Uma história bem contada
Cesar Valente
Uma história bem contada é combustível para a alma. Desde, é claro, que o ouvinte, leitor, espectador, tenha por hábito escancarar as janelas... da alma, ao ouvir, ver, ler, assistir. O filme "Meia noite em Paris", de Woody Allen, é uma dessas histórias bem contadas. E acredito que muitos dos espectadores saem do cinema com a alma em chamas, o peito aquecido e a imaginação voando à velocidade da luz.
As boas histórias, quando contadas com habilidade, nem precisam ser muito complicadas. A ideia do filme, no fundo, é bem simples: um escritor (que poderia ser qualquer pessoa com um nível cultural razoável) refugia-se em outra época e lá encontra os personagens que deram, àquela época, a reputação charmosa que tem. E assim como a grama do vizinho é sempre mais verde, em geral achamos que aquilo que não vivemos, porque ocorreu antes de nós, deve ser mais interessante.
A partir daí, o cinema do velho mestre nos envolve, num espetáculo que é puro entretenimento e faz a delícia dos sentidos. E tal como aqueles filmes que assistíamos quando muito jovens, nas matinês dos cinemas de rua (que hoje são templos evangélicos), é impossível não sair do cinema pensando no que vimos (vivemos?). E imaginando como seria se, em vez do americano aquele, o personagem principal fosse... eu. E quem seriam as mocinhas?
Não tem quem não tenha pensado em voltar no tempo. É um sonho recorrente na vida, na literatura, no cinema, em todo lugar. Nem que fossem apenas algumas décadas. E é impossível parar de pensar nisso, ainda mais depois de ter visto, há pouco tempo, o "Meia noite em Paris".
Sempre que a gente fala em como Florianópolis (ou qualquer outra cidade) era divertida na década de 1970, ou como parecia animada na década de 1920, quando a majestosa ponte de aço foi construída, está embarcando na mesma canoa em que Woody Allen nos conduz Paris adentro. E sempre que a gente sonha em poder encontrar novamente (ou pela primeira vez) alguém no passado, talvez para poder dizer alguma coisa diferente, ou roubar o beijo que faltou e que nos atormenta a vida inteira, acaba chegando à beira daquele precipício horroroso que é a nossa mortalidade, de onde só se pode escapar usando a imaginação. Navegando nas asas das histórias bem contadas.
Nota da Editora:
Achei o recadinho do César Valete que acompanhou o texto acima tão delicioso, que o compartilho com os amigos leitores deste blog:
Bom dia, Clara:
abaixo, pequena resenha sobre o filme aquele, que vou publicar amanhã na minha coluna de papel. Como se trata de coisa rápida, sem tratar dos segredos que o passado sempre protege, talvez nem sirva para o blog (faltou o veneno). Mas é um pouco mais do que a gente consegue dizer no tuíter.Com isso, Clara, ficas abastecida até que Carmensita e eu voltemos da nossa viagem e possamos revelar o que vimos. É claro que não iremos contar tudo, até porque tem coisas que a gente vive, sente e experimenta que, se colocadas "no papel" perdem tanto, que talvez nem valha a pena tentar. Mas pode deixar que arranjaremos alguma historinha mais saborosa para saciar tua curiosidade. Nem que a gente tenha que inventar.
Abs e bjs
Cesar
Que lindo texto.
ResponderExcluirLembrar do passado do que fizemos ou deixamos de fazer sempre deixa o coração apertadinho de saudade do momento.
Adorei o filme do Woody Allen e sai do cinema com vontade de voltar para a França passando, é claro, por Paris. Depois mudei de ideia e perdi de novo a vontade de sair do país. A minha meta agora é conhecer o que me falta neste Brasil onde conheço muitos lugares e quero mais.
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