quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que é que a Bahia tem? Caindo de boca numa roska de siriguela e delírios que nem Freud explica...

por Ruth Simões

O carnaval nem está assim tão próximo, mas as músicas não saem da minha cabeça. Hoje passei o dia cantando Chame Gente: "Ah... que loucura essa mistura! Alegria... é o estado que chamamos Bahia! De todos os santos, encantos e axé! Sagrado e profano... O baiano é... carnaval!" Todo ano é a mesma coisa. Eu, que nem gosto tanto assim de carnaval, me vejo tomada pela tal baianidade nagô... Desde que, por acaso, fui passar, faz tempo, um carnaval em Salvador.

Foi acaso mesmo. Tinha acabado de voltar de férias, estava até sem dinheiro. Na escala de plantão de Carnaval e Páscoa, Fredy Krause, amigo muito querido, disse que preferia trabalhar no carnaval porque pretendia viajar para o exterior na Páscoa. Motivo mais que justo, turma unida... Eu disse que folgaria no carnaval, claro, e com a maior boa vontade. Mas, e agora, para onde vou? O próprio Fredy tratou de me conseguiu reserva em voo de ida e volta. E lá fui eu para Salvador. 
 Roska de Seriguela ou Seriguelosca = a frutinha+vodka+gelo+açúcar... e aí o Santo baixa!

A viagem rendeu, mesmo antes de acontecer, muitas e boas risadas. Fizemos várias reuniões preparatórias no Nosso Mar, também conhecido como Bar do Carlinhos. Nos divertimos imaginando situações em que eu seria abordada por algum estrangeiro. E, como não sou poliglota, fizemos um dicionário com respostas básicas em inglês, francês, alemão, espanhol e italiano, com a ajuda de amigas como Martinha (Crisóstomo), Nádia (Franco), Bebel (Freitas) e Adriana (Fernandes). O Fredy salvou a parte alemã do "guia de sobrevivência" com turistas em Salvador. 

Eu tinha, em uma folha dupla, tradução para perguntas como qual é o seu nome? Onde você está hospedada? Quer sair comigo? Vamos jantar? O que você quer comer? Qual é o seu telefone? Que dia você volta para Brasília? E respostas positivas e negativas para essas perguntas. Dobrei esse papel, coloquei na bolsa e viajei. 

Cheguei em Salvador na sexta-feira à noite, e a cidade já estava mergulhada em carnaval. Do aeroporto fui direto para Ondina. Quando vi aquilo... “Senti meu coração apressado, todo meu corpo tomado, minha alegria voltar”... Eu não queria mais sair dali. Depois que todos os trios passaram, fiquei no vai-e-vem entre Ondina e a Barra por um bom tempo.

Estava hospedada na casa da Juju, minha prima. Às 6 da manhã fomos para casa e às 9 eu já estava acordada para ir à praia. Imagina se tem carnaval que faz uma goiana perder um dia de praia? Eu não... Passei um dia delicioso em Stella Maris, regado a siriguelosca (ou roska de siriguela, como preferem os baianos), peixe frito, camarão ao alho e óleo e outras coisas que fazem a vida valer a pena. À noite, mais circuito Barra-Ondina... 

O dia seguinte - um domingo - foi de praia em Placaford com ondas deliciosas, água na temperatura certa e um sol de fazer lagartixa ficar o dia todo esticada. À noite, adivinhem? Ondina e Barra: Olodum cantando "Ai se não me desse o seu amor o que seria de mim Deus meu? O que seria de mim? Ôôôô Rosa”... E o Ilê Aiyê atrás com sua batida irresistível... Depois, Timbalada e Carlinhos Brown... Manda descer pra ver, Filhos de Gandhi...
E aí não tem espaço para estrangeiro nenhum. A Bahia é dos baianos. "A pé ou de caminhão não pode faltar a fé, o carnaval vai passar.... A gente se completa enchendo de alegria a praça e o poeta... O baiano é carnaval” 

Fiquei em Salvador uma semana. Encontrei o ritmo baiano, me apaixonei (por um baiano, claro), quis ficar lá o resto da vida... Voltei para Brasília, mas dois anos depois aceitei um convite profissional e fui morar em Salvador. Tenho um caso de amor tão forte com aquela cidade que agora, morando de novo em Brasília, não vou lá porque tenho medo de nunca mais voltar... 

No aeroporto, antes de embarcar de volta para Brasília - triste e chorosa -, ouvi da minha prima Juju: mas, Ruth, você disse que não gostava de carnaval!?! E uma amiga dela que estava junto completou: nossa, imagina se ela gostasse!! Nesse mesmo ano, quando liguei para desejar Feliz Natal para Juju, ela se antecipou e me informou que não iria passar o carnaval seguinteem Salvador. Estaria em Vitória da Conquista...

Nota do redator
O guia de sobrevivência com estrangeiros não saiu da bolsa. Guardei esse papel por algum tempo, só para rir com a turma mesmo. E perdi o dito cujo na mudança para Salvador. Mas essa é outra história.
Nota da nota: continuo usando redator (e não redatora). Adotei a forma francesa: madame le rédacteur kkkkk

5 comentários:

  1. Eu que te conheço de tantos carnavais, sei que você continua a animada de sempre,madame le rédacteur!
    Beijos

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  2. salvador tem uma coisa (pronuncia com sotaque de baiano) que a gente num sabe "o quê qui é". Acho que são os orixás rondando noessas baeças e atiçando nossas almas para usar nossos corpos e aproveitar nossas vidas.
    uiuiuuiui ô terra abençoada por todos os santos!
    vamos fazer uma reunião de pauta do Café&Veneno em salvador. quem se habilita?
    bjbjbbjbj

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  3. Madame le rédacteur senti de cara: animação não lhe falta. Ainda mais na bela Salvador, minha terra de nascimento, pois vc sabe, tenho outra que adotei. Gostei muito do post e senti vontade de me divertir com aquele povo porrêta. Quem sabe vou ainda nesse semestre para cair de boca no abará,na lambreta, no sururu...

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  4. Eu topo! Uma semana em Salvador com muita Roska de seriguela e pimenta.
    Vamos marcar!!!!

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  5. Adorei a descontração do texto... muito gostoso de ler. Sem falar do "amor pela Bahia", que compactuo plenamente com você, Ruth!
    P.S. Louca pra conhecer esse "guia de sobrevivência" rs...

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