terça-feira, 23 de abril de 2013

Desilusão de janelas trancadas

Por Clara Favilla

Voo Santiago/São Paulo. Novembro de 1997. Manhã ensolarada. De novo sobre o mar dos Andes. O piloto avisa que o mais alto de seus picos, o Aconcágua, está ali, bem a nossa esquerda. O avião parece voar tão baixo e, como criança, penso poder tocá-lo só com um esticar de braços. Parece que nem se foi, faz tempo, o tempo de se querer uma escada bem alta para subir aos céus.

Foto do autor 

Lamento que o filme na minha máquina estivesse no fim e, prontamente, um passageiro gaúcho me presenteia um. O que lemos sobre os Andes não nos prepara para o assombro de sobrevoá-lo assim tão perto, o assombro de ver infinitos picos em série desafiando nuvens translúcidas.


Imediatamente, o que vemos nos permite incorporar o apenas sabido abstratamente: a Cordilheira é um longuíssimo sistema contínuo de montanhas ao longo da costa ocidental da América do Sul. É como se víssemos por um espelho imagens e cores se multiplicando infinitamente. Queremos atravessar o espelho e agarrar com as próprias mãos esse mistério grandioso. Não há medo. Só a desilusão de janelas trancadas.
Os Andes tem 8 mil km de extensão, a mesma do litoral brasileiro. É a maior cadeia de montanhas do mundo em comprimento, e em seus trechos mais largos chegam a 160 km do extremo leste ao oeste. Sua altitude média é de 4 mil metros e seu ponto culminante é o pico do Aconcágua com 6962 metros, na Argentina.
Os Andes se estendem desde a Venezuela até à Patagônia. Fazem parte da paisagem do Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. Na Colômbia e Venezuela ramificam-se e prolongam-se até quase tocar o Mar do Caribe. Em sua parte meridional servem de longa fronteira natural entre Chile e Argentina.
Na zona central, os Andes se alargam dando lugar a um planalto elevado, o Altiplano, partilhado pelo Peru, Bolívia e Chile. A cordilheira volta a estreitar-se no norte do Peru e se alarga novamente na Colômbia para estreitar-se e dividir-se ao entrar na Venezuela. Os Andes não separam, integram.

6 comentários:

  1. Enquanto estava lendo o texto, me ocorreu que nunca usei uma máquina fotográfica dentro de um avião. Engraçado, pois gosto muito de fotografia.
    Continue escrevendo para nossa alegria.

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    1. E era daquelas analógicas. Agora com celular, ficou mais fácil.
      Beijos

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  2. Gostei muito da linguagem poética.
    Vera Lúcia Mattos

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  3. Vi agora no G+. Muito bom.
    Regina Helena

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  4. Um dia conhecerei os Andes.
    Marcelo H.P.Dinis

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  5. Obrigada a todos os leitores do blog. Beijos

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