Por Leda Flora
Mas o slow food já se espalhou por 150 países, embora seu ritmo seja tão lento que adotou a figura de uma lesma como logo. Fundado em 1989 na Itália, sob a batuta de Carlo Petrini, não tem pressa para agregar adeptos, adota um discurso consistente, e seus sabores diversificados são absolutamente sedutores. Cada lugar com seus próprios produtos, seu gostinho, batendo de frente com a globalização.
Num primeiro momento, parece apenas se opor ao fast food. Que nada, vai muito além disso, envolvendo questões culturais, econômicas, climáticas, ambientais e sociais. A cada dois anos, promove o Terra Madre, encontro mundial das comunidades do alimento não-industrial. De verdade, se preocupa menos com sanduiches e muito com a padronização alimentar, o desaparecimento da tradição culinária regional, o desinteresse pela procedência e pelo sabor dos produtos. E vem mostrando que nossa escolha alimentar afeta o mundo.
Olha só, o planeta produz para alimentar 12 bilhões de pessoas mas a população está na casa dos 6 bilhões. Assim, a exigência sobre a terra é enorme, que sucumbe sob tanto produto químico. Colheita realizada, ganha o lixo. Por dia, a Itália joga fora quatro mil toneladas de alimentos; os Estados Unidos, 22 mil. O planeta perdeu 70 por cento da sua biodiversidade e a fome castiga milhões e milhões. Gaia vem perdendo seu valor sagrado diante da política do consumismo. E a exigência de uma nova visão, um novo humanismo e novos sujeitos para tratar a terra e o alimento deveria ser uma prioridade. O slow food pensa assim.
O direito à qualidade do alimento e a valorização da agricultura local, bem como o respeito à sazonalidade, seriam um alento contra o desperdício e, de quebra, preservariam a cultura, a história. Mas o que se vê é o transporte de um produto exótico de continente para continente, agregando poluição, o amadurecimento de frutas com a utilização de gases, os supermercados invadidos por caixinhas industriais. O ideal seria comer como antes, de acordo com o clima e ao ritmo das estações, pois sempre que dizemos não à natureza perdemos muito.
E a comida, vale a pena? Claro que sim. Afinal, um italiano idealista não correria o mundo por um prato menor. Seria contrariar a natureza e a cultura do país dele. Outro dia mesmo, degustei uma paella com frutos do cerrado simplesmente super, encaixada na trilha da ecogastronomia, cem por cento sustentável e sem agressão á natureza. E é gostoso quando Carlo Petrini, com sua emoção mediterrânea, vira tudo de cabeça para baixo e brada: "Comer é um ato agrário, produzir um ato gastronômico, e moderno mesmo só a agricultura local".
Fui supervisora de um restaurante ítalo-americano de slow-food, em Orlando. Foi meu único emprego aqui. É que estava montando um personagem para meu livro e trabalhei lá. Terminei lendo muito sobre o movimento slow-food e viajei por 17 cidades americanas por conta desse restaurante. Mas, montei o personagem e hoje só vou até lá quando quero comer aqueles pratos super gostosos.
ResponderExcluirBelo post. Além de um alerta contra o esnobismo de comer pratos exóticos, vem com a griffe de uma autora que consegue transformar em leitura agradável (e palatável) até mesmo uma árida portaria do Diário Oficial.
Obrigada por espalhar a idéia
Memélia
Vou participar do primeiro evento na quinta. Adorei o texto. Linda, Leda Flora
ResponderExcluirPenha Saviatto
A nossa querida Memélia como sempre bombando até nos comentários, não é mesmo Leda querida?
ResponderExcluirBeijos para as duas.
Clara e Memélia, vocês estão me mimando demais. E eu me acostumando... Beijo vocês. Com todo carinho. Leda
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