quinta-feira, 21 de abril de 2011

Para celebrar Brasília

Por *Eduardo Balduino 

Eu gosto muito de Brasília. Estou aqui desde 1972, mas freqüento a nova capital desde 1960 – meu pai foi da primeira turma de fiscal de Imposto de Consumo daqui. E gosto muito do Plano Piloto original, de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer; não sou daqueles que criticam o projeto só porque Brasília cresceu demais. Até porque, mesmo hoje se as pessoas, se nós, seguíssemos muito daquele planejamento, teríamos mais qualidade de vida.


                                                           
Para comprovar minha tese e em homenagem aos 51 anos desta cidade de todos os brasileiros, tomo a liberdade de fingir ser o administrador de Brasília durante esses preparativos para a grande festa.
A primeira coisa que eu faria seria convidar todos para um passeio pela idéia das Unidades de Vizinhança. O conceito é perfeitamente adequado para os dias de hoje, especialmente para tirar um bom bocado de carros das vias pelo menos das asas Sul e Norte. Esse era o ideia – andar a pé na sua Unidade de Vizinhança.

Para isso, Lúcio Costa, aproveitando idéias já formuladas (**), estabeleceu as Unidades de Vizinhança de Brasília com quatro superquadras residenciais, servidas por três vias de comércio local, pelo menos uma igreja, uma escola-parque, um cinema e um clube sócio-recreativo.

Eu sempre morei na única Unidade de Vizinhança completa de Brasília, a número 1, que engloba, na Asa Sul, as SQS 105, 106, 107 e 108 e as 300 equivalentes. Aliás, ela nasceu praticamente completa, só a SQS 307 que foi construída mais tarde.

Aqui nós temos o Clube da Vizinhança, a Igrejinha, a Escola Parque 307/308. Temos as vias de comércio local 304/305; 105/106; 306/307; 107/108; e 308/309. Com padarias, farmácias, armarinhos, supermercados, açougues, bares, restaurantes. Ou seja, o básico para suprir as necessidades do dia a dia e, importante, sem precisar usar o carro, especialmente depois do advento das faixas de pedestres.

As distâncias a serem percorridas aqui vão de 500 metros a, no máximo, um quilômetro.Você vai ao Parque da Cidade e vê, todos os dias, milhares de pessoas caminhando por trechos muito mais longos. Um pouquinho só dessa saudável disposição na hora de comprar o pão, por exemplo, e já teríamos menos carros e menos poluição e menos engarrafamentos.

Ora, dirão acusando-me de utópico: hoje as vias de comércio local são segmentadas... É e não é verdade. São segmentadas sim, mas todas tem o comércio básico, além de sua especialidade. Então... Então, o problema é outro e aí viria a minha segunda, e talvez maior, ação como administrador. Eu faria uma grande campanha – seria a única despesa um pouco maior, viu governador Agnelo Queiroz – para desenvolver o bairrismo por Brasília.
Rua da Igrejinha e entorno, em 1960, antes da inauguração da cidade
                                                      
A Rádio Nacional FM – outro motivo de orgulho nosso, pois tem, a meu ver, o melhor programa do rádio brasileiro, “Memória Musical”, de Bia Reis – já faz um excelente trabalho nesse sentido, tocando, em sua grade normal de programação, músicas de autores brasilienses e que declaram amor a Brasília – no que Rio e Bahia são exemplos emblemáticos.
O que acontece é que o brasiliense não é suficientemente barrista. Ele gosta de Brasília, mas vive fazendo a impossível comparação com as outras cidades brasileiras, onde nasceram os pais de quem já nasceu aqui. Em uma de suas acepções, bairrismo significa amor pelo bairro, é literal: amor pela sua cidade.
                                    
Caminhos de Brasília - Entrequadras
Só para se ter uma idéia da importância do bairrismo, a Semana de Arte Moderna de 22 nasceu de um movimento bairrista dos paulistas contra a supremacia cultural do Rio de Janeiro (***). E deu no que deu.
Não devo radicalizar, em homenagem à cidade e pelo “cargo que ocupo”. Muita gente gosta de Brasília, de sua qualidade de vida. Mas, não se preocupa em lembrar que temos a maior proporção de verde por habitante, por exemplo. Porque falta o bairrismo, que exaspera as qualidades.
Como não sou o administrador de Brasília, volto à condição de simples morador e amante desta cidade, para oferecer meu bairrismo como presente de aniversário. Até porque, se o brasiliense fosse realmente bairrista, ele ajudaria mais a resolver os diversos problemas que temos na cidade, a começar pelo número desnecessário de carros nas nossas vias.


* Jornalista, goiano. Meu pai, José Balduino de Souza, era Chefe da Casa Civil do governador José Ludovico de Almeida, de Goiás – cujo vice era Bernardo Saião –e redigiu, em 1957, o decreto de desapropriação do quadrilátero onde se fincou o Distrito Federal. Uma forte razão para eu ser um candango bairrista. 

** O professor e arquiteto Vicente Quintella Barcelos, da UnB, tem um mais que aconselhável trabalho sobre as Unidades de Vizinhança. 

*** A professora Maria Inez Machado Borges Pinto, da USP, em artigo para a revista História Brasileira, (número 42, de 2001) Urbes industrializada: o modernismo e a paulicéia como ícone da brasilidade, mostra como o bairrismo foi uma das forças motrizes da Semana de 22.

5 comentários:

  1. O querido Badu, quando participa do Blog sempre acrescenta, oferece uma luz nova sobre as coisas. E de Brasília, então, ele é mestre pós graduado e muitas especializações.
    Queremos aquioutras histórias suas contando e cantando seu grande amor por Brasília,
    Grande beijo!
    Clara

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  2. Bela homenagem, colega! Gostei e compartilho do carinho por nossa capital! Abraço!

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  3. Brasília só se desvenda para aqueles que conseguem entendê-la. Não é cidade que desperte amor de folhetim.E sim aquele amor de raízes profundas.
    Concordo com o autor, a qualidade de vida em Brasília ainda está nos limites desejáveis.
    Parabéns, Baduzinho. Nós, brasilienses de todas as horas mos sentimos honrados com manifestações iguais às tuas.
    Memélia

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  4. letra da canção:
    brasília
    tonicesa badu


    quando cheguei, olhei, perguntei: cadê?
    seus muros, esquinas,
    ruas e vielas, moças nas janelas?
    quando te conheci eu sofri....

    geo métrica socialista de poetas utópicos
    serenatas mineiras no planalto central do país
    necessário delírio que um visionário quis.
    brasília, menina, meu bem!

    seus vazios enchem minh’alma,
    seu silêncio vem pedindo pr’eu cantar
    chuva de verão, nuvem, viagem, chão
    o cerrado é seu mar...

    sim, eu vi quando comecei a te amar...

    ah, maravilha!
    o imenso redondo do céu que brasília tem,
    quem caminha pelos seus longos verdes
    conhece os segredos que só ela tem.

    e enquanto poderosos por aqui
    hipocritamente vão e vem,
    brasília:
    morada que toda gente brasileira tem!

    essas águas... das quebradas...
    sopra vento...
    nessa goianas roças
    onde encontrei meu amor.

    sim eu sei, “cê” custou pra chegar
    em mim você chegou pra ficar
    assim, da-da-da-da-da.....
    brasília

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  5. Cheguei a tempo. Fui comemorar na esplanada com o povão. Me diverti muito. Amo Brasília. Vim para cá em 1960 com meus pais. Brasília, a capital da esperança!

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