Sou da noite, não da
farra noturna, gosto do silêncio de casa. Pessoas dormindo, um
ressonar aqui e ali, um bom livro e um copo d'água ao meu lado. Tem
coisa melhor? É hora de pensar, organizar os pensamentos e depois
dormir o sono dos justos. Tenho feito muito isso. É a hora da
meditação, de encontrar o centro, o tão desejado equilíbrio.
Para outras coisas
gosto do dia. Adoro sol, mas não me entendo bem com o calor, daí
minha predileção pelo mês de maio, nem oito nem oitenta. Perfeito.
Sinceramente, mesmo sabendo da necessidade, não gosto de chuva, mas
quando ela cai depois de muitos dias desaparecida e vem aquele cheiro
forte de terra molhada, eu amo. Amor fugaz.
É bom acordar em um
dia fresquinho, abrir a janela, respirar profundamente e ver o mar,
as montanhas e muitas gaivotas. Algumas vezes urubus se intrometem no
meio delas e mesmo sendo um bicho horrível, voando é maravilhoso
como se fosse garça. A vida é assim, plena de contrastes.
Penso em mim e dou um
rápido passeio no passado. Percorro meu itinerário de vida,
alterado várias vezes por mudanças intempestivas. Cai, levantei,
cai de novo, encontrei o amor pleno da maternidade e que maravilha!
Fui avó de um lindo menino loirinho com cara de anjo e que hoje é
um adolescente saudável. Dádiva, só pode ser. Amei, fui amada,
encontrei o amor que eu queria e digo com sinceridade, sou feliz. Não
tenho mais desejos supérfluos, encontrei, no meio de dores e
alegrias o que acho ser meu equilíbrio. Enlouqueci? Talvez, mas
ganhei sabedoria, muito menos do que gostaria.
Como todos, também
adoeci, curei-me, adoeci de novo e vou levando a vida sorrindo na
certeza de que nada nos acontece por acaso. Fatalista? Quem sabe.
Mulher de fé, sou. Fé em tudo: Deus, pessoas, natureza, mundo...sou
daquelas que acredita que o meu país melhorou e nem gosto de me
lembrar da palavra ditadura; é como se fosse um cancro cravado na
alma, daqueles que médicos e remédios não curam.
Quando jovem era uma
espoleta. Quanto mais coisas melhor. Foi divertido, mas passou.
Amadureci, descobri a paz de estar em casa, a alegria d presença dos
filhos, do neto, dos amigos, tudo assim calmo, um pouco de cada vez,
pois sou inimiga do estresse que conheci tão bem. Depressão? Nunca
mais ela me pega e só me pegou, juntamente com uma síndrome do
pânico, porque eu estava desprevenida e pensando que o trabalho era
a coisa mais importante do mundo. Passei um tempão sem parar para
ver os pássaros, aprender a tirar uma abelha da casa sem machucá-la
e muito menos matar, coisa simples que não ia e resolvia logo com
uma chinelada sem pensar na importância do animalzinho.
Estou longe da
perfeição, e o pavor de baratas adquirido na casa de uma de minhas
avós? esse irá comigo até a eternidade, mas como tenho sorte,
nunca vi uma em minha casa e nem escutei o som bem baixinho (tsc,
tsc) que elas fazem quando correm ou se preparam par o voo.
Pois então, mais uma
das minhas estórias em uma noite de outono. Fica o registro.