por Clara Favilla
Coisa
que não se deve procurar é o Amor. Quando mais se procura mais ele
foge. Bicho arisco. Amor é cavalo selvagem sem sela, a galope. Os
corajosos, como nos filmes de bandidos e mocinhos de antigamente,
pulam sobre suas ancas e agarram-se como podem às suas crinas. E é
preciso agarrá-las com força emprestada dos deuses para não acabar
derrubado e afogado em mares de cascalho, lama, poeira, ou tragado por abissais precipícios.
Está sempre de passagem e com pressa. O amor que se procura e se encontra é enganoso. Nunca é o que deve ser, como deve ser. Nunca tem o gosto, a temperatura, a textura que dele se espera. E se aparece como sonhamos é miragem. Pode-se acreditar na miragem. Há quem goste de se enganar, de se trair.
É o amor que nos acha. É preciso reconhece-lo na forma que chega, no instante que chega. Caso contrário, perdição pura. É um raio. Se os olhos estão fechados, só se sabe do trovão.
É o amor que nos acha. É preciso reconhece-lo na forma que chega, no instante que chega. Caso contrário, perdição pura. É um raio. Se os olhos estão fechados, só se sabe do trovão.
Amor não é da família dos elfos. Se tem a boca carnuda, os
olhos são mínimos. Se os olhos faíscam, o nariz é adunco. Se é alto, desengonçado. Se faz graça é
porque é triste. E se é triste, tem um menino que brinca dentro
dele. Nunca está à disposição. Nunca é pra sempre. Vai embora, mesmo quando não quer. Atrevido, caprichoso,
domina quando olha de lado, não quando olha nos olhos. Não aceita açoites. Nem grilhões. Também de nada adianta
paparicos. O Amor pode até comer na tua mão. Mas não agradece e a tua cama nunca é a definitiva.
Somos
fascinados por sorrisos, tons de vozes antigas. Por aconchegos que
fantasiamos. Mas o Amor não é feito de doces suspiros. É feito de
sangue, suor e lágrimas. Amor é terra de ninguém. É deserto
escaldante, é geleira. Nunca Jardim do Éden.
Clara, acho que quando o amor vem de mansinho ele vai crescendo, ganha novos atributos que ultrapassam a paixão e fica gostoso, bom de viver. Não adianta procurar, ele chega sem avisar.
ResponderExcluirFico contente quando abro meu e-mail e encontro seus textos. Sempre lindos e bem escritos.
ResponderExcluirViva o amor que move nossas vidas.
Muito lindo.
ResponderExcluirMais um belo texto. Mais uma prosa poética. Parabéns, Clara. Bjs
ResponderExcluirAcabei de ler o e-mail no qual uma amiga mandou o link do post. Gostei demais.
ResponderExcluirah, o amor! Sempre ele inspirando os poetas. Ainda bem.
ResponderExcluirGostei tanto deste texto. Ainda bem que hoje passei pelo G+ e ele, mais um outro, estavam lá.
ResponderExcluirHá anos costumo dizer que tem textos que devem ser saboreados "como sobremesa", porque muitas vezes doces, algumas ácidos, mas sempre deliciosos, como os seus. Abraços.
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