segunda-feira, 22 de abril de 2013

Bicho arisco


por Clara Favilla 
Coisa que não se deve procurar é o Amor. Quando mais se procura mais ele foge. Bicho arisco. Amor é cavalo selvagem sem sela, a galope. Os corajosos, como nos filmes de bandidos e mocinhos de antigamente, pulam sobre suas ancas e agarram-se como podem às suas crinas. E é preciso agarrá-las com força emprestada dos deuses para não acabar derrubado e afogado em mares de cascalho, lama,  poeira, ou tragado por abissais precipícios.
Está sempre de passagem e com pressa. O amor que se procura e se encontra é enganoso. Nunca é o que deve ser, como deve ser. Nunca tem o gosto, a temperatura, a textura que dele se espera. E se aparece como sonhamos é miragem. Pode-se acreditar na miragem. Há quem goste de se enganar, de se trair. 

É o amor que nos acha. É preciso reconhece-lo na forma que chega, no instante que chega. Caso contrário, perdição pura. É um raio. Se os olhos estão fechados, só se sabe do trovão. 
Amor não é da família dos elfos. Se tem a boca carnuda, os olhos são mínimos. Se os olhos faíscam, o nariz é adunco. Se é alto, desengonçado. Se faz graça é porque é triste. E se é triste, tem um menino que brinca dentro dele. Nunca está à disposição. Nunca é pra sempre. Vai embora, mesmo quando não quer. Atrevido, caprichoso, domina quando olha de lado, não quando olha nos olhos. Não aceita açoites. Nem grilhões. Também de nada adianta paparicos. O Amor pode até comer na tua mão. Mas não agradece e a tua cama nunca é a definitiva.
Somos fascinados por sorrisos, tons de vozes antigas. Por aconchegos que fantasiamos. Mas o Amor não é feito de doces suspiros. É feito de sangue, suor e lágrimas. Amor é terra de ninguém. É deserto escaldante, é geleira. Nunca Jardim do Éden.

8 comentários:

  1. Clara, acho que quando o amor vem de mansinho ele vai crescendo, ganha novos atributos que ultrapassam a paixão e fica gostoso, bom de viver. Não adianta procurar, ele chega sem avisar.

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  2. Fico contente quando abro meu e-mail e encontro seus textos. Sempre lindos e bem escritos.
    Viva o amor que move nossas vidas.

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  3. Mais um belo texto. Mais uma prosa poética. Parabéns, Clara. Bjs

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  4. Acabei de ler o e-mail no qual uma amiga mandou o link do post. Gostei demais.

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  5. ah, o amor! Sempre ele inspirando os poetas. Ainda bem.

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  6. Gostei tanto deste texto. Ainda bem que hoje passei pelo G+ e ele, mais um outro, estavam lá.

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  7. Há anos costumo dizer que tem textos que devem ser saboreados "como sobremesa", porque muitas vezes doces, algumas ácidos, mas sempre deliciosos, como os seus. Abraços.

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