quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na Flórida, o Museu Salvador Dali... Imperdível para quem está em Orlando

 Por Clara Favilla
A terra do Tio Sam,  os Estados Unidos, é a mais xingada do Planeta, não é mesmo? Muito dessa xingação deve-se, cada vez me convenço mais disso, ao nosso desconhecimento sobre esse gigantesco, diverso e complexo país e do peso que tem no mundo.  E também porque do que nos chega de lá, a maior parte é lixo na forma de entretenimento (basta se analisar a grade dos canais pagos), igrejas evangélicas preocupadas com exorcismos e dízimos, além do fast-food.

Meu pai, que  faleceu em 1993, sem ver milagres tecnológicos como a internet, por exemplo, tinha consciência disso. Para ele, o mais despretencioso dos filmes americanos era sempre superior, em termos técnicos e performances artísticas que qualquer produção nacional. Ai tem quem diga que com muito dinheiro tudo fica melhor mesmo. Que dinheiro, como já disse Nelson Rodrigues, compra até amor verdadeiro. Mas sou cética com respeito ao tal nosso cinema, seja qual for o orçamento envolvido. Diretor brasileiro não quer fazer filme, mas revolução. Escritor brasileiro não se permite contar uma história, quer criar uma nova linguagem. 

Assista-se um filme protoganizado por Julia Roberts, desses românticos e contabilize o esforço físico, artístico e financeiro da produção.  E os filmes de Stallone? Abstraia da história e concentre-se nos cenários. Fabulosos. Alguns tão fortes e rico de detalhes que me fazem lembrar o Juízo Final de Michelangelo que cobre uma grande parede da capela Sistina,Vaticano. Não não riam, por favor. Estou falando sério.



As escadarias apaixonantes lembram a fascinação de Dali pela representação do DNA
Uma amiga viajou pelos Estados Unidos, aquelas tais viagens costa a costa e voltou maravilhada com tudo de bom e belo que encontrou pelo caminho, inclusive preciosos  museus de Arte Moderna. Sem falar, os que os que abrigam coleções de Impressionistas e  de Fauvistas, seus predecessores.  Faço aqui uma  digressão:  quantos dos que me lêem, estando em Nova York, foram ao MOMA  ou ao Metropolitam?

Muitos dos que não foram, certamente atravessaram a ponte e perderam um dia interiro naquele Outlet de New Jersey. Longe pra caramba. Não, eu não conheço esse Outlet. Registro aqui  que fiz uma única viagem e a trabalho aos Estados Unidos. Estive em Nova York e Washington. Sim,  em NY fui ao Moma e ao Metropolitam, nas horas livres que me restaram. Um amigo, nas poucas horas de folga de uma viagem de trabalho a Washington, visitou a lindíssima Biblioteca do Congresso.

E quem, estando em Orlando, foi até Saint Petersburg   ? (Deixe a preguiça de lado e clique à esquerda para saber mais) É uma cidade  lindinha de 300 mil habitantes, um pouco menos que Tampa, que também fica na Flórida. Em uma hora, no máximo, se chega a Saint Pete, vindo de Orlando, que todo mundo conhece de olhos ou de ouvidos por causa de seus parques temáticos e os brinquedos da Disneyworld. Tampa fica mais lonjinha, duas horas.

Quem botou  no meu mapa Saint Pete, como é chamada pelos americanos, foi a amiga Memélia (@memeliamoreira) que mora em Kissimmee também nas redondezas de Orlando. Ela me disse que vai a Tampa e que aproveitará para conhecer o Museu Salvador Dali que fica em... fica em... Saint Pete.

Outra pergunta: quem foi a Orlando, neste primeiro semestre do ano, ou ainda vai,  com ou sem filhos  colocou esse Museu no roteiro?  Poucos, acho. Afinal,  Outlets são bem mais "compensadores". Malas que  vão vazias e voltam cheias pagam a passagem em eletrônicos, roupas e tênis a preços irresistíveis. Por isso,  fico longe de Outlets. Não quero gastar o que não tenho (rs). E além disso, se compramos só porque está baratíssimo já pagamos muito caro. Pagamos mais caro ainda se compramos o que, de fato, nem  precisamos. Um Real aplicado no dispensável é o dinheiro mais desperdiçado do mundo diz um amigo.

Pois bem, outro mito que um professor meu gostava de atacar é que os americanos são super individualista. Segundo ele, que morou  nos Estados Unidos, Europa e Ásia, poucos povos  como o americano tem senso de coletivo, de comunidade tão grande! O círculo social da maioria dos americanos se dá  no âmbito da Igreja que frequentam. Nos Estados Unidos, o voluntariado é bastante desenvolvido. Não conheço por aqui ninguém que reserva algumas horas de  um dia da  semana para contar histórias para crianças numa escola ou  biblioteca comunitária. Memélia que mora em Kissimmee faz isso.

Para  a maioria dos brasileiros, o social limita-se ao círculo familiar. Se pode fazer uma doação ou empregar, principalmente quando o salário do contratado não lhe sai do próprio bolso, procura logo uma parente. Herança portuguesa, bem esclarecida no livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.

O americano, quando enriquece,  aporta recursos para a Universidade onde estudou.  Quando morre, doa parte do patrimônio para instituições as mais variadas. Inclua no rol aquela que pesquisa a cura do câncer e também aquela que busca vida em outros planetas.



A fachada do Museu foi inspirada em elemntos deste quadro

O Museu Salvador Dali  foi  criado a partir da coleção da milionária Eleanor Reese Morse e seu último marido A. Reynolds Morse. Foi em Sain Pete que ela morreu, em casa, aos 96 anos, em julho de 2010. O Museu foi inaugurado em janeiro de 2011. "Nosso" Abaporu, de Tarsila do Amaral, marco do Modernismo, no Brasil, mora hoje na Argentina.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Paris de Wood Allen e o deserto de Bertolucci, espaços de miragens

por Clara Favilla

Depois de assistir e ruminar sobre Meia-noite em Paris de Wood Allen, não consegui deixar de estabelecer paralelos com um dos filmes que mais amo e que não me canso de rever: O céu  que nos protege, de Bertolucci. Alguns rirão do que estou dizendo. Mas, acompanhem meu raciocínio. Não é tão louco assim!

Nos dois filmes estamos falando de viagem não é mesmo? Viagem pelo mundo físico, para dentro de nós mesmos, de nossas fantasias, do nosso imaginário que só é importante  nos contatos possíveis com o imaginário dos nossos semelhantes, esses seres que coabitam o Planeta Terra, tão desconhecido  quanto o universo que nos rodeia. Se há mesmo um universo nos rodeando...


Pode ser tudo uma ilusão de ótica! Me perco em leituras sobre o universo: origem, formação e futuro. Uns dizem que é infinito. outros que é muito, muito menor do que imaginamos; que as bilhões de galáxias são apenas projeções infinitas sobre a tela do espaço/tempo que podemos perceber a partir das limitadas habilidades que temos e dos instrumentos que contruímos.

A Ciência não é afirmativa. Afirmações pertencem ao terreno da Fé. Aí são outros quinhentos. Em questão de fé, sou uma nulidade. Dizem que há um gene específico  que define as pessoas como crédulas (no bom sentido) ou em eterna dúvida.  Pertenço ao segundo grupo. Lamentavelmente. Admiro as pessoas de Fé. 

Mas tenho um ponto a meu favor, acho. Entendo que a transcedência  para o que for além do que somos aqui neste mundo, não se faz sobre ou sob as asas da Fé. Só desapego. Epa! tem gente que acha mais difícil desapegar-se do que ter fé no Juízo Final, Ressurreição dos Mortos, na Vida Eterna, Amém.  Então deixemos essas considerações para lá. Voltemos aos filmes.




Paris e o deserto são mitos. São espaços de miragens. Por isso, o paraleo entre o filme de Wood Allen e o de Bertolucci.  E em espaços assim, somos outra pessoa. Falamos diferente. Nos comunicamos diferente conosco e com quem nos é próximo ou distante. Perdemos referências e ganhamos outras.

Digo que viajar é se permitir um estado alterado de consciência que se dá como magia, sem qualquer aditivo: alcool ou qualquer outra droga. Não falo aqui de quem viaja com malas vazias e fazem roteiros de compras. Nada contra. Apenas não tenho tempo para isso quando viajo. E vou ser bem sincera: nem dinheiro.

Geralmente nem volto com a mesma mala da ida, mas com uma menor.E na bagagem de mão algum tesouro: um desenho, uma pequena escultura... Quando a viagem é longa, vou deixando roupas e sapatos pelo caminho. O sapato mais confortável do mundo pode machucar se você anda dez horas por dia. Melhor  trocar de modelo de vez em quando.  Se estamos no verão, é mais barato comprar uma camiseta nova do que mandar lavar a suja.

Viagens são assim. Despimos literal e metaforicamente do que somos. Nos transformamos. Não se preocupem, a rotina depois  nos endurecerá de novo. A não ser que estejamos sempre em movimento, mesmo  quando catatônicos, engessados pelas dificuldades diárias. Afinal, não é preciso de trem, ônibus, avião, de andar ou "fumar" pra se viajar.

Bem, o post está enorme e não fiz os paralelos que pretendia entre os filmes de Allen e do Bertolucci. Posso voltar ao assunto. Mas quero terminar lembrando Cervantes: A vida é o que se vive acordado ou o que se vive em sonho? O que é estar desperto? Ou que estar em estado de sonho?  Aí a chave dos dois filmes.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Somos os lugares que habitamos, as viagens que fazemos, as pessoas que amamos...

por Clara Favilla

Há limites para a beleza de uma mulher? Se existem, no caso de Ava Gardner, foram quebrados. Viajei pelos olhos felinos de Ava, em A condessa descalça , que passou  na noite desta quinta-feira, no TelecineCult. 




Viajei tanto que a vi nadando nua, iluminada pela lua, na casa de Hemingway, em Cuba. Diz a lenda que ela e o escritor tiveram um romance. Casamentos, Ava teve três. Todos breves.  O primeiro com Mickey Rooney. Sim aquele ator feio e baixinho. Depois com um músico - clarinetista - Artie Shaw, que quis fazer dela  uma pessoa  culta como Arthur Müller, o teatrólogo, quis fazer com La Monroe. Por último, casou-se com Fank Sinatra.

Além desses três casamentos, Ava teve um logo caso - dez anos -  com aquele estranho bilionário doublê de aviador e agente secreto, Howard Hughes, acometido de esquisitices compulsivas obsessivas como as de lavar as mãos até sangrarem.  Teve também caso com um toureiro famoso, Luis Dominguin. Morreu em Londres, 1990. Não teve filhos.

Dizem que A condessa descalça é quase uma biografia de Ava, que nasceu de uma família paupérrima. Só chegou a Hollywood porque seu tio, um fotógrafo, colocou na vitrine de sua loja, em Nova York,  fotos da garota. Alguém de um estúdio fotográfico famoso passou por ali, viu as fotos e o resto é história. O primeiro salário de Ava foi de 50 dólares semanias.O poeta Jean Cocteau, em referência aos olhos felinos da atriz, a definiu como "o animal mais belo do mundo".

No filme, a protagonista, Maria Vargas, dança em um cabaré de Madri, mas não se socializa com os clientes nem por dinheiro. Faz suas próprias regras. Quando criança, foi explorada pela mãe que a fazia dançar pelas ruas por uns trocados dos transeuntes. Assediada por um produtor americano a procura de um novo rosto para apostar, acaba se mudando pros Estados Unidos. Sua vida amorosa é um mistério. Não se entrega a homem algum, mas tem casos secretos. Como Ava, a mãe de Maria morre quando seu primeiro trabalho é lançado.



O filme é interessante ao tentar decifrar o mistério de uma mulher a partir de vários pontos de vistas masculinos. É inovador na concepção, ao fazer a história voltar de acordo com quem a está narrando. É também interessante por começar pelo fim: o enterro da protagonista, que só se sentia segura em vida, quando descalça com os pés em contato com a terra, a sujeira. Morta, todo o seu corpo, barro que é, à terra retornará.

No filme, há a mobilidade psicológica representada pelos vários pontos de vistas que  sequer chegam a arranhar o mistério da protagonista. E também a mobilidade física: a história acontece em  locais diferentes: Hollywood, Madri, Nice, Mônaco e a Villa do Conde Vincenzo Torlato-Favrini (Rossano Brazzi) que se casou com Maria. Daí o título de condessa que vai pro epitáfio da protagonista. A escultura de mármore, para a qual a condessa posou descalça, viaja da Villa onde viveu seu conto de fadas e tragédia para o cemitério. Ali, sua beleza que seria efêmera se continuasse viva, continuará reinando como arte.

Bem, enquanto via o filme meu pensamento descambou para analogias bastantes apropriadas e outras bem viajandonas. Maria gostava de andar descalça, um jeito poetico de se começar a ver, imaginar uma mulher nua. Ava gostava de nadar nua. Não só de nadar, mas de andar nua pela casa e pelos jardins da casa de Hemingway, que conheci quando estive em Cuba, em 1996, com minhas amigas, também jornalistas, Rosalva Nunes e Liliana Lavoratti. Enquanto eu via a Villa do nobre italiano, no filme,  também me via andando pelos jardins da casa de Hemingway.

Em certos momentos, eu não não só via o filme como  produzia mentalmente um outro com tudo o que eu sabia do escritor e da atriz. Somos os lugares que habitamos, que conhecemos, que  visitamos  acordados e revisitamos em sonhos. Somos as viagens que fazemos. Somos as pessoas que amamos.

Em Madri, Maria era uma dançarina. Em Hollywood, uma atriz. Em Mônaco, uma mulher frívola e ladra. Na Villa de seu  problemático marido, que lhe apareceu tal o princípe de um conto de fada: uma condessa.  Ava, a atriz,  movimentou-se entre cenários reais e fictícios e amou homens dos mais diferentes ofícios: ator, músico, escritor, aviador/agente secreto, toureiro.

Hemingwy era jornalista. Cobriu a guerra civil espanhola e escreveu Por quem os sinos dobram. Depois, de viver na cidade dos cabarés e cafés escreveu Paris é uma festa. Em Havana, escreveu O velho e o Mar. Morou em Cuba por mais de duas décadas e só deixou a ilha em 1960, depois que Fidel assumiu o poder, por pressão, dizem, do governo americano.

A casa de Hemingway eu já conheço. Vou agora procurar a Villa do Conde Torlato-Favrini .No filme, é dito, que fica perto de Rapallo, uma cidade litorânea. Eu conheço Rapallo. Não custa tentar. Mesmo que a Villa do filme tenha sido um cenário pintado, a real certamente estará por lá. Ou melhor, várias delas.

 Em Paris fui andar por Passy, onde encontra-se o prédio do apartamento, aquele do Ultimo Tango, o de Bertolucci com Marlon Brando. Fui de metrô, pela estação de Cambronne. Neste trecho, o metrô é aéreo. Passa sobre e não sob o Sena. À direita de quem vai em direção ao Trocadero, La Eiffel. Voltei a pé. Quando passava pela Pont de Bir-Hakeim,  fui perseguida por um negão de terno claro, chapéu Panamá  e inacreditáveis sapatos ... vermelhos. Tive que correr e, para despistá-lo, refugiei-me num restaurante. Mas esse já é outra filme, outra história... Outro devaneio.

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Stanno tutti bene": Assaltaram a gramática, assassinaram o plural... Caiu ministro, subiu ministra...

por Ruth Simões


Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando


A música é linda! Sangrando, de Gonzaguinha. É... Tenho que concordar! Pra falar, escrever, soltar a voz, é preciso se entregar. Fiz um longo silêncio... Nos últimos três meses e pouco fiz infinitos posts mentais. Mas todos pareciam sem sentido e morreram no caminho. Faltava a entrega...
Coração na boca


Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando


Sou meio bicho. Tenho um movimento muito próprio, muito meu, de ficar sozinha em mim nas fases mais difíceis. É uma espécie de concentração para aguentar o "tranco". Preciso pensar, aceitar, entender, digerir, pensar de novo... e só depois continuar. É uma hibernação, um viver só o estritamente necessário: o que não pode ser evitado. 




Ô fase difícil... A vida decidiu me mostrar que ela é quem manda! Não... Ninguém está doente, graças a Deus! Também não há nada que precise ser dito. Nada fora do normal! "Stanno tutti bene". "Estamos todos bem", como no filme de Giuseppe Tornatore. Que deveria ser traduzido como "Estão todos bem", segundo um amigo.  Sim, eles estão bem. O narrador não se inclui.


Adoro o filme, com Marcello Mastroianni. Encabeça a minha lista de filmes pra "morrer de chorar", ao lado de Cinema Paradiso, do mesmo diretor... Aposta certa quando estou com nó na garganta. Porque se a vida não me faz chorar... a arte consegue!  
 
Mas não é para dar falar de tristeza que estou aqui. Pra falar disso... continuaria em silêncio. Fiz o meu balanço! Foi um tempo de entendimento, de aceitação e, principalmente, de humildade. Tempo para rever o passado, pensar o presente e querer o futuro. E perceber que, apesar de alguns erros essenciais, tudo valeu a pena. Estar aqui me mostra que não corro mais perigo. Quero ficar na superfície! Quero ficar com vocês...

O mundo não parou de rodar. Assaltaram a gramática, assassinaram o plural... Caiu ministro, subiu ministra... Criaram o RDC para as obras da Copa do Mundo... Defenderam a transparência "relativa", a ética "elástica"... Perdi bons papos. Mas estou de volta. E venho comemorar no Café & Veneno. Aliás, um pouquinho mais de veneno no meu café, por favor. Mas só três gotinhas... Rsrs

Comidinhas que provei

por katia maia

Inauguro aqui no Café & Veneno a série ‘Comidinhas’. Na verdade, não há pretensão alguma nessa minha iniciativa. Não quero formar opinião, ditar regra, apontar lugares. É apenas uma necessidade que sinto de falar sobre o que ‘provei’ e ‘gostei’ ou  ‘não aprovei’.

A gente anda sempre por aí, conhecendo novos lugares e espaços, querendo novidades e alternativas legais para experimentar e muitas vezes acerta, outras, nem tanto, e acaba caindo em roubadas.

Tem momentos em que a gente conhece lugares ou experimenta receitas tão gostosas (mas tão gostosas) que pensa: - taí, esse eu passo adiante, esse eu recomendo.

Pois bem, essa é minha intenção, passar adiante a opinião de quem é uma pessoa comum, sem formação em gastronomia, sem nenhum estudo em especiarias, temperos, etc. Aliás, nem cozinhar eu sei (minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa), mas aprecio uma boa mesa e gosto do que é saboroso.
Portanto, aí vai... Comidinhas para os leitores do Café & Veneno.

O meu primeiro post vai para o 'Bocadillo del Barsa' do Bar Barcelona, na 206 sul.



Essa é apenas a meia porção. O Bocadillo foi rachado
com uma amiga. "Provei e aprovei'
 
Esse sanduíche é simplesmente muito bom. Ele vem numa porção bem generosa. O bocadillo (que é sanduíche em espanhol)  leva lingüiça frita e um molho muito especial que é simplesmente maravilhoso.

Não perguntei como era feito, nem os ingredientes do prato. Não é essa minha intenção. Meu objetivo é apenas saborear o prato que foi perfeito para uma noite de quinta-feira, quando a gente não está muito a fim de enfiar o pé na jaca e quer algo leve e saboroso.

Peço que etentem para o molhinho que acompanha o bocadillo. É simplesmente 'superb'.

O Bocadillo del barsa custa R$ 18,00 e foi ‘rachado’ entre mim e a minha amiga Ana Paula, que é minha parceira para o que chamamos de '5as sem lei'  - dia que escolhemos para sair e colocar o assunto em dia e experimentar sempre um lugarzinho diferente da cidade. Bom, a dica de hoje foi apenas um ‘mimo’ para quem quer comer um bocadillo gostoso, leve e sem compromisso.

Serviço:
Bocadillo del Barsa
Bar Barcelona
CLS 206 Sul, Bloco A, Loja 06 - Brasília / DF
Tel.:(61) 3242-1141

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aposte sempre em caminhadas, cinema e boas leituras

por Cris Lopes

De uns três anos para cá, doenças e doencinhas resolveram me pegar depois de anos e anos de muita saúde. De vez em quando desanimo, então durmo. Acordo novamente com força e otimismo para enfrentar tudo de novo.

As caminhadas que faço pela cidade tornaram-me uma observadora de mão cheia. Na trilha Cláudio Coutinho me distraio com micos, pássaros lindos e raros; e ainda me enterneço com o mar bem ali abaixo.

Saiba mais sobre trilhas no Rio: http://migre.me/55G6F
                        
Depois da caminhada sempre paro um pouco para descansar e observar barco pesqueiro, mergulhador chegando com a captura de um polvo, algum mico pulando de galho em galho. Penso muito em como preciso de pouca coisa para me sentir feliz. Se meu marido estiver comigo, sou mais feliz ainda naquele momento. Quando o neto está, nem consigo descrever a emoção que sinto.

Além desses passeios, vou ao cinema e tenho lido muito.  Já contei aqui minha disposição de ler todos os livros de  Luiz Alfredo Garcia-Roza.  Também estou lendo Nove Noites, do Bernardo Carvalho.


O mar visto da Pista Cláudio Coutinho

Bom,  gente, o inverno chegando com força, o calor sumiu e hoje não choveu. Já não é um motivo para se sentir feliz? Olhem bem o céu azul cobalto do entardecer, o por do sol e a vista maravilhosa. Neste horário os pássaros se recolhem, passam em frente ao meu apartamento.

Adoro os periquitos barulhentos, as gaivotas, os patos, mas detesto quando estou na rua e tenho que passar pela cachorrada. Ops, ainda bem que o carioca aprendeu a recolher o cocô do cachorro e não precisamos mais ter asas nos pés.

Há mais mistérios numa salada de tomates do que supõe nossa vã filosofia...

Por Clara Favilla

Tem coisa mais trivial do que salada de tomates? Ela é o mais frequente acompanhamento do nosso arroz/feijão de todos os dias. Mas, lamento se você não tem aquela salada de tomates predileta, aquela inesquecível, onde o fruto (trata-se sim de um fruto), reine soberano, sem rival, entre os alimentos crus de nossa mesa.

A melhor salada de tomates de Brasília, quição do Brasil e do mundo

A minha salada de tomates inesquecível é a da minha madrinha Nair, uma das irmãs mais velhas de minha irmã. Nascida e criada em Ouro Fino, sul de Minas, vive hoje rodeada por filhos, noras, um genro, netos e bisnetos, em Itaúna, bem pertinho de Belo Horizonte.

Na salada da madrinha Nair os tomates estão mais para maduros do que para verdes e são enfeitados por algumas rodelas de cebolas. O tempero nem azeite leva, mas óleo mesmo desses de soja. Sei lá o que ela faz. Acho que ela tem um pózinho mágico que misturado ao sal e à pimenta-do-reino  dá sabor especial à modesta salada que faz. Melhor ainda se servida com arroz acabado de sair da panela de pedra e um ovinho estrelado de gema molinha no centro e quase durinha nas beiras, a clara levemente totasdinha por baixo.

O bônus do almoço no Bar do Sílvio foi o reencontro com o casal Márcia Lorenzatto e César Borges,  companheiros de profissão e amigos de longa data. A foto foi feita no Dona Lenha da 413 Norte, onde o  Badu nos levou, depois do almoço, para um delicioso café.
                                                       
Eu já dei muitas e muita voltas inteiras e meias  pelo país dos pomodoros, a Itália. Mas nem na Toscana, nem na Sicília, Umbria ou Calábria encontrei salada de tomates como a da madrinha Nair. Na Grécia, as que comi quase chegaram lá.

Mas como não há reinado que sempre dure, no sábado, a convite da amiga Penha Saviatto fui ao Bar do Silvio, um boteco, na 104 Norte,  que lhe foi apresentado por Eduardo Badu. E não é que lá encontrei uma salada que considerei ligeiramente superior a da minha madrinha? Badu diz que é a melhor de Brasília. Eu digo que tende a ser a melhor do mundo, pelo menos do meu mundo conhecido.


Badu e Penha: Efeito café do grão especial Cofee Lab. No Dona Lenha ele é servido com uma palito de cana-de-açucar que `funciona como colher e lhe sabor extra. 

No almoço, dividi um bife de fígado com a amiga Penha. Gente, igualzinho aos a minha infãncia feitos pela milnha avó ou minha mãe: selado na face e contraface e tenro por dentro. Dizem que a rabada do Bar do Sílvio também é de se comer rezando. Tô doida para experimentar.

Não vou entrar em mais detalhes porque o Badu prometeu um post para este blog sobre a alta gastronomia de boteco, disponível em Brasília. Aguardemos!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Não assistiu Thor na telona? Perdeu.

Fui ver Thor no "escuro". Nem sabia que era a última sessão do seu último dia de exibição na telona. Agora, caros, só na telinha da tua casa.  Chegar ao cinema já foi uma aventura porque quem prometeu me levar lembrou-se da promessa em cima da hora. Não vou ao cinema sozinha nem que a vaca tussa. Me sinto desconfortável, abandonada.


Thor, o deus do trovão, por Mårten Eskil.

E, como sempre acontece,  quando estamos com pressa, não conseguia, ao sair de casa, achar a chave do portão principal. E o portão menor é desses com trinco de cadeado. Coisa antiga essa em! Fui penteando os cabelos molhados pelo banho de três minutos, durante o percurso de carro.

Pensa que achamos vaga logo ao chegar no Pier 21? Claro que não! Ficamos numa fila para entrar no estacionamento. Na nossa vez, o moço que cuida do fluxo de carros impediu a entrada com cones. Eu botei a cara pra fora da janela e gritei que pelo amor de Deus nos desse passagem,  que queríamos ir ao cinema e a sessão já se iniciava. Foi como se eu dissesse Abracadabra! O mocinho abriu um sorriso e a a porta do paraíso.

Pedi que meu acompanhante corresse para comprar os ingressos porque eu demoraria pelo menos o triplo do tempo para subir as escadas que nos levam do estacionamento à beira do Lago -  um crime ecológico e paisagístico-  ao andar considerado térreo do Pier, onde estão os cinemas. Bem, resumindo, foi o tempo de sentarmos e o filme começou. Valera  a correria, não perdemos um minutinho da saga desse herói que aprendi a amar  nos desenhos animados assistidos pelos meus irmãos mais novos quando meninos.

Thor, o deus dos trovões, das tempestades. Thor e seu martelo mágico, como era mágica a espada do Rei Arthur, o da Távola Redonda. Desde criança implico com a palavra távola. Por que não Mesa Redonda. Minha mãe me disse que Távola é mais poético. E assim aprendi que nomear as coisas é diferente quando se opta entre o apenas falar e fazer poesia.


Logo no início, reconheço na voz do narrador, o próprio Odin, ninguém menos que Sir  Anthony Hopkins  .
Sim, o ator  inglês que, cansado de fazer com o mesmo empertigamento, seriedade e laconismo, nobres ou criados, como também do fog londrino, foi viver na ensolarada Califórnia e tornou-se um dos atores mais versáteis e amados do nosso tempo.

Já deu pra vocês perceberem que eu não sabia nada sobre o filme dirigido  por outro "monstro" , Kenneth Branagh , o irlandês de Belfast (cidade que conseguiu  superar a fama de mais feia e deprimente da Europa),  que em vinte e poucos anos de carreira  carrega um currículo de 37 filmes como ator e outros 13 como diretor, entre eles duas obras de Shakespeare : Muito barulho por nada e Hamlet. Ah! ele também foi marido de Emma Thompson.

 Odin cavalgando Sleipnir , seu cavalo mágico ( Tjängvide image stone)
Bem, com Hopknis no papel de Odin e Branagh na direção o que temos? Um Thor que é cinema e, ao mesmo tempo, teatro. E os efeitos especiais como os que criam a  ponte mística  entre Céus e Terra são apenas detalhes. Por mim, a tal ponte poderia ser apenas um risco luminoso. Gostaria do filme do mesmo jeito. Mas desculpemos quem foi ver o filme só por conta dos tais efeitos, nada desprezíveis, apresso-me a dizer já como espécie de retratação.

Ah! ia me esquecendo Thor é personificado pelo ator australiano Chris Hemsworth  (28 anos e currículo ainda pequeno), que conseguiu humanizá-lo, dar-lhe a necessária força e fragilidade.  A mocinha (Jane Foster) é a Cisne Negro Natalie Portman,  atualmente em todo tipo de grande produção cinematográfica. Atriz que acompanho desde os tempos de menina em O profissional.  A linda Rene Russo é  Frigga, esposa de Odin.

Bem, mudando de filme. Vocês sabem se haverá Homem de Ferro 3. Adoro!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ovos fritos na banha de porco para um pistoleiro...O nome dele? Perfumado

por Memélia Moreira
 
O chão de terra batida vibrava sob os passos dos manifestantes. Num espaço que só por uma licença poética poderia ser chamada de “praça” o palanque armado para os discursos de figuras que naquele longínquo ano de 1991 eram a tradução de todas as esperanças de um Brasil sonhado por muitos.

Ali estavam um metalúrgico chamado simplesmente de Lula, representantes da Ordem dos Advogados da França, vários parlamentares, entre eles o deputado José Genoíno, que anos antes, naquela mesma região pegara em armas para lutar contra as opressões, artistas de televisão, bispos e dois heróicos religiosos, padre Ricardo Rezende e o dominicano francês Henry des Rozièrs, os dois jurados de morte por todos os fazendeiros do sul do Pará e norte do Tocantins. Homens que mereciam integrar a galeria de heróis da pátria.



Rio Maria (PA): Nos arredores desse paraíso correu e ainda corre muito sangue
                                         
Estávamos em Rio Maria, onde a terra exala sangue da resistência camponesa na luta pela Reforma Agrária. Três meses antes dessa manifestação, em dois de fevereiro mais um sindicalista fora  assassinado. Com tiros suficientes pra matar um pelotão, Expedito Ribeiro de Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, que anos antes servira de apoio para a guerrilha do Araguaia foi morto pelo pistoleiro João Serafim Sales, vulgo ‘Barreirito”, a soldo do fazendeiro Jerônimo Alves de Souza. E naquela tarde, em Rio Maria, três mil pessoas gritavam “chega de impunidade”.

Os discursos se sucediam quando Padre Ricardo me chamou num canto. Voz calma mesmo sabendo estar sob a mira de tantos matadors de aluguel, ele me diz que no meio da multidão, sob uma árvore que se debruçava fazendo sombra no fundo da praça havia um pistoleiro. Era conhecido pelo apelido de “Perfumado”.

Padre Ricardo temia provocações e pediu minha ajuda para neutralizer a perigosa figura.
Desci do palanque com minha agenda de anotações. Já não trabalhava mais em jornais. Era assessora do procurador geral da República e fui a Rio Maria acompanhar dois outros procuradores. Caneta em punho, assumi a função de repórter, da qual nunca me afastei. Conversei com duas ou três pessoas ao redor do pistoleiro, fingindo entrevistá-las. E me aproximei do alvo. Antes, pedi ao pessoal da TV dos Trabalhadores que fossem comigo. Expliquei-lhes a situação e eles fingiram filmar. Fiz a aproximação. E localizei dois revólveres. Um no cinto da calça e outro na meia. Os dois do lado direito.
 
"Trabalho por empreitada"

O pistoleiro cheirava à distância. Deve ter despejado um galão de perfume barato por todo o corpo. Pra quem gosta de Chanel nº 5 e Montana era um atentado ao olfato. Senti náuseas. Mas, eu assumira o compromisso de afastar “seu” Perfumado da manifestação. Estava em missão. Controlei meus medos e preconceitos. Antes de tudo, me apresentei. Ele olhou com desconfiança. E elogiei seu perfume.

Ele abriu o sorriso lisonjeado, feliz. Bêbado, sequer prestou atenção ao nome com o qual me apresentei (em situações de emergência, crio na hora nome e sobrenome. Naquele dia eu me chamava Glória Pimenta). Conversamos um pouco e lhe perguntei se podia me dar uma entrevista para o “Jornal do Povo”, nome do jornal mantido por minha família em São Luis e fechado pelo golpe militar de 1964. Mais feliz ainda, ele concordou.

Fiz as perguntas clássicas de identificação: nome, idade, profissão. Profissão? “Trabalho de empreitada moça”. Não aprofundei sobre que tipo de empreitada ele aceitava. No sul do Pará, onde naquela época os únicos artigos da lei eram o 38 e o 45, calibres mais comuns usados pelos matadores, trabalho de empreitada inclui também a pistolagem.

Volta e meia ele parava de responder e prestava atenção nos discursos. Rosnava baixinho. E indagava “a moça é amigo desse pessoal?” Não, sou jornalista. Já não sabendo mais o quê lhe perguntar, disse que estava com sede e o convidei a beber alguma coisa. Foi quando ele me testou. Gosta de cachaça. Disse que “só da boa”. E resolveu me pagar um trago. Tomei de um gole para lhe mostrar que também era uma “profissional”.

Ele se animou e passou a contar vantagens, que era bom de tiro, que não errava o alvo nem depois de uma garrafa de cinco litros de vinho ‘Chapinha”, que as mulheres da cidade eram “doidinhas pelo seu criado aqui” e, que estava com fome. Ofereci lhe pagar um sanduíche ali mesmo. “Não, a moça vai lá em casa. Vamos comer ovos fritos porque eu preciso ficar forte, o comício ainda não acabou”.

A casa ficava afastada, longe da praça onde estavam todos os meus amigos, a minha segurança. A essa altura o pânico sucedeu o medo. Entrar na casa de um homem desconhecido, bêbado e, além de tudo, pistoleiro, sem capacete colete à prova de balas era insanidade. Mas, não havia alternativas. Naquele momento ultrapassei a barreira da insensatez. Fui.
 
BENDITA REDE
 
Pelo caminho, para disfarçar o desconforto, demonstrar naturalidade, perguntei se ele preferia ovos com manteiga. Não. Manteiga não tem gosto. Bom é banha de porco. Urgh! Engoli em seco. Mas, vamos lá. Banha de porco, naquele momento era o quê menos me incomodava.

Chegamos numa pequena casa. A construção de tão desajeitada, parecia um dromedário. Mesa, dois bancos e uma rede. Sala, cozinha e quarto no mesmo espaço. Perfumado remexeu debaixo da cama e tirou um fogareiro de acampamento. A panela era uma frigideira de latão. Ele abriu a garrafa de vinho (vinho?), procurou um copo e me serviu. Era o único copo. Ele bebia na boca da garrafa. Felizmente a casa era de barro e pouco iluminada. Despejava meu copo de vinho na parede sem chamar atenção.

Quando ele pegou os ovos dentro de uma cesta sobre a mesa, não tive dúvidas. Seu Perfumado, vou ficar ofendida se não fritar esses ovos. Foi então que percebi que ele começava a ficar insconsciente com a bebida. Ufa! Ele, não discutiu, me entregou os ovos e disse que ia esperar na rede. Quase me ajoelhei para agradecer os dois santos a quem sempre recorro. Quebrei um ovo para fazer barulho e ele começou a cochilar.

Quebrei outro ovo e chamei, “Seu Perfumado, os ovos estão fritos”. Não houve resposta. “Seu Perfumado, os ovos estão fritos”. Novo silêncio. Tirei o sapato para poder correr pelo chão de terra de Rio Maria. Cheguei à histórica manifestação – a primeira acontecida no município – ainda em tempo de ouvir a estrela maior do comício dizer que o Brasil só conheceria Justiça quando se fizesse Reforma Agrária. Eram as palavras finais do então metalúrgico Lula, que mais de dez anos depois foi eleito presidente da República.
De seu Perfumado, não tive mais notícias.

O pistoleiro João Serafim Sales, matador de Expedito, foi condenado, fugiu da prisão em Marabá e, já no século XXI,  capturado pela Interpol em Boston, nos Estados Unidos, depois de ser reconhecido por migrantes brasileiros. Jerônimo Alves Amorim, o mandante do crime tornou-se o terceiro fazendeiro, em todo o País, a ser condenado pelo assassinato de um líder camponês na luta da  Reforma Agrária. O dois primeiros foram Vantuir de Paula e Adilson Laranjeira, mandantes da morte de João Canuto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria a quem Expedito sucedeu e que tombou com 119 tiros em 18 dezembro de 1985.

E eu até hoje não sei que gosto tem ovos fritos em gordura de porco.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Branca e radiante lá vem a noiva...

Capítulo II,  buquê de margaridas

por Clara Favilla e Ângela Coronel

Bem, meu último post, a partir das fotos do primeiro casamento de minha amiga Ângela Coronel, deu o que falar aqui mesmo (vejam comentários), no Twitter e no Facebook.  Bem, há os que acreditam em festas do tipo contos-de-fada, mesmo que noivos e respectivas famílias acabem quase se  matando na organização. E a noiva chegue à Igreja ou à recepção à beira de uma ataque de nervos.  mas como se diz, mais vale um gosto, mesmo acompanhado de desgostos, do que dinheiro no bolso.


Vista do Rio, a partir da varanda do Clube Piraque, na Lagoa. O mais chique é a paisagem... 

E há os que acreditam que estamos nos perdendo em esbanjamentos nos dias de hoje. Faço parte dessa segunda turma. Principalmente porque não tenho como fazer festas que não sejam apostando no aconchego da minha casa, na boa bebida e comida. Caso minha filha resolva oficializar  um relacionamento, nem eu ou os pais dela (sim, ela tem dois - achava estranho isso - mas ela acabou achando outros dois por conta própria. Um na Inglaterra e  outro na Bélgica). Então são quatro, agora.

Bem, se todos eles se cotizassem para dar a Bebel uma festa de milhares de reais, dólares ou euros,  certamente ela,  mesmo com todo romantismo que lhe é peculiar, também seria bastante pragmática. Aplicaria o dinheiro em uma festa linda e simples, de forma que sobrasse bastante para comprar  meia dúzia de flautas e fagotes de épocas e luthiers diferentes

 Bem, mas vamos ler, o que a querida Ângela tem a dizer sobre o próprio casamento. Vale a pena:

Clara querida,
Só hoje li o post.Me deu vontade de contar mais um pedacinho do casório. Foi no Clube Piraquê, pela manhã. Um vizinho me deu carona pra chegar lá. Os parentes foram antes. Quando percebi que estava na hora de ir, vi que não tinha grana pro taxi. 

No meio do caminho me dei conta de que também não tinha pensado no buquê. Paramos no primeiro florista do Leblon, onde ganhei, do vizinho, um maço de margaridas, que a vendedora fez a gentileza de envolver em....papel de alumíno!!! Lá fui eu, feliz da vida, encontrar meu noivo e os amigos que se dispuseram a acordar mais cedo(era mais barato o aluguel do salão). 

A festa foi de uma alegria só, cheia de amores e gargalhadas. Não teve lista de presentes (alguns chegaram com uma lembrança nas mãos),  nem convite.Só um aviso (no quadro que ficava no cafezinho da redação) para os amigos.Os parentes foram na base do boca-a-boca. Consegui conversar com cada um dos que foram, receber beijos e abraços. E, por incrível que pareça, apareceu até uma freirinha, da família do ex, que ,precariamente, com uma oração, abençoou as alianças. 

Acho que acabei influenciando as mulheres da família. Não houve uma sequer que tenha casado com pompa e circunstância. Uma optou por simplesmente se mudar para outra casa;outra fez uma feijoada regada a roda de chorinho, outra casou com um traje chinês original, que eu tinha acabado de trazer da China. E por aí foi. São todas mulheres independentes que hoje, separadas ou juntas com seus pares originais, levam a vida com prazer. 

Obrigada, Clara, por me fazer lembrar de tanta coisa. 
Angela Coronel

domingo, 12 de junho de 2011

Branca e radiante lá vem a noiva de mini-saia...

Minha amiga, Angela Coronel casou-se, pela primeira vez, aos 21 anos. Olhando assim é uma noiva bem normal, não é mesmo? Apenas substituiu o véu por um chapéu.
Vocês tem ido a algum casameno ultimamente? Eu tenho. E vejo que noivos e pais dos noivos gastam o que tem o que não tem  numa recepção para ninguém botar defeito. Tudo bom, tudo muito bonito. Mas será que vale a pena, principalmente em uma época que casamentos desmancham-se como nuvens?

Aqui um espantoso recato.
 E tem aquela coisa do protocolo. Depois da cerimônia, os fotógrafos sequestram os noivos para mil poses  enquanto os convidados ficam lá a ver navios... As festas estão suntuosas demais e parecidas demais.

A moça passa o dia todo se aprontando. E, agora, o moço também. Um amiguinho meu disse que ficou tão atônito com os serviços prestados que até deixou que lhe fizessem a sobrancelha e depilassem o tórax. Passou a lua-de-mel rindo de si mesmo.

Mas aqui vemos que é uma noiva nada convencional. Não se casou na Igreja, só no civil e de mini-saia.

Os jovens estão caretas demais para nós que nos casamos na década de 70. Casamentos na Igreja, então, eram verdadeiros sacrifícios para atendermos a vontade dos pais e avós. E quando cedíamos, tratávamos de nos vestir o mais simples possível. Uma amiga minha casou-se de vermelho. É bem verdade que só no civil.

Outra amiga, comprou um vestido branco desses de se usar no Ano-Novo e se casou, na Igreja, de sandália rasteirinha. e estava linda. Também me casei na igreja e de branco. Mas eu mesma comprei com minha mãe os tecidos: organza e renda. O único enfeite era um caminho de pequenos botões na abertura das costas. Nada de véu e grinalda. Só algumas flores nos cabelos.

Nada de frusfrus e ela está linda!

No meu casamento, meu irmão foi o DJ. A festa foi  no próprio apartamento onde eu morava com minha família. E dançamos até de madrugada.

Quando eu vejo minhas jovens amigas gastando pequenas fortunas com bufê, cerimonial, flores, vestido, salões de festa, realmente não me conformo. Sim, é bonito. Mas do outro jeito também era. É um dia especial. Sim, é. Mas tá tudo muito boliudiano demais. É  preciso  mesmo que os noivos desçam ao salão de festas num elevador faiscante?

A madrinha foi Marisa Raja Gabaglia, colega de Ângela em O Globo, Rio

As festas de casamentos estão cheias de efeitos especiais. E a maioria deles bastante bregas. Nosso jeito de casar,  nas décadas de 70 e 80 combinava com nosso jeito de ser e de encarar nossa vida, o futuro. Hoje as festas estão todas parecidas sejam os noivos de classe média, média alta ou rica. Tudo assim meio Revista Caras.

 Fui a  um casamento que cantores e bandas se alternavam. Foi servido coquetel, jantar, mesas de sobremesas, novamente café e doces e quem varou a madrugada saiu de café da manhã tomado. Vivemos tempos de exageros.
Marisa arrasou nesse mini vestido!
Precisamos repensar o custo benefício desssas festas, inclusive seus imactos sobre o meio ambiente. Não acredito em casas  acima de 300 metros quadrados ecologicamente corretas. Por mais que  se diga que o aquecimento é solar, que a madeira é reciclada e sei lá mais o quê. Preservar espaços vazios de construções também deveria ser nosso lema.

Entendo que casamentos não deveriam custar nem a entrada de uma apartamento, quanto mais um apartamento inteiro ou vários. Minha avó diria que gastos assim são desperdícios. Um verdadeiro pecado. Mas há uma luz no fim do túnel. Comprei uma revista de decoração semana passada que vinha com um artigo bem interessante: o chique é  cerimônia e festa em casa, na presença da família e dos amigos mais chegados. Viva!!!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Eu, a Coronela e Marisa Raja Gabaglia

Celebro, aqui, meu reencontro com uma das minhas queridas amigas jornalistas: Ângela Coronel.  Fazia mais de uma década que não nos víamos. Primeiro, começamos a nos falar pelo FaceBook. Ela me disse que só usa o twitter  pra saber sobre blitz e engarrafamentos de trânsito.

Nós, em foto de Nira da Silva Foster

O reencontro se deu por obra e  a graça de alguem que é mesmo a graça feito gente:  Graça Seligman, que promoveu, nesta quarta, mais uma reunião em seu lindo atelier. Em cada um desses encontros, além de desfrutarmos de boa comida, boa bebida, aconchego, beijos e abraços, cafunés, massagens no ego e tudo mais que os amigos se dão ao direito de distribuir mutuamente, sempre deparamos com grandes surpresas.

Com todo mundo tuitando e facebucando , hoje em dia, ficou fácil pescar de nosso passado recente ou longínquo aquela pessoa que dobrou a esquina do tempo, mas de quem nunca nos esquecemos. E a pessoa linda da vez foi Ângela Coronel que lá estava com a irmã Bete que mora no Rio.

As duas tem, no lugar dos olhos,  faróis verdes emitindo boas energias e dando passagem para nosso afeto e lembranças. Foi tão forte o reencontro que um "velha amiga" delas retornou do Além e deixou que nos contassem  histórias. Todas já públicas, mas que fora enriquecidas de detalhes favorecidos pela intimidade da convivência. Estou falando de  Marisa Raja Gabaglia.
 

Marisa fez de sua vida um livro aberto. Lançou diariamente aos quatro ventos páginas e páginas de um folhetim. Páginas preciosas e também daquelas bem baratas. Morreu aos 61 anos, em janeiro de 2003. Uma vida cheia de paixão, atribulações, sofrimentos e alegrias destiladas em público. Imagino se essa mulher houvesse alcançado a época das redes sociais. O que estaria aprontando.

Ângela, Bete, eu, Graça

Por que Marisa está neste post? Por que  muitas de suas histórias, testemunhadas por Ângela, de quem foi madrinha de casamento (do primeiro), tornaram a noite passada na casa de Graça e Miltom Seligan uma das mais hilárias dos últimos tempos. Muito riso e emoção permearam o desfile de lembranças . E, por nos ter feito o bem que só boas gargalhadas fazem, erguemos vários brindes a ela.

Certa vez, por conta de uma carona que pegou de Marisa, Ângela acabou numa delegacia. Claro que Marisa tinha que bater o carro, bem naquele dia!  E, na delegacia, além da confusão em que se envolveram, foram obrigadas a testemunhar uma briga familiar: a de um casal (o marido, notório malandro) e um senhor de idade (o pai da moça) que acabou tendo um ataque cardíaco e morrendo.  Leiam bem: eu disse: morrendo... caído, estatelado,  bem, bem assim aos pés delas.

Meu reencontro com Ângela renderá muitos post. Ela foi casada com Ismar Cardona, gaúcho que viveu no Rio e em Brasília e que escrevia sobre economia quando ninguém ainda se dedicava seriamente ao tema nos jornais diários. Foi lendo Ismar Cardona em O Globo que me apaixonei pelo mundo dos negócios, finanças, da produção. Cardona, já falecido (2007), foi o mestre dessa turma toda que anda por aí escrevendo sobre taxas de juros, contas públicas, Balança Comercial, Produto Interno Bruto e lá vai pedrada. Assim,  merece um post só pra ele. Prometo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Boteco Colarinho, em Botafogo, tudo de bom até pra quem não bebe...

Por Cris Lopes

Sabem aquele domingo nublado, chato e que você não programou nada para fazer? Pois é, estava assim o meu dia, eu já pensando em ler, ir ao cinema, quando me telefonou um amigo muito especial. Sérgio Pereira, morador de Brasília, amigo de tantos anos que nem sei quantos.

O Colarinho fica em Botafogo, bem pertinho do metrô, pra não ter desculpa de lei seca

Pois é, Sérgio estava no Rio e combinamos um almoço gostoso que virou tarde maravilhosa. Trata-se  de um velho conhecido de meus amigos jornalistas. Já foi assessor de imprensa do Ministério da Fazenda. Apesar dele andar de vez em quando por Botafogo resolvi apresentá-lo à praça Nélson Mandela e foi ali ao lado, na rua do mesmo nome que almoçamos no Colarinho.

Próxima meta do Colarinho: virar lan house. Internet para todos.
 Gente, que delícia. De cara uma entrada especial: o bolinho Toca do Matuto, feito de berinjela com recheio de carne seca. Como o amigo é dos meus e curte uma boa empada, partimos pra cima delas antes de almoçarmos.

"O Boteco Colarinho, inaugurado no segundo semestre de 2010, é mais um bar do Rio de Janeiro que incentiva o movimento das cervejas artesanais. Ganha o consumidor, que não fica mais preso a mesmice de sempre e tem a oportunidade de conhecer rótulos novos. Ganha também os cervejeiros, que encontram apoio para continuar com a produção. Fonte: Circuito de Botecos

Bio no twitter: Um boteco diferente de todos que você já viu. O único com 9 chopps.

Oferece 40 rótulos de cervejas. Entre elas,  Bamberg, Falke, Colorado, Mistura Clássica, Urquell, Brooklyns, Backer, as Schneiders, Konig, Kostritzer, Super Bock....
 Como sempre, não bebi. Não gosto de álcool e nem posso beber. Marco foi de chopinho, Sérgio de caipirinha e eu de água mineral. Grande novidade! Gosto de misturar água com gás com água sem gás. Acho que  fica perfeito.



Empadas do Colarinho, deliciosas!
Almoçamos  e depois demos um pequeno passeio em direção ao Botafogo Praia Shopping. Não fomos pelo caminho habitual, demos voltas, pois estávamos passeando. Shopping, compras? Nada disso, café e sobremesa no Cafeína Café. Viu, Kassati, também freqüento cafeterias, só não tomo o espresso. Eu de tortinha diet e o resto no café.

Querido Sérgio, amamos estar com você. Um domingo de ressaca nas praias e nós bem longe da confusão da natureza curtindo um bom papo, a amizade e uma tarde pra lá de especial. Repita a dose antes de mais uma vez ir embora para longe

Charmoso café com projeto arquitetônico de Hélio Pellegrino, é um lugar ideal para lanchinhos, um café da manhã demorado com jornal do dia na mesa e até mesmo almoços light. No cardápio duas novidades: cheesecake e o rocambole de morango com cobertura de chocolate, ambos light. O projeto arquitetônico de Hélio Pellegrino, ao prever o uso de materiais de demolição,  como madeira e azulejos hidráulicos, deu um toque rústico e acolhedor ao ambiente. Você  tem quatro opções de Cafeína Café no Rio: Botafogo, Ipanema, Leblon e Copacabana.


Siga no twitter: @botecocolarinho

Fotos do Boteco Colarinho, exceto  primeira e  última, são daqui:
http://femalecarioca.blogspot.com/