Por Cris Lopes*
Caminhando em direção ao hospital para a fisioterapia de costume, começo a observar o dia, as pessoas, os pássaros. Não sou exatamente uma pessoa que ama o calor, mas não posso negar que um dia de sol me encanta. Sou capaz de passar horas olhando a paisagem, as gaivotas voando em círculos avisando que alguma chuva há de chegar, mesmo que seja pouca.
Fiz o tratamento de sempre e saí para caminhar. Depois de um longo percurso olhando todos os detalhes que rodeiam a pista de caminhada do Aterro, parei no Bar da Rampa. Delícia das delícias. Adoro essa liberdade de poder sentar sozinha em bar, lanchonete, balcão de bar... sem ser incomodada.
Nessas horas fico olhando o pessoal e imaginando quem está feliz, quem está triste, quem anda estressado... Sempre faço isso. Por vezes paro de observar as pessoas e tiro da bolsa um livro (sempre tenho algum comigo) e mergulho na leitura. No momento é um livrinho sem importância, daqueles que a gente compra para passar o tempo lendo algo agradável e que não exige nenhum esforço intelectual. No meu caso, é para ler durante as sessões de tortura consentida.
Hoje vi patos voando. É coisa corriqueira que tenho o privilégio de ver da janela de minha casa, mas perdi um certo tempo com eles. Acho interessante ver o líder do voo passar para trás e trocar de lugar com algum outro que por momentos será o comandante da jornada, até que outro o substitua.
Voltei às pessoas. Na mesa em frente um senhor finalizava seu almoço com um xícara de café. Era uma xícara, não a charmosa e viajada caneca do Café & Conversa. Esta, só mesmo as amigas Clara e Memélia levam para passeios maravilhosos e históricos. Clara, então, nos proporcionou uma bela viagem que começou em Haia e terminou na Itália. Ah, alguém (não me recordo do nome) levou a representante do Café & Conversa para uma visita à China.
Retornemos àquele senhor. Uns 60 anos, grisalho, aspecto solitário e olhar distante. Sim, ele olhava para a água especialmente azul da Baía de Guanabara, mas sou capaz de jurar que não via nada, tão absorto estava em seus pensamentos. Quais seriam? Por que tanta tristeza nele? Daí fui soltando a imaginação, vendo amores perdidos, trabalhos fracassados..., até chegar à solidão da ridiculamente chamada terceira idade. Estou com Ruth Simões, somos é vintage, como o vinho do Porto da melhor espécie.
Saí da viagem, voltei à Terra, pedi o almoço e mergulhei em pensamentos corriqueiros sem deixar de apreciar o mar, as montanhas, o céu e os pássaros.
* Cris Lopes é correspondente deste Blog no Rio de Janeiro
Este texto se parece com você, querida: fraterno, doce.
ResponderExcluirbeijos
O querido Scartezini não conseguiu postar o comentário e o enviou por e-mail. Por isso,o meu nome acima:
ResponderExcluirAqui vai o comentário dele ao post da Cris:
"Não sou exatamente uma pessoa que ama o calor,mas não posso negar que um dia de sol me encanta", define-se Cris Lopes, na realidade uma pessoa solar de fato. Veja-se. A caminho de um serviço hospitalar para si própria, Cris observa o dia, as pessoas, os pássaros... Na volta do atendimento médico, fala do prazer que sente em estar só em mesa de bar a contemplar o universo que a rodeia, o mundo que pulsa ao lado com seus seres humanos e animais.
Se cansa do contemplar cenários, leva na bolsa um programa alternativo: o livro que sempre carrega, ou seja, uma porta para outro universo que pode estar distante daquele que a rodeia, mas constitui outra forma de contemplação de vida.
Indo e vindo de hospital, ela não altera a sua disposição de bem viver, de estar em comunhão com a vida. Uma pessoa solar, a Cris Lopes.
AC Scartezini
Como diz o Scarta ... Uma pessoa Solar.
ResponderExcluirBjs
Eh, Maninha... Já disseram o que eu não saberia dizer, fora "Saudade do filósofo Tatá".
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