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segunda-feira, 7 de março de 2011

Coisas estranhas acontecem no Maranhão e nem todas atendem pelos nomes da família Sarney...

por Ruth Simões

Podia ter acontecido em Goiás, na Bahia, no Pará ou até no Rio Grande do Sul, mas tinha que ser no Brasil. E a cidade premiada foi a longínqua São José de Ribamar, no Maranhão. Longínqua para nós que estamos aqui no Planalto Central. A maranhense São José de Ribamar faz parte da região metropolitana de São Luís, e é a terceira cidade do estado em população. Os 162 mil 925 moradores (Censo 2010 do IBGE) precisam caminhar só 32 quilômetros até a capital. Mas os moradores da capital, das cidades vizinhas e até de outros estados brasileiros é que têm visitado o pacato município na tentativa de entender o mistério.  

Fotogênico e saudável que só!
                                      
Dona Maria Rodrigues de Aguiar Farias nunca imaginou o que vinha pela frente quando plantou uma inocente semente de maracujá que ganhou de sua filha. Foi só para aproveitar a semente mesmo! Ela nem acreditou que a planta vingasse... Tanto que plantou o maracujá num balde. Mas a planta vingou. Ficou forte, frondosa e logo foi transplantada para a terra. Quase dois anos depois, em janeiro deste ano, a dona de casa maranhense de 53 anos saiu de casa para ir ao mercado e não acreditou no que via. O pé de maracujá exibia um enorme e brilhante fruto no formato exato do órgão sexual masculino. Ela duvidou. Esfregou os olhos, chegou mais perto, esfregou os olhos de novo... Chamou a vizinha. É isso mesmo, disse a amiga, também estarrecida. Elas só olharam; pegar na fruta ninguém queria. A notícia correu a cidade. Dentro de pouco tempo, muita gente já tinha ido no quintal da dona Maria para ver o maracujá. Ninguém duvidava mais: era um verdadeiro símbolo fálico em forma de maracujá... 
                                      
Dona Maria não parece muito feliz com a fruta!
                                   
                                           
As duas irmãs solteironas que moravam dois quarteirões à frente também ficaram sabendo. Elas saíram de madrugada para ver o tal maracujá. Passinhos pequenos, olhares desconfiados, lá iam as duas rezando para não encontrar nenhum conhecido. Mas o plano não deu certo! Antes das cinco da manhã o terreno já estava lotado. Elas cumprimentaram o pessoal de longe e resolveram fazer de conta que estavam indo mais cedo para a Igreja. Ainda tentaram um olhar de soslaio; mas estava escuro e não viram nada. 


A sorte das irmãs é que a Igreja já estava aberta. Esperaram quase duas horas para assistir à primeira Missa. Enquanto esperavam, cochichavam: deu pra ver alguma coisa, perguntou uma? Nada, respondeu a outra. "Seu Firmino estava perto, se eu olhasse muito ele ia perceber". "Não se importe, minha irmã, nós ainda vamos ver esse maracujá bem de perto. Talvez até tocar nele"... Com essa promessa, as duas se conformaram. E aproveitaram para rezar bastante, pois se sentiam culpadas pela curiosidade. 

No dia seguinte, já não era um. A planta da dona Maria tinha vários maracujás. Todos com o mesmo formato. Falos tão perfeitos que poderiam ser confundidos até pela pessoa mais experiente. Vendo que o movimento aumentava, a dona de casa resolveu ganhar um trocado. Afinal, deve ter sido para isso que esse maracujá nasceu aqui, pensava. E começou a cobrar R$ 2,00 de cada visitante. Apenas com direito a olhar. "Apalpar não pode". Para fotografar o pé de maracujá, o interessado paga R$ 15,00. A filmagem custa R$ 20,00. 

Um morador da cidade que faz as vezes de marqueteiro apareceu por lá. "Dona Maria, disse ele, a senhora está cobrando muito barato pela visita. Vamos aumentar o preço para R$ 20,00". "E se a pessoa quiser pegar no fruto o preço é R$ 50,00, sem direito a arrancar o maracujá do pé", completou. Do alto da sua simplicidade, dona Maria derrubou a pretensão: "Marquinhos, 'cê' acha que esse povo daqui vai pagar isso tudo só pra ver o maracujá? Vai nada... Eu vou é garantir o dinheirinho de fazer a feira."
Acontecimento foi prato cheio pro Carnaval!
                                           

Saiu numa agência de notícias e, aí, era tarde demais. A notícia correu o país. Todo mundo ficou sabendo do maracujá que tem a forma exata do aparelho genital masculino, com riqueza e grandeza de detalhes. Saiu até foto do pé, impressionando a todos. Pesquisadores da Embrapa decidiram fazer um estudo para saber se o maracujá sofreu alguma mutação genética. Para eles, má formação do fruto é a hipótese menos provável. E as irmãs solteironas, que até hoje não conseguiram chegar perto do pé de maracujá, concordam com eles. Entre si, elas dizem que a espécie tem "é uma boa formação", isso sim. E terminam a frase com um risinho malicioso. 
    
Enquanto o estudo não sai, tem gente em várias partes do Brasil organizando excursão para visitar o pé de maracujá da dona Maria, em São José de Ribamar. E o "Amigos do Pânico" - bloco carnavalesco tradicional da cidade, que até trio elétrico tem - este ano mudou o nome para "Maracujá do Pânico" e mandou fazer abadás. A roupa do bloco, nos moldes dos melhores trios do país, está sendo vendida por R$ 15,00. Na última hora, mais de três mil pessoas resolveram sair no bloco, que desfila no dia 12 de março. É, o maracujá fálico está movimentando a economia de São José de Ribamar. E dona Maria ainda não sabe se assina a autorização para a pesquisa da Embrapa...

A vida imita a arte: na novela Pedra sobre Pedra (1992), de Sílvio de Abreu, nasceu um pé de antúrio branco sobre o túmulo do sedutor fotógrafo Jorge Tadeu (papel de Fábio Junior). A planta tinha poderes sexuais mágicos sobre as mulheres que comessem a flor... Já o maracujá, pelo que se sabe, até hoje ninguém comeu... 

terça-feira, 1 de março de 2011

Meu inglês too short não me impediu de sentir a emoção vibrando no Discurso do Rei Colin Firth

 Volta pro meu sofá, seu lindo!!
Por Ruth Simões

Adoro cinema, mas não sou muito ligada nessas festas do Oscar. Acho aquilo tudo tão pasteurizado! Coisa de americano, como o queijo dos sanduíches McDonalds, a comida semipronta, as pessoas tão parecidas mas tão isoladas em seus mundos. Isso é como vejo, à distância. Não conheço os Estados Unidos. No meu tempo (de adolescente), era chique dizer "ah, eu detesto coisa de americano"... E, assim, cheguei até aqui imune ao sonho e ao fascínio da América do Norte. E falando (sem falar) um inglês "short" rs. Mas short curto mesmo, rs. Disso me arrependo!


 Não precisa rezar, já tô chegando!!!


Mas não é dos americanos nem do Oscar que quero falar. Não tenho conhecimento técnico para isso. Quero falar de sentimento. Ou melhor, quero falar da manifestação do sentimento. Quero falar, principalmente, do que não se diz. Acabada a premiação do Oscar, li no Twitter comentários de pessoas se queixando de que houve pouca emoção na festa. E eu, que sou crítica ferrenha da demonstração superficial de sentimentos norte-americana, discordei.

 Que mãos!!!
Tudo bem que os autores das manifestações sentimentais de que falo não nasceram nos Estados Unidos da América. Colin Firth nasceu na Inglaterra e Natalie Portman em Israel. A premiação de nenhum deles surpreendeu. Eram favoritos. No palco, ambos disseram poucas palavras. Mas foram, na minha opinião, eloquentes em cada silêncio; em cada olhar; em cada palavra não dita. Senti a emoção de Colin Firth no seu jeito britânico de se conter. E senti a emoção de Natalie Portman em cada agradecimento. A carreira vitoriosa de uma atriz tão jovem envolve muitos participantes. E ela fez questão de lembrar cada um deles.

Gosto de Colin Firth desde "O Diário de Bridget Jones". Outro dia (já um pouquinho distante) assisti num canal de tevê a cabo alguns capítulos da minissérie inglesa "Orgulho e Preconceito" - acho que foi um de seus primeiros papéis - e também gostei. Gosto dele como ator. Gosto do jeito "Colin Firth" de ser. Gosto de pessoas que não são explícitas. Gosto de quem apenas sugere, sem dizer. Gosto de quem deixa um pouco da interpretação a cargo da inteligência do outro. Se tudo for dito, o que sobra para o interlocutor? Conformar-se com o óbvio. 

 Vou te esconder da Penha Saviatto, meu gato!!
De Natalie Portman, acho que é uma mulher assombrosamente bela e uma atriz genial. Gosto dela desde sempre e mais a partir de "Closer - Perto Demais". Vejo que ela vai além, muito além, da beleza óbvia. Gosto de quem vai além da aparência e mergulha na essência. Gosto de quem se entrega ao que faz e ao que vive. Ela poderia ser, simplesmente, uma das mulheres mais lindas do mundo. Porque isso ela já é. Mas não se contentou. Quis superar seu próprio limite, quis ser a melhor atriz que podia ser. E foi. 

Adorei o resultado! Gosto quando a vida responde, na mesma proporção, ao empenho das pessoas. Gosto quando o esforço alcança sucesso correspondente. Gosto de pensar que, na vida, é sempre assim! Vence quem se dedica... Mais... E mais... 


PS. O "inglês short" não é de minha autoria. A palavra foi usada pela primeira vez por uma ex-primeira-dama. Quem se lembra disso?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que é que a Bahia tem? Caindo de boca numa roska de siriguela e delírios que nem Freud explica...

por Ruth Simões

O carnaval nem está assim tão próximo, mas as músicas não saem da minha cabeça. Hoje passei o dia cantando Chame Gente: "Ah... que loucura essa mistura! Alegria... é o estado que chamamos Bahia! De todos os santos, encantos e axé! Sagrado e profano... O baiano é... carnaval!" Todo ano é a mesma coisa. Eu, que nem gosto tanto assim de carnaval, me vejo tomada pela tal baianidade nagô... Desde que, por acaso, fui passar, faz tempo, um carnaval em Salvador.

Foi acaso mesmo. Tinha acabado de voltar de férias, estava até sem dinheiro. Na escala de plantão de Carnaval e Páscoa, Fredy Krause, amigo muito querido, disse que preferia trabalhar no carnaval porque pretendia viajar para o exterior na Páscoa. Motivo mais que justo, turma unida... Eu disse que folgaria no carnaval, claro, e com a maior boa vontade. Mas, e agora, para onde vou? O próprio Fredy tratou de me conseguiu reserva em voo de ida e volta. E lá fui eu para Salvador. 
 Roska de Seriguela ou Seriguelosca = a frutinha+vodka+gelo+açúcar... e aí o Santo baixa!

A viagem rendeu, mesmo antes de acontecer, muitas e boas risadas. Fizemos várias reuniões preparatórias no Nosso Mar, também conhecido como Bar do Carlinhos. Nos divertimos imaginando situações em que eu seria abordada por algum estrangeiro. E, como não sou poliglota, fizemos um dicionário com respostas básicas em inglês, francês, alemão, espanhol e italiano, com a ajuda de amigas como Martinha (Crisóstomo), Nádia (Franco), Bebel (Freitas) e Adriana (Fernandes). O Fredy salvou a parte alemã do "guia de sobrevivência" com turistas em Salvador. 

Eu tinha, em uma folha dupla, tradução para perguntas como qual é o seu nome? Onde você está hospedada? Quer sair comigo? Vamos jantar? O que você quer comer? Qual é o seu telefone? Que dia você volta para Brasília? E respostas positivas e negativas para essas perguntas. Dobrei esse papel, coloquei na bolsa e viajei. 

Cheguei em Salvador na sexta-feira à noite, e a cidade já estava mergulhada em carnaval. Do aeroporto fui direto para Ondina. Quando vi aquilo... “Senti meu coração apressado, todo meu corpo tomado, minha alegria voltar”... Eu não queria mais sair dali. Depois que todos os trios passaram, fiquei no vai-e-vem entre Ondina e a Barra por um bom tempo.

Estava hospedada na casa da Juju, minha prima. Às 6 da manhã fomos para casa e às 9 eu já estava acordada para ir à praia. Imagina se tem carnaval que faz uma goiana perder um dia de praia? Eu não... Passei um dia delicioso em Stella Maris, regado a siriguelosca (ou roska de siriguela, como preferem os baianos), peixe frito, camarão ao alho e óleo e outras coisas que fazem a vida valer a pena. À noite, mais circuito Barra-Ondina... 

O dia seguinte - um domingo - foi de praia em Placaford com ondas deliciosas, água na temperatura certa e um sol de fazer lagartixa ficar o dia todo esticada. À noite, adivinhem? Ondina e Barra: Olodum cantando "Ai se não me desse o seu amor o que seria de mim Deus meu? O que seria de mim? Ôôôô Rosa”... E o Ilê Aiyê atrás com sua batida irresistível... Depois, Timbalada e Carlinhos Brown... Manda descer pra ver, Filhos de Gandhi...
E aí não tem espaço para estrangeiro nenhum. A Bahia é dos baianos. "A pé ou de caminhão não pode faltar a fé, o carnaval vai passar.... A gente se completa enchendo de alegria a praça e o poeta... O baiano é carnaval” 

Fiquei em Salvador uma semana. Encontrei o ritmo baiano, me apaixonei (por um baiano, claro), quis ficar lá o resto da vida... Voltei para Brasília, mas dois anos depois aceitei um convite profissional e fui morar em Salvador. Tenho um caso de amor tão forte com aquela cidade que agora, morando de novo em Brasília, não vou lá porque tenho medo de nunca mais voltar... 

No aeroporto, antes de embarcar de volta para Brasília - triste e chorosa -, ouvi da minha prima Juju: mas, Ruth, você disse que não gostava de carnaval!?! E uma amiga dela que estava junto completou: nossa, imagina se ela gostasse!! Nesse mesmo ano, quando liguei para desejar Feliz Natal para Juju, ela se antecipou e me informou que não iria passar o carnaval seguinteem Salvador. Estaria em Vitória da Conquista...

Nota do redator
O guia de sobrevivência com estrangeiros não saiu da bolsa. Guardei esse papel por algum tempo, só para rir com a turma mesmo. E perdi o dito cujo na mudança para Salvador. Mas essa é outra história.
Nota da nota: continuo usando redator (e não redatora). Adotei a forma francesa: madame le rédacteur kkkkk

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

# Pronto falei: A musiquinha é ATIREI O PAU NO GATO

Por Ruth Simões

Adoro tuítar. Mas tenho alguma dificuldade técnica. Algumas vezes é o computador que parece muito lento, outras é a baleinha do Twitter que aparece seguidamente para informar que há excesso de usuários. Assim, acabo deixando de dizer um monte de coisas que gostaria... Talvez isso tenha um lado bom. Talvez evite até algumas "saias justas". Sim, porque para conversar você tem que dar sequência ao diálogo iniciado. Eu, por exemplo, não gosto de entrar no TT e perceber que amigos queridos fizeram observações, no dia anterior, que não li nem respondi. Imagino que, para eles, foi como falar no telefone com alguém que desliga antes do fim da conversa.

Você acha esse gato fofinho, então leve ele pra casa!!!

Adoro falar, ouvir, conversar, responder, concordar, discordar... Gosto até de me meter em conversas onde não sou chamada, se o assunto me atrair de forma irresistível (fiquem tranquilos, amigos tuiteiros, isso não acontece com frequência...Rs). Antes de fazer parte de redes como o Twitter e o Facebook, eu conversava em filas de banco, de mercado, em fumódromos (quando ainda fumava, muito tempo atrás), em qualquer lugar onde tivesse gente reunida.

Acho que a conversa enriquece. Dificilmente deixei de me sentir melhor e mais "rica" depois de conversar com qualquer pessoa, sobre qualquer assunto. Admiro o poder da palavra. Por isso sou fã das redes sociais. Através delas tenho conversado com amigos antigos redescobertos, amigos recentes, pessoas que conheço pouco e outras que nem conheço. Está sendo um grande aprendizado. Por não dispor de todo o espaço do mundo, acho que estou reduzindo os detalhes e me limitando ao essencial. É uma coisa que sempre quis melhorar em mim. Detalhes são dispensáveis, sempre. Só interessam ao Roberto Carlos, como diz Conceição Krause, uma amiga querida.

Mas quando você se limita ao essencial, a coisa complica. Hoje, por exemplo, li num tuíte uma pergunta mais ou menos assim: o que fazer com um menor que já foi condenado 17 vezes por crimes gravíssimos? Tive muita vontade de responder no melhor estilo do filme Tropa de Elite. Peraí, gente. Minhas raízes goianas me fazem pensar em formas menos democráticas e mais eficientes de resolver casos assim. Mas eu não sou 100% goiana. Apesar de ter vontade de radicalizar por estar cansada do protecionismo exagerado aos marginais, eu defendo a vida. Mas volto a Tropa de Elite para defender "direitos humanos para humanos direitos". Quanto aos tortos...

Não dá para falar disso em 140 toques e depois deixar as contestações sem resposta. Sei que é uma discussão interminável, que vou ser apedrejada por muitos, que vou ser mal interpretada por outros tantos... Mas aqui, resolvi confessar: estou cansada de tanta  "correção política". Estou cansada dos discursos politicamente corretos e vazios Não quero ter medo de sair de casa, não quero ser ameaçada por falsos sequestradores em telefonemas feitos de dentro de presídios, não quero que minha neta conheça o bandido que vende drogas em portas de escolas... Acho que tudo tem um limite. Acho que já fomos tolerantes demais com quem não merece. Acho que precisamos repensar nossos conceitos.

Acompanhei as discussões na Assembléia Constituinte de 1988 (é, faz tempo...) e os avanços na área de direitos humanos. Sei que eles foram necessários e vieram num momento importante. Fui uma das muito entusiasmadas. Mas será que já não é hora de fazer um balanço e ver o que melhorou, o que piorou, o que é preciso corrigir? Ou vamos passar o resto da vida arranjando justificativas para essas pessoas que nos privam de viver em segurança? Somos culpados? Sinceramente, eu não. Não prejudico ninguém. Defendo os direitos dos meus semelhantes. Vivo e criei meus filhos com o resultado do meu trabalho. Não sou obrigada a  concordar com quem acusa Monteiro Lobato de racismo. Não me obrigo a  cantar "não atire o pau no gato" .Prefiro cantar "atirei o pau no gato" e no fim da música explicar  a minha neta que é só uma brincadeira e que  amamos e respeitamos os animais.
Vamos ter mais complacência conosco ou vamos continuar carregando a culpa pelos pecados de quem nos tira o sossego, nos rouba e até mata e continuar  lotando os cinemas para aplaudir o agora "coronel" Nascimento?

Nota do redator: vocês percebem que continuo no divã? Ah, esse espaço é precioso. Será que meu amigo José Romildo tem razão? Não, Zé, eu não penso que sou o centro do mundo (muitos risos)...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Jornalista não vive de louros ou Ser repórter, a forma mais divertida de se morrer pobre...

 Por Ruth Simões
 
Quando você acha que já viu de tudo na vida, ainda se surpreende. Eu tenho me surpreendido bastante nos últimos tempos. Depois de um período sabático (admito, nem tão sabático assim) involuntário, saí por aí distribuindo currículo e procurando emprego. Como boa jornalista que sou, nunca passei por essa experiência por um tempo significativo. Inclusive porque, como a maioria, sempre tive dois empregos e, se faltava um, nem tudo estava perdido. 
Bom, mas chegou o dia em que me vi sem nada para fazer. Sem contar que me vi também sem dinheiro para gastar no meu tempo livre...  Decidi ir à luta. Numa das primeiras tentativas, mandei meu currículo para cobrir férias num local onde as pessoas conhecem meu trabalho. Esperei uns dias e, sem retorno, tentei saber se a possibilidade estava aberta. Então ouvi de uma pessoa amiga, constrangida: olha, não vai dar. Eles não querem contratar repórter "sênior"!!! 


 
Ruth Simões é a da esquerda e nunca perdeu o equilíbrio nas suas décadas de vida e de profissão sempre em saltos agulhas

Será que ouvi bem?!?!?!?!? O que isso significa? Querem que me sinta velha, ou apenas querem dizer que o salário é "junior" e não seria adequado a um profissional experiente? Ou apenas acham que estou velha para trabalhar?!? Essa frase martelou minha cabeça durante dias. Me fiz mil indagações! Como você fez isso, me perguntava? Por que você deixou o tempo passar? Por que você não ficou na idade que tinha há .... 20 anos? Depois de sofrer muito e me culpar na mesma proporção, lembrei que não podia mudar isso. O jeito era continuar procurando. Bem, e se para cobrir férias eu era "senior", imagina para trabalhar... O que seria? 

A ousadia me fez ir em frente, me sentindo assim meio "Matusalém". No segundo local em que apresentei meu currículo (coincidentemente, também para cobrir férias), não disseram nada. Não manifestaram nenhum espanto. Em telefonema para o diretor, ainda arrisquei: o senhor acha que minha experiência é compatível com a vaga? Era uma forma de reforçar o que o currículo mostra: que não sou muito jovem. Claro, disse o diretor! Desliguei o telefone e dancei, cantei... Cheguei a comemorar! Me senti contratada para cobrir as benditas férias. Deus é Pai e não padrasto, pensava!!! Dias mais tarde, depois de tentar por algumas vezes falar com o tal diretor, sem conseguir, soube que já tinham contratado uma recém-formada para a vaga. Ele nem se deu ao trabalho de me atender para dizer que não queria uma repórter "sênior", essa entidade recém-criada pelo "mercado jornalístico".   

Isso, por paradoxal que seja, me curou. Resolvi achar que a idéia é pegar pessoas sem experiência para pagar salários baixos e mandar mais, sem culpa nenhuma. Neste ponto, informo que não tenho nada contra recém-formados. Por favor, não me acusem de preconceito. Aliás, aproveito o momento para abrir um parêntese explicando que, apesar de "senior" (rs), sou bem mandada como qualquer estagiário. Cumpro bem minhas funções. E obedeço tão bem quanto mando, podem acreditar.... 

Bom, estou curada. Mas continuo não querendo cobrir férias (rs). Auto-estima restabelecida, resolvi querer, isso sim, um bom emprego. Acredito que um bom jornalista "senior" traz na bagagem inúmeras qualidades e agrega valor a qualquer organização. Estou certa de que sou, hoje, uma profissional infinitamente melhor do que era 20 ou 25 anos atrás. E a maturidade não me tirou o desejo de continuar aprendendo. Nem a humildade ou a certeza de que, em jornalismo, estamos sempre recomeçando. Não importa quantas reportagens brilhantes alguém fez, o importante é continuar fazendo. Em jornalismo não se vive de louros...  

Isso é que apaixona na profissão. Por isso estou nesta enrascada. Porque sou apaixonada pelo que faço. Sei que sou jovem, tenho pique, tenho o maior gás... Ainda que me ponham o rótulo de "sênior". Precisei resolver muito bem essa questão para estar aqui, agora, escrevendo. Mas consegui. Informo que pretendo trabalhar por muito tempo ainda. A idade está, realmente, na cabeça. Reparem nas pessoas ao redor. Quantas pessoas de 50, 60 anos vocês veem com cara de 50 ou 60 anos? Só as que não trabalham.... Pretendo ir longe. Aliás, devo avisar que minha mãe tem 90 anos (faz 91 em junho) e não só está ótima, como ainda dirige o próprio carro. Se vou chegar lá assim, não sei. Mas tenho a quem puxar....
  
Nota do redatorpreferi não entrar no mérito do "será que isso acontece porque sou mulher"? Isso daria muito "pano pra manga". Optei por não falar sobre a necessidade de continuar trabalhando depois da aposentadoria. Realidade da qual nós, meros jornalistas, não escapamos. Optei ainda por não contar que "paguei a língua". 
Quando era recém-formada, achava que gravadores e entrevistas não combinavam com repórteres maduros. Achava que gente um pouquinho mais velha não devia ter que correr atrás de entrevistados. Desejava, aos 50 anos, estar aposentada e rica, quem sabe numa ilha do Pacífico. Mal sabia que fazer jornalismo é o jeito mais divertido de morrer pobre (a frase não é minha. Li no Twitter, gostei, copiei...)