Meus colegas de Agência Sebrae de Notícias riam de mim porque quase sempre que eu fechava uma matéria dizia ter acabado de fazer um poema. Bem, é sempre assim que me sinto quando coloco o ponto final em matérias sobre reforma tributária, microfinanças, contas do Tesouro ou o que for, que rendi meu tributo diário à Poesia. No perfil que fiz pro meu
blog pessoal e
twitter está lá: Jornalista, profissão repórter. E em seguida: Paixão por Economia.
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Mailson e a jornalista Jurema Baesse |
Este homem, o da foto, Mailson Ferreira da Nóbrega, me ensinou que a vida é uma fato econômico. Do nosso primeiro ao último suspiro, nada existe fora dessa Ciência. Nossa caminhada neste Planeta é uma sucessão de fatos econômicos.
Primeiro fomos caçadores, depois agricultores, depois começamos a produzir bens e serviços para consumo próprio,escambo e, mais tarde a estocá-los e a comercializá-los. Nos organizamos em bandos, depois em clãs, tribos, feudos, burgos. As grandes descobertas, as grandes navegações, as grandes religiões. A paz, a guerra. A literatura, as pinturas de Michelangelo na Capela Sistina, suas esculturas espalhadas por Florença. As feiras nordestinas e seus cantadores. Tudo só é possível dentro de um determinado contexto econômico.
Mailson, ainda no Ministério da Indústria e Comércio e depois tanto tempo no Ministério da Fazenda não apenas atendia a imprensa com prazer e até mesmo carinho, foi nosso paciente professor. Ninguém de nós nasceu sabendo o que é Base Monetária, Meios e Pagamento,superávit ou déficit comercial ou fiscal. E muitas vezes, ele encerrava as conversas dizendo: " agora que já dei o lead e o corpo da matéria, tratem de fechá-la direitinho." Um bom pé é fundamental para deixá-la redondinha, perfeita. mas nunca pode ser indispensável porque se o editor precisar cortá-la, o fará justamente aí. Encerrar a matéria com um bom pé que a sustente, não chave de ouro. Ele sabia.
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Memélia Moreira,Graça Seligman e Azelma Rodrigues |
Na última terça-feira. 12/04, Mailson esteve em Brasília para lançamento, na Livraria Cultura do Iguatemi, da sua autobiografia "Além do Feijão com Arroz" .O título lembra como ficou conhecida a política que implementaria a partir do Ministério da Fazenda, naquele difícil primeiro trimestre de 1988, quando tantas medidas heterodoxas fizeram o país dar como se diz com os burros n'água.
Simplesmente ele faria o básico, o possível, nos anos que restariam ao Governo Sarney para que a Economia com a inflação nas alturas, mas completamente indexada continuasse funcionando: as empresas produzindo e comercializando, a população encontrando o que precisava nos supermercados, os setores público e privado pagando salários.
Na página 389 de sua autobiografia, Mailson registra que o tal
Feijão com Arroz foi em resposta à jornalista
Azelma Rodrigues, hoje no Valor Econômico, quando já se dirigia ao elevador , depois de ter conseguido "tourear" o reportariado todo sobre qual a estratégia que colocaria em prática como ministro, em sua primeira coletiva à imprensa. Nem é preciso pensar muito para entender que a frase estaria nas primeiras páginas dos jornais e na boca do povo nos dias seguintes.
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Sarney e os jornalistas Memélia Moreira e Antônio Martins. Claro que o político foi prestigiar seu Ministro da Fazenda, aquele que teve a coragem suficiente de aceitar o cargo com a economia se comportando como uma horda de cavalos chucros em disparada. |
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Minha amiga e advogada Damares Medina |
Na foto acima, eu e meu querido ministro, professor e amigo. Confesso que li o livro quase de uma sentada só, como se diz. E chorei, ri, chorei e ri várias vezes, porque minha vida de jornalista estava também ali, inteirinha. Durante 13 anos, de 1977 a 1990, acompanhei como repórter as andanças de Mailson pela Esplanada. E também acompanhei de perto os fatos por ele relatados depois de deixar o governo.
Mesmo quando passou algum tempo em Londres, tivemos longas conversas nos corredores do Ministério da Fazenda, pois periodicamente vinha ao Brasil. Minhas melhores matérias para a jornais como a Folha de São Paulo e Correio Braziliense foram com informações ou explicações que me dava. Nunca me pediu para sair de seu gabinete quando o telefone tocava e era o próprio Presidente da República do outro lado da linha.
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Mailson e Azelma |
Não conheço um jornalista que tenha ressalvas ao Mailson como fonte. Pode discordar de suas ideias, mas respeita a pessoa que ele foi e é, o homem público.
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Jocimar Nastari e Mailson |
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Mailson e o fotógrafo Orlando Brito |
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Mailson e o jornalista Alexandre Fuzil
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Mailson tem carinho especial por Carmem e João Borges |
Laerte, sempre irreverente, foi à Livraria Cultura , mas ficou indignado ao saber que a amiga Rosa Dalcin, esposa de Mailson, não estava presente. Emburrado foi pro Café da Livraria.
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Os jornalistas Carmensita Corso e Ricardo Kassatti |
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Dá pra ver, pelas poucas fotos que tirei (minha máquina ficou sem bateria) que o lançamento do livro em Brasília foi antes de tudo um encontro afetivo, de amigos. Mailson dedica o livro às três mulheres de sua vida: a mãe, Maria José; a primeira esposa, Rosinha, mãe de seus quatro filhos já adultos e Rosa, com quem está casado desde 1993 e tem um filho, o Gabriel, de 17 anos.
Mas não reserva muito espaço para a sua vida pessoal. Reconhece que foi um pai ausente, mergulhado no gerenciamento, durante anos, de uma economia em situação recorrente de crise. Dá o merecido crédito ao seu amor de juventude e companheira por 26 anos, Rosinha.
E, é claro, enfatiza que a paixão por Rosa Dalcin, mesmo em situação de recolhimento e ausência da pessoa amada, lhe deu forças para enfrentar seus dias mais difíceis ainda no cargo de ministro e fora dele. Claro que foi neste pedaço do filme (ops! do livro) que precisei de um lençol pra enxugar as lágrimas. Rosa é uma das minhas amigas queridas e também me ajudou muito em tempos difíceis.
Querida Clarita, você acaba de cometer amis um belo poema : )
ResponderExcluirBeijão
Ricardo
Clara, belo texto, como sempre. O título nem se fala.
ResponderExcluirClara, querida amiga, ninguém escreveu sobre o minha autobiografia como você. Seu texto não é uma resenha, mas um depoimento que aqui e ali recorre ao livro. Integra minha trajetória no governo com sua experiência como jornalista competente, na mesma época. Revela aspectos que eu não havia posto na obra. Mesmo descontando os excessos permitidos pela velha amizade, comigo e com a Rosa, é um grande texto. Me emocionou. Sou-lhe muito grato.
ResponderExcluirClara, só você para fazer poesia com Economia, que a bem da verdade dá rima. Adorei o texto, as fotos e, claro, a edição. Elegante, como sempre. Vou convidar o Laete para um café em São Paulo. Só preciso do e-mail dele.
ResponderExcluirClara, quando leio todas as tuas paixões, me sinto uma privilegiada por te saber amiga. O texto tem o sabor de uma jovem jornalista cheia de entusiasmo pela matéria que acabou de conquistar.
ResponderExcluirE foi bom ver o ministro e Rosa Dalcim felizes com suas bicicletas e filhote.
Parabéns, Clara. Percebi ser possível rimar Poesia e Economia.
Memélia Moreira
CLARA QUERIDA, você é demais!!! adorei o seu texto e concordo que você rima poesia com economia. E O Mailson, quando eu fazia política agrícola na Gazeta Mercantil, era uma fonte didática , paciente, uma gentileza só!!beijos
ResponderExcluirgraça
Lixo de economista, matou centenas de pessoas e hoje em dia faz um desserviço a população brasileira, defendendo aumento de imposto e Inflação. O cara é um economista que ensina como prejudicar a economia e diminuir o poder de compra das pessoas
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