Por Clara Favilla
A terra do Tio Sam, os Estados Unidos, é a mais xingada do Planeta, não é mesmo? Muito dessa xingação deve-se, cada vez me convenço mais disso, ao nosso desconhecimento sobre esse gigantesco, diverso e complexo país e do peso que tem no mundo. E também porque do que nos chega de lá, a maior parte é lixo na forma de entretenimento (basta se analisar a grade dos canais pagos), igrejas evangélicas preocupadas com exorcismos e dízimos, além do fast-food.Meu pai, que faleceu em 1993, sem ver milagres tecnológicos como a internet, por exemplo, tinha consciência disso. Para ele, o mais despretencioso dos filmes americanos era sempre superior, em termos técnicos e performances artísticas que qualquer produção nacional. Ai tem quem diga que com muito dinheiro tudo fica melhor mesmo. Que dinheiro, como já disse Nelson Rodrigues, compra até amor verdadeiro. Mas sou cética com respeito ao tal nosso cinema, seja qual for o orçamento envolvido. Diretor brasileiro não quer fazer filme, mas revolução. Escritor brasileiro não se permite contar uma história, quer criar uma nova linguagem.
Assista-se um filme protoganizado por Julia Roberts, desses românticos e contabilize o esforço físico, artístico e financeiro da produção. E os filmes de Stallone? Abstraia da história e concentre-se nos cenários. Fabulosos. Alguns tão fortes e rico de detalhes que me fazem lembrar o Juízo Final de Michelangelo que cobre uma grande parede da capela Sistina,Vaticano. Não não riam, por favor. Estou falando sério.
As escadarias apaixonantes lembram a fascinação de Dali pela representação do DNA |
Muitos dos que não foram, certamente atravessaram a ponte e perderam um dia interiro naquele Outlet de New Jersey. Longe pra caramba. Não, eu não conheço esse Outlet. Registro aqui que fiz uma única viagem e a trabalho aos Estados Unidos. Estive em Nova York e Washington. Sim, em NY fui ao Moma e ao Metropolitam, nas horas livres que me restaram. Um amigo, nas poucas horas de folga de uma viagem de trabalho a Washington, visitou a lindíssima Biblioteca do Congresso.
E quem, estando em Orlando, foi até Saint Petersburg ? (Deixe a preguiça de lado e clique à esquerda para saber mais) É uma cidade lindinha de 300 mil habitantes, um pouco menos que Tampa, que também fica na Flórida. Em uma hora, no máximo, se chega a Saint Pete, vindo de Orlando, que todo mundo conhece de olhos ou de ouvidos por causa de seus parques temáticos e os brinquedos da Disneyworld. Tampa fica mais lonjinha, duas horas.
Quem botou no meu mapa Saint Pete, como é chamada pelos americanos, foi a amiga Memélia (@memeliamoreira) que mora em Kissimmee também nas redondezas de Orlando. Ela me disse que vai a Tampa e que aproveitará para conhecer o Museu Salvador Dali que fica em... fica em... Saint Pete.
Outra pergunta: quem foi a Orlando, neste primeiro semestre do ano, ou ainda vai, com ou sem filhos colocou esse Museu no roteiro? Poucos, acho. Afinal, Outlets são bem mais "compensadores". Malas que vão vazias e voltam cheias pagam a passagem em eletrônicos, roupas e tênis a preços irresistíveis. Por isso, fico longe de Outlets. Não quero gastar o que não tenho (rs). E além disso, se compramos só porque está baratíssimo já pagamos muito caro. Pagamos mais caro ainda se compramos o que, de fato, nem precisamos. Um Real aplicado no dispensável é o dinheiro mais desperdiçado do mundo diz um amigo.
Pois bem, outro mito que um professor meu gostava de atacar é que os americanos são super individualista. Segundo ele, que morou nos Estados Unidos, Europa e Ásia, poucos povos como o americano tem senso de coletivo, de comunidade tão grande! O círculo social da maioria dos americanos se dá no âmbito da Igreja que frequentam. Nos Estados Unidos, o voluntariado é bastante desenvolvido. Não conheço por aqui ninguém que reserva algumas horas de um dia da semana para contar histórias para crianças numa escola ou biblioteca comunitária. Memélia que mora em Kissimmee faz isso.
Para a maioria dos brasileiros, o social limita-se ao círculo familiar. Se pode fazer uma doação ou empregar, principalmente quando o salário do contratado não lhe sai do próprio bolso, procura logo uma parente. Herança portuguesa, bem esclarecida no livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
O americano, quando enriquece, aporta recursos para a Universidade onde estudou. Quando morre, doa parte do patrimônio para instituições as mais variadas. Inclua no rol aquela que pesquisa a cura do câncer e também aquela que busca vida em outros planetas.
A fachada do Museu foi inspirada em elemntos deste quadro |
O Museu Salvador Dali foi criado a partir da coleção da milionária Eleanor Reese Morse e seu último marido A. Reynolds Morse. Foi em Sain Pete que ela morreu, em casa, aos 96 anos, em julho de 2010. O Museu foi inaugurado em janeiro de 2011. "Nosso" Abaporu, de Tarsila do Amaral, marco do Modernismo, no Brasil, mora hoje na Argentina.