domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lugar de homem é na cozinha

 por Clara Favilla

Fiz  uma exaustiva pesquisa telefônica e domiciliar, devidamente registrada, e o resultado foi  o esperado: 99% das mulheres preferem os homens na cozinha. A margem pouco significativa de 1% das entrevistadas estava muito ocupada com coisas completamente injustificáveis pra responder perguntas sobre homens.

"Na cozinha é onde eles expressam seus melhores talentos numa simples salada, num macarrãozinho básico, em sobremesas complicadas, na arte de abrir aquele espumante geladinho, ou mesmo lavando com extremo cuidado e delicadeza minhas taças e pratarias", diz Patricia, idade não revelada, cabelos de cor indescritível.

Esperamos contar sempre com pelo menos um homem na cozinha nas reuniões de pauta deste Blog. Na foto, nosso queridíssimo Ricardo @kassatti fazendo o que mais gosta: Café. Desta vez, um orgânico de Costa Rica.

Pra melhor exercitar o prazer de ver seus convidados na cozinha, Patrícia transferiu a mesa de seis lugares para a área de serviço e instalou bem em frente ao fogão e à bancada da pia um delicioso divã adamascado. Aqui é onde tudo começa e termina, diz ela alisando com suas garras vermelhas as almofadas de seda. Aboliu as frituras não só para manter o corpinho, mas tambem porque não combinam com ambiente assim tão refinado. Ah, sim, entre o divã e a bancada da pia um tapete iraniano (não se diz mais tapete persa, viu gente!)

Maria Elizabeth , mineira de Paracatu, 28 anos declarados e bem vividos, com estágios de refinamento intelectual  em  Guimarães, não se deu a este trabalho. Para quem não sabe, esta cidade portuguesa  além de histórica, charmosa, tem uma população bastante jovem e será a capital cultural da Europa em 2012. Beth não é admiradora de sedas, de pompons ou veludos.

"Quando o processo de preparação de comidinhas se interrompe ou nem mesmo começa, pra que divã, mesa, ou tapete? Minha bancada de legítimo mármore azul Bahia é tudo de bom. Ainda mais com esse calorão de Brasília!", diz a descolada. Também tem a facilidade da geladeira por perto e nela os gelinhos pras bebidinhas com formatos inusitados. Ela prefere os de bichinhos. Não, não vou dizer quais.

Outra que prefere namorar na cozinha com a geladeira (completamente aberta) é a Cidinha. Gente, não a chame de Maria Aparecida, que ganhará uma inimiga para sempre. Nem é preciso dizer que seu filme predileto é Nove semanas e meia de amor. Aquele mesmo com a Kim Basinger, a eterna paixão do maluco do Alec Baldwin.  Cidinha não se amarra em levar gelatinas, chocolates e frutinhas vermelhas para a cama e nem quis tornar sua cozinha mais confortável para o que der e vier. "A graça está neste desconforto mesmo. Além disso, porcelanato é bem mais fácil de limpar, né mesmo?


Imagine a tristeza dessa cozinha sem pelo menos dois homens interessantes: o Ricardo e o Daniel, o filhão da Ruth, o fotógrafo.

Nossa pesquisa também ouviu mulheres saudosas de um tempo que tutu com torresmo era comidinha pra depois do amor. Teve uma, ela pediu anonimato, que recitou de memória a crônica inteirinha do Vinícius Pra viver um grande amor. Resgatei este trecho no Google: 

"Do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

                                                         
Não sei porque a Penha Saviatto se escondeu entre a Mariazinha e Sandra nesta foto. Nosso amigo não é o charme em pessoa?

Gente, não ficarei em cima do muro, Não fecharei este post sem revelar nada de mim. Sim, me aconteceram delícias na cozinha principalmente com um dos meus ex-amores.  Foi assim: depois de  ficar até quase meia noite no Ministério da Fazenda aguardando a divulgação de uma carta de intenções ao FMI (Não, não vou explicar o que é isso a quem é novo demais pra saber) chego a casa dele. A porta da sala se abriu. Aromas de ervas especiais vindos da cozinha me envolveram dos pés à cabeça e...

"Foi assim... a lampada apagou
A vista estremeceu e um beijo então se deu
E veio a ânsia louca, incontida do amor
E depois daquele beijo então
Foi tanto querer bem e alguém dizendo a alguém
Meu bem, só meu, meu bem
Meu bem, só meu, meu bem"

2 comentários:

  1. O que esse rapaz do Café & Conversa está fazendo ainda no meio de tantas mulheres..

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  2. Adorei o texto, Clara. Final bárbaro! rsrs.
    Adoro cozinha para lavar louça porque para cozinhar sou um verdadeiro desastre.

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