase felizes por não carregarem, sózinhos, o carimbo de genocidas. "Les chercheurs d´or ont tué des dizaines d´indiens", murmuravam franceses como se cada vírgula fosse um segredo da Linha Maginot.
A mesma imprensa que, desde 1989, acompanhando a evolução dos acontecimentos na área e ouvindo seus colegas brasileiros, feito pitonisa, anunciara a fermentação do caldo que borbulhava numa panela onde foram jogados todos os problemas da contínua desordem agrária e da pobreza brasileira  e que, deliravam as autoridades, deveriam se resolver dentro de um buraco, nas profundezas da terra, de preferência, longe de Brasília, do sul-sudeste maravilha. E, se fosse um buraco com ouro, diamante, tungstênio, urânio, era ainda melhor.

A COBRANÇA INTERNACIONAL

Em meio à loucura, à algaravia de línguas tão exóticas quanto o croata e o polonês, coreano (ou será que todos falavam inglês e eu só ouvia com os olhos?), organizava a viagem do chefe, euqnato coleguinhas sôfregos por um detalhe a mais, mesmo que fosse uma gota de sangue, circulavam pela sala. O procurador geral da República e o ministro da Justiça embarcararam para Roraima. Dar uma resposta internacional e pedir trégua, era o objetivo maior. Mais uma trégua que permitisse a sobrevivência do povo Yanomami.

Voltaram no mesmo dia. No outro, o presidente da República, no uso de suas inequívocas atribuições, convocou um Conselho. A República se reuniria. Precisava dizer para esses “malditos estrangeiros” que vivem xeretando nossas insanidades que tudo estava sob controle, tudo continuava nas mãos firmes do comadante em chefe do país e das Forças Armadas, do clero, dos doleiros, dos líderes políticos, do narcotráfico, da soceidade civil organizada, desorganizada e do povo em geral.

Acompanhei meu chefe e me sentei numa poltrona de uma saleta vazia, sem secretária, mas com um telefone. E lá ficaria o tempo necessário, esperando ser acionada pelo procurador geral que já fora para a grande sala de reuniões do Palácio do Planalto. Puxei da bolsa o companheiro de todas as horas. Na época era "Nostromo", de Joseph Conrad. E me embrenhei nas palavras.

UM PRESIDENTE

Nesse momento, na sala vazia, entre um homem apressado, me pega pelo braço e diz: "estamos atrasados". Eu, que nem tive tempo de explodir minha surpresa, me deixei levar. E não poderia ter sido difrente. A mão que me arrastava com delicadeza era a do presidente da República do meu país. Fui. Docilmente.
 À porta da sala de reuniões, ele para e me pergunta: que é que você está fazendo aquI? Por que ainda não procurou sua cadeira. Como assim?, pensei. Ele deve está me confundindo. Será que bebeu, se drogou. Obedeci. Arrumei uma cadeira bem atrás do meu chefe que acompanhava a cena sem entender o diálogo dos personagens.

Informes foram dados, sugestões, ranger de dentes, comandantes militares vociferavam pedindo mais recursos, parecia que iam sair aos  tapas. Eu, muda, assustada, quieta, com o coração numa montanha russa. Nada. Passa-se o tempo, falam, falam. Bem mais de duas horas, três e, depois, batem na mesa unanimente. A solução iluminara a sala. Acabavam de criar o Ministério Extraordinário para Articulação de Ações na Amazônia Legal. Um ministério com nome e sobrenome. Assim, sem qualquer pudor. Na minha frente. A reunião se dissolve. Os carros pretos rodam o caminho de volta.

PARA SEMPRE

O presidente, então, na maior gentiliza, como se minha opinião fosse decisiva, me perguntou: "E aí, gostou do resultado?”. Na sinceridade que salta de minha boca de forma descontrolada, antes mesmo de passar pelo esmerilho, respondi “não, não gostei. Não precisava de um Ministério da Amazônia. Precisa só usar a lei. Ela existe".

Estava corada, morta de vergonha, mas a observação já tinha ganhado corpo independente e falava quase sozinha. O presidente pegou os papéis um tanto amassados e disse  “na próxima, você bate o pé, reclama". O que? Não houve próxima e, ainda em dúvidas sobre tudo o que acontecera naquela manhã, agradeci com a voz mais suave que pude encontrar dentro de mim. "Presidente Itamar, obrigada. Foi uma aula". E ele, “Claro você nos inspirou".
E já não era o presidente Itamar Cautiero Franco. Era o sempre galante cidadão Itamar Franco usando não mais uma atribuição constitucional e sim seu mais conhecido atributo, a galanteria. Sempre educada e sedutora.
Adeus, Presidente! Obrigada, presidente Itamar. Foi uma aula

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ovos fritos na banha de porco para um pistoleiro...O nome dele? Perfumado

por Memélia Moreira
 
O chão de terra batida vibrava sob os passos dos manifestantes. Num espaço que só por uma licença poética poderia ser chamada de “praça” o palanque armado para os discursos de figuras que naquele longínquo ano de 1991 eram a tradução de todas as esperanças de um Brasil sonhado por muitos.

Ali estavam um metalúrgico chamado simplesmente de Lula, representantes da Ordem dos Advogados da França, vários parlamentares, entre eles o deputado José Genoíno, que anos antes, naquela mesma região pegara em armas para lutar contra as opressões, artistas de televisão, bispos e dois heróicos religiosos, padre Ricardo Rezende e o dominicano francês Henry des Rozièrs, os dois jurados de morte por todos os fazendeiros do sul do Pará e norte do Tocantins. Homens que mereciam integrar a galeria de heróis da pátria.



Rio Maria (PA): Nos arredores desse paraíso correu e ainda corre muito sangue
                                         
Estávamos em Rio Maria, onde a terra exala sangue da resistência camponesa na luta pela Reforma Agrária. Três meses antes dessa manifestação, em dois de fevereiro mais um sindicalista fora  assassinado. Com tiros suficientes pra matar um pelotão, Expedito Ribeiro de Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, que anos antes servira de apoio para a guerrilha do Araguaia foi morto pelo pistoleiro João Serafim Sales, vulgo ‘Barreirito”, a soldo do fazendeiro Jerônimo Alves de Souza. E naquela tarde, em Rio Maria, três mil pessoas gritavam “chega de impunidade”.

Os discursos se sucediam quando Padre Ricardo me chamou num canto. Voz calma mesmo sabendo estar sob a mira de tantos matadors de aluguel, ele me diz que no meio da multidão, sob uma árvore que se debruçava fazendo sombra no fundo da praça havia um pistoleiro. Era conhecido pelo apelido de “Perfumado”.

Padre Ricardo temia provocações e pediu minha ajuda para neutralizer a perigosa figura.
Desci do palanque com minha agenda de anotações. Já não trabalhava mais em jornais. Era assessora do procurador geral da República e fui a Rio Maria acompanhar dois outros procuradores. Caneta em punho, assumi a função de repórter, da qual nunca me afastei. Conversei com duas ou três pessoas ao redor do pistoleiro, fingindo entrevistá-las. E me aproximei do alvo. Antes, pedi ao pessoal da TV dos Trabalhadores que fossem comigo. Expliquei-lhes a situação e eles fingiram filmar. Fiz a aproximação. E localizei dois revólveres. Um no cinto da calça e outro na meia. Os dois do lado direito.
 
"Trabalho por empreitada"

O pistoleiro cheirava à distância. Deve ter despejado um galão de perfume barato por todo o corpo. Pra quem gosta de Chanel nº 5 e Montana era um atentado ao olfato. Senti náuseas. Mas, eu assumira o compromisso de afastar “seu” Perfumado da manifestação. Estava em missão. Controlei meus medos e preconceitos. Antes de tudo, me apresentei. Ele olhou com desconfiança. E elogiei seu perfume.

Ele abriu o sorriso lisonjeado, feliz. Bêbado, sequer prestou atenção ao nome com o qual me apresentei (em situações de emergência, crio na hora nome e sobrenome. Naquele dia eu me chamava Glória Pimenta). Conversamos um pouco e lhe perguntei se podia me dar uma entrevista para o “Jornal do Povo”, nome do jornal mantido por minha família em São Luis e fechado pelo golpe militar de 1964. Mais feliz ainda, ele concordou.

Fiz as perguntas clássicas de identificação: nome, idade, profissão. Profissão? “Trabalho de empreitada moça”. Não aprofundei sobre que tipo de empreitada ele aceitava. No sul do Pará, onde naquela época os únicos artigos da lei eram o 38 e o 45, calibres mais comuns usados pelos matadores, trabalho de empreitada inclui também a pistolagem.

Volta e meia ele parava de responder e prestava atenção nos discursos. Rosnava baixinho. E indagava “a moça é amigo desse pessoal?” Não, sou jornalista. Já não sabendo mais o quê lhe perguntar, disse que estava com sede e o convidei a beber alguma coisa. Foi quando ele me testou. Gosta de cachaça. Disse que “só da boa”. E resolveu me pagar um trago. Tomei de um gole para lhe mostrar que também era uma “profissional”.

Ele se animou e passou a contar vantagens, que era bom de tiro, que não errava o alvo nem depois de uma garrafa de cinco litros de vinho ‘Chapinha”, que as mulheres da cidade eram “doidinhas pelo seu criado aqui” e, que estava com fome. Ofereci lhe pagar um sanduíche ali mesmo. “Não, a moça vai lá em casa. Vamos comer ovos fritos porque eu preciso ficar forte, o comício ainda não acabou”.

A casa ficava afastada, longe da praça onde estavam todos os meus amigos, a minha segurança. A essa altura o pânico sucedeu o medo. Entrar na casa de um homem desconhecido, bêbado e, além de tudo, pistoleiro, sem capacete colete à prova de balas era insanidade. Mas, não havia alternativas. Naquele momento ultrapassei a barreira da insensatez. Fui.
 
BENDITA REDE
 
Pelo caminho, para disfarçar o desconforto, demonstrar naturalidade, perguntei se ele preferia ovos com manteiga. Não. Manteiga não tem gosto. Bom é banha de porco. Urgh! Engoli em seco. Mas, vamos lá. Banha de porco, naquele momento era o quê menos me incomodava.

Chegamos numa pequena casa. A construção de tão desajeitada, parecia um dromedário. Mesa, dois bancos e uma rede. Sala, cozinha e quarto no mesmo espaço. Perfumado remexeu debaixo da cama e tirou um fogareiro de acampamento. A panela era uma frigideira de latão. Ele abriu a garrafa de vinho (vinho?), procurou um copo e me serviu. Era o único copo. Ele bebia na boca da garrafa. Felizmente a casa era de barro e pouco iluminada. Despejava meu copo de vinho na parede sem chamar atenção.

Quando ele pegou os ovos dentro de uma cesta sobre a mesa, não tive dúvidas. Seu Perfumado, vou ficar ofendida se não fritar esses ovos. Foi então que percebi que ele começava a ficar insconsciente com a bebida. Ufa! Ele, não discutiu, me entregou os ovos e disse que ia esperar na rede. Quase me ajoelhei para agradecer os dois santos a quem sempre recorro. Quebrei um ovo para fazer barulho e ele começou a cochilar.

Quebrei outro ovo e chamei, “Seu Perfumado, os ovos estão fritos”. Não houve resposta. “Seu Perfumado, os ovos estão fritos”. Novo silêncio. Tirei o sapato para poder correr pelo chão de terra de Rio Maria. Cheguei à histórica manifestação – a primeira acontecida no município – ainda em tempo de ouvir a estrela maior do comício dizer que o Brasil só conheceria Justiça quando se fizesse Reforma Agrária. Eram as palavras finais do então metalúrgico Lula, que mais de dez anos depois foi eleito presidente da República.
De seu Perfumado, não tive mais notícias.

O pistoleiro João Serafim Sales, matador de Expedito, foi condenado, fugiu da prisão em Marabá e, já no século XXI,  capturado pela Interpol em Boston, nos Estados Unidos, depois de ser reconhecido por migrantes brasileiros. Jerônimo Alves Amorim, o mandante do crime tornou-se o terceiro fazendeiro, em todo o País, a ser condenado pelo assassinato de um líder camponês na luta da  Reforma Agrária. O dois primeiros foram Vantuir de Paula e Adilson Laranjeira, mandantes da morte de João Canuto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria a quem Expedito sucedeu e que tombou com 119 tiros em 18 dezembro de 1985.

E eu até hoje não sei que gosto tem ovos fritos em gordura de porco.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ABBOTTABAD NO MAPA-MUNDI

por Memélia Moreira


Talvez eu devesse assinar esse post. Mas, mas acho melhor que ele seja aspeado e eu entre na história apenas como "organizadora". Assim, estou sendo mais honesta.
 
Trata-se dos 140 caracteres escritos há pouco mais de 15 horas, desde que helicópteros de bandeira dos EUA pararam sobre um casario em Abbottabad numa operação militar que teve como único objetivo matar o ex-mujadinajed Osama bin Laden. Era o homem que vinha atormentando os serviços de segurança dos Estados Unidos desde 1994 e se tornou pop a partir do atentado contra o World Trade Center, em 9 de setembro de 2001, quando se tornou então o grande bicho-papão da sociedade ocidental..


Located at a height of 4,120 feet (1256 m) above sea level, and 100 kilometres from Rawalpindi, Abbottabad is one of the most scenic and beautiful cities of Pakistan. Surrounded by pine abundant mountains and refreshing green hills of Sarban, it is one of the best-known hill resorts of Pakistan. The romantic weather of Abbottabad attracts thousands of visitors each year. The city was  once called "The City of the Maple Tree", for its large Maple trees that lines the road sides, but were sacrificed for the sake of widening the roads. Allama Iqbal wrote his famous poem "abr" (cloud) , when he visited Abbottabad in 1904 and got inspired by the beauty and grandeur of Abbottabad.

Os twitters que se seguem são do cidadão paquistanês Sohaib Athar que, com faro de repórter, narra os momentos finais da carreira de Bin Laden. Deixei twitters que não dizem respeito à operação em si, mas às preocupações desse cidadão para mostrar que ele é uma pessoa comum, igual a nós todos. Com capacidade também para se indignar com a overdose de informações sobre o casamento do príncipe William, por exemplo e que transborda de impaciência com a política dos Estados Unidos e seus adversários imediatos. Sohaib é não mais que um fugitivo da insanidade.
 
Sohaib é apenas mais uma demonstração de que as novas tecnologias conspiram em favor da circulação de informações. Não há mais monopólio e isso é bom porque os monopólios só interessam aos totalitarismos de qualquer bandeira. Não é o fim do Jornalismo. Apenas uma nova e rica era à qual nos foi dado o privilégio de viver.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
I guess I should unsubscribe from the #abbottabad search on twitter before it kills my machine. Leave Abbottabad alone, Osama and Obama...
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed so, not that hard anymore I guess?
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Wondering what would be the right music to play in the coffee shop today...
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
RT @ISuckBigTime: Osama Bin Laden killed in Abbottabad, Pakistan.: ISI has confirmed it << Uh oh, there goes the neighborhood :-/
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
I guess Abbottabad is going to get as crowded as the Lahore that I left behind for some peace and quiet. *sigh*
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed I think I should take out my big blower to blow the fog of war away and see the clearer picture.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed Well, there were at least two copters last night, I heard one but a friend heard two, for 15-20 minutes.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Report from a sweeper: A family also died in the crash, and one of the helicopter riders got away and is now being searched for.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed True, but stranger things have happened. I just hope they don't find my giant helicopter swatter. Must hide it :-/
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@ahmedbilal @kursed Sadly. We should start learning how to spread believable stories and recreate a reality that suits us.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed Another rumor: two copters that followed the crashed one were foreign Cobras - and got away
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@kursed What really happened doesn't matter if there is an official story behind it that 99.999% of the world would believe
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Report from a taxi driver: The army has cordoned off the crash area and is conducting door-to-door search in the surrounding
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Munzir Naqvi
naqvi Munzir Naqvi
by ReallyVirtual
I think the helicopter crash in Abbottabad, Pakistan and the President Obama breaking news address are connected.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Interesting rumors in the otherwise uneventful Abbottabad air today
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Ibrar Ali
ibi2010 Ibrar Ali
by ReallyVirtual
1 dead and 1 injured in Abbottabad for heli crashed
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@raihak The day there is uninterrupted electricity in Lahore for a whole month, I will start packing my bags, until then, Abbottabad is home
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
And now, a plane flying over Abbottabad...
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
and now I feel I must apologize to the pilot about the swatter tweets :-/


by ReallyVirtual
The Major also says no "missiles" were fired and all such exaggerated reports are nothing but rumours #Pakistan



by ReallyVirtual
A Major of the #Pakistan #Army's 19 FF, Platoon CO says incident at #Abbottabad where #helicopter crashed is accidental and not an "attack"
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Two helicpoters, one down, could actually be the training accident scenario they're saying it was >> http://bit.ly/ioGE6O
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Here's the location of the Abbottabad crash according to some people >>> http://on.fb.me/khjf34
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@smedica 'safer' is a relative term that has lost its meaning in Pakistan
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@smedica I live near Jalal Baba Auditorium
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@smedica It must have been more, I started noticing the helicpoter when the noise got irritating - which part of Abbottabd are you in?
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@tahirakram very likely - but it was too noisy to be a spy craft, or, a very poor spy craft it was.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@smedica people are saying it was not a technical fault and it was shot down. I heard it CIRCLE 3-4 times above, sounded purposeful.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@wqs figures, if they have the right to shoot planes flying over the president house, the must have the same instructions for PMA
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
The abbottabad helicopter/UFO was shot down near the Bilal Town area, and there's report of a flash. People saying it could be a drone.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@tahirakram they're not saying anything
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@
@kashaziz technically, it is unidentified until identified, and it is a flying object, so year, why the hell not, we have seen weirder stuff
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@tahirakram yea. *hides his giant swatter*
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@raihak yep, the mad power cuts have reached abbottabad - 14 hours daily - luckily I have a generator AND a UPS at the coffee shop
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Since taliban (probably) don't have helicpoters, and since they're saying it was not "ours", so must be a complicated situation #abbottabad
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@raihak Funny, moving to Abbottabad was part of the 'being safe' strategy
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@raihak I try, man, I try
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Hania Ahmed
han3yy Hania Ahmed
by ReallyVirtual
OMG :S Bomb Blasts in Abbottabad.. I hope everyone is fine :(
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@m0hcin the few people online at this time of the night are saying one of the copters was not Pakistani...
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@m0hcin http://bit.ly/ljB6p6 seems like my giant swatter worked !
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@m0hcin all silent after the blast, but a friend heard it 6 km away too... the helicopter is gone too.
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
A huge window shaking bang here in Abbottabad Cantt. I hope its not the start of something nasty :-S
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Go away helicopter - before I take out my giant swatter :-/
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Helicopter hovering above Abbottabad at 1AM (is a rare event).
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
18 hours per day is not loadshedding, it is a load of bullshit :-(
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Why are the Pakistani subjects so happy about seriously, our rulers take us through what comes after a 'royal wedding' every other day ...
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Abbottabad had power for 6/24 hours or so today, still waiting for the power brokers to have pity on us :-\
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@aem76us what is this 1947 which you speak of?
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@raihak I am following the whole jungle actually
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
@sharjeelq I am sure the answer lies in a hastily clicked 'I agree' TOS button :-)
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Sohaib Athar
ReallyVirtual Sohaib Athar
Why are the pakistani twerps talking about a royal wedding? Is it HRH papa zardari, or baby Bhutto who is getting married? * confused *