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segunda-feira, 4 de julho de 2011

De segredos e saudades

Uma história bem contada


Cesar Valente


Uma história bem contada é combustível para a alma. Desde, é claro, que o ouvinte, leitor, espectador, tenha por hábito escancarar as janelas... da alma, ao ouvir, ver, ler, assistir. O filme "Meia noite em Paris", de Woody Allen, é uma dessas histórias bem contadas. E acredito que muitos dos espectadores saem do cinema com a alma em chamas, o peito aquecido e a imaginação voando à velocidade da luz.



As boas histórias, quando contadas com habilidade, nem precisam ser muito complicadas. A ideia do filme, no fundo, é bem simples: um escritor (que poderia ser qualquer pessoa com um nível cultural razoável) refugia-se em outra época e lá encontra os personagens que deram, àquela época, a reputação charmosa que tem. E assim como a grama do vizinho é sempre mais verde, em geral achamos que aquilo que não vivemos, porque ocorreu antes de nós, deve ser mais interessante.


A partir daí, o cinema do velho mestre nos envolve, num espetáculo que é puro entretenimento e faz a delícia dos sentidos. E tal como aqueles filmes que assistíamos quando muito jovens, nas matinês dos cinemas de rua (que hoje são templos evangélicos), é impossível não sair do cinema pensando no que vimos (vivemos?). E imaginando como seria se, em vez do americano aquele, o personagem principal fosse... eu. E quem seriam as mocinhas?

Não tem quem não tenha pensado em voltar no tempo. É um sonho recorrente na vida, na literatura, no cinema, em todo lugar. Nem que fossem apenas algumas décadas. E é impossível parar de pensar nisso, ainda mais depois de ter visto, há pouco tempo, o "Meia noite em Paris".



Sempre que a gente fala em como Florianópolis (ou qualquer outra cidade) era divertida na década de 1970, ou como parecia animada na década de 1920, quando a majestosa ponte de aço foi construída, está embarcando na mesma canoa em que Woody Allen nos conduz Paris adentro. E sempre que a gente sonha em poder encontrar novamente (ou pela primeira vez) alguém no passado, talvez para poder dizer alguma coisa diferente, ou roubar o beijo que faltou e que nos atormenta a vida inteira, acaba chegando à beira daquele precipício horroroso que é a nossa mortalidade, de onde só se pode escapar usando a imaginação. Navegando nas asas das histórias bem contadas.

Nota da Editora:

Achei o recadinho do César Valete que acompanhou o texto acima tão delicioso, que o compartilho com os amigos leitores deste blog:

Bom dia, Clara:
abaixo, pequena resenha sobre o filme aquele, que vou publicar amanhã na minha coluna de papel. Como se trata de coisa rápida, sem tratar dos segredos que o passado sempre protege, talvez nem sirva para o blog (faltou o veneno). Mas é um pouco mais do que a gente consegue dizer no tuíter.

Com isso, Clara, ficas abastecida até que Carmensita e eu voltemos da nossa viagem e possamos revelar o que vimos. É claro que não iremos contar tudo, até porque tem coisas que a gente vive, sente e experimenta que, se colocadas "no papel" perdem tanto, que talvez nem valha a pena tentar. Mas pode deixar que arranjaremos alguma historinha mais saborosa para saciar tua curiosidade. Nem que a gente tenha que inventar.


Abs e bjs


Cesar

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Paris de Wood Allen e o deserto de Bertolucci, espaços de miragens

por Clara Favilla

Depois de assistir e ruminar sobre Meia-noite em Paris de Wood Allen, não consegui deixar de estabelecer paralelos com um dos filmes que mais amo e que não me canso de rever: O céu  que nos protege, de Bertolucci. Alguns rirão do que estou dizendo. Mas, acompanhem meu raciocínio. Não é tão louco assim!

Nos dois filmes estamos falando de viagem não é mesmo? Viagem pelo mundo físico, para dentro de nós mesmos, de nossas fantasias, do nosso imaginário que só é importante  nos contatos possíveis com o imaginário dos nossos semelhantes, esses seres que coabitam o Planeta Terra, tão desconhecido  quanto o universo que nos rodeia. Se há mesmo um universo nos rodeando...


Pode ser tudo uma ilusão de ótica! Me perco em leituras sobre o universo: origem, formação e futuro. Uns dizem que é infinito. outros que é muito, muito menor do que imaginamos; que as bilhões de galáxias são apenas projeções infinitas sobre a tela do espaço/tempo que podemos perceber a partir das limitadas habilidades que temos e dos instrumentos que contruímos.

A Ciência não é afirmativa. Afirmações pertencem ao terreno da Fé. Aí são outros quinhentos. Em questão de fé, sou uma nulidade. Dizem que há um gene específico  que define as pessoas como crédulas (no bom sentido) ou em eterna dúvida.  Pertenço ao segundo grupo. Lamentavelmente. Admiro as pessoas de Fé. 

Mas tenho um ponto a meu favor, acho. Entendo que a transcedência  para o que for além do que somos aqui neste mundo, não se faz sobre ou sob as asas da Fé. Só desapego. Epa! tem gente que acha mais difícil desapegar-se do que ter fé no Juízo Final, Ressurreição dos Mortos, na Vida Eterna, Amém.  Então deixemos essas considerações para lá. Voltemos aos filmes.




Paris e o deserto são mitos. São espaços de miragens. Por isso, o paraleo entre o filme de Wood Allen e o de Bertolucci.  E em espaços assim, somos outra pessoa. Falamos diferente. Nos comunicamos diferente conosco e com quem nos é próximo ou distante. Perdemos referências e ganhamos outras.

Digo que viajar é se permitir um estado alterado de consciência que se dá como magia, sem qualquer aditivo: alcool ou qualquer outra droga. Não falo aqui de quem viaja com malas vazias e fazem roteiros de compras. Nada contra. Apenas não tenho tempo para isso quando viajo. E vou ser bem sincera: nem dinheiro.

Geralmente nem volto com a mesma mala da ida, mas com uma menor.E na bagagem de mão algum tesouro: um desenho, uma pequena escultura... Quando a viagem é longa, vou deixando roupas e sapatos pelo caminho. O sapato mais confortável do mundo pode machucar se você anda dez horas por dia. Melhor  trocar de modelo de vez em quando.  Se estamos no verão, é mais barato comprar uma camiseta nova do que mandar lavar a suja.

Viagens são assim. Despimos literal e metaforicamente do que somos. Nos transformamos. Não se preocupem, a rotina depois  nos endurecerá de novo. A não ser que estejamos sempre em movimento, mesmo  quando catatônicos, engessados pelas dificuldades diárias. Afinal, não é preciso de trem, ônibus, avião, de andar ou "fumar" pra se viajar.

Bem, o post está enorme e não fiz os paralelos que pretendia entre os filmes de Allen e do Bertolucci. Posso voltar ao assunto. Mas quero terminar lembrando Cervantes: A vida é o que se vive acordado ou o que se vive em sonho? O que é estar desperto? Ou que estar em estado de sonho?  Aí a chave dos dois filmes.