terça-feira, 30 de agosto de 2011

O mais nutritivo alimento para o espírito é festa com efe grande

Por Leda Flora 

Festa é soma da energia de um grupo que se reune para celebrar alguém ou algo, permitindo que a alegria invada tudo, inclusive as células. A festa faz tão bem antes, durante e depois, que, se a medicina fosse mais atenta e sensível, indicaria para o mundo inteiro, sem exagerar na dose para não banalizá-la. É preciso esperar por ela, viver nela, rir feliz no dia seguinte lembrando dela. E o melhor: não se leva festa pra casa porque, luzes apagadas, percebe-se sua imaterialidade.

Graça e Milton Seligman, os anfitriões bem-amados
Festa são momentos em que se dá permissão para a felicidade entrar pelos olhos, pela boca, pelo nariz, pelos ouvidos, pelos poros, pelo tato. Momentos em que se concede ao corpo o direito de se mexer do jeito dele. Momentos de abraçar e beijar pessoas queridas. Momentos de conversa boa e fiada, de cantoria. Festa é um sem fim de sorrisos trocados, um número colossal de dentes expostos. Festa é transgressão do cotidiano, barulhão bem-vindo, taça de cristal.
Graça e Chapinha, o garçom  da pá virada
 Festa é a ocasião perfeita para esquecer as dificuldades naturais da vida. Não importa se momentaneamente. Tempo indicado para viver com abuso e prazer o presente, como se nada mais existisse. Brincadeira bonita para grandes e pequenos. O mundo todo faz festa, sempre foi assim. Pode-se até afirmar que se trata de uma das poucas tradições que resistiu ao tempo e apenas foi adotando outras versões, novos figurinos. Celebrar integra o DNA das gentes. É deliciosamente humano.

Aqui, Macao Goes representando todas as amigas e fãs do casal
Mulheres se preparam com critério: roupa, maquiagem, cabelo e acessórios escolhidos a dedo. Com elas, nada é aleatório. Nada é em cima da hora. Ritual milenar que jamais será posto de lado. Homens, nem tanto, mas também eles têm lá os seus critérios. Como os imperadores do mundo antigo?  Quem sabe? Afinal, festa deve reunir pessoas bonitas, perfumadas e dispostas a fruir a generosa oferta de tudo de bom, inclusive a possibilidade de um encontro especial, uma das grandes fantasias que encerra.

E,  não poderia deixar de faltar a nossa Leda Flora, a autora do texto
 Senti esse mundo de sensações na festa de aniversário de um amigo queridíssimo, Milton Seligman, no sábado, 20 de agosto.. E ainda houve um plus quando ele se revelou roqueiro de carteirinha para seus convidados, uma opção da maturidade mas com entusiasmo menino, e se apresentou no palco como percussionista de uma banda super bacana, animadíssima, que ele leva tão a sério como sua atividade de dirigente empresarial. Festa de arromba: chique, despojada, gostosa, descolada, cabeça. A cara do Milton. 

Edição: Clara Favilla 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ela todo dia faz tudo igual: se atira do térreo... Conheça Maria Lúcia, a tuiteira

por Memélia Moreira

Na vida, real ou imaginária, há quem mate um leão todos os dias. Outros cantarolam, às vezes artisticamente, que todo dia é dia de índio. Uns tantos, os queixosos rotineiros, reclamam da falta de originalidade dizendo que todo dia  ela faz tudo sempre igual. Mas só ela, Maria Lúcia, todos os dias se atira do térreo. E faz sempre tudo igual, até mesmo matar seus leões, medos, frustrações que se sucedem diariamente numa sequencia de bipolaridades e incertezas.


Mas quem é Maria Lúcia? Ela existe na vida real ou é apenas mas um desses personagens que vivem no planeta de Nenhures? Ela pisa no chão, almoça, toma banho, lê, ama? Ou flutua no etéreo mundo virtual? Que idade ela tem? É bonita igual a imagem pública que divulga? Ou é apenas comum e se esconde sob o escudo de uma beleza consagrada?


Sim, Maria Lúcia existe. E apesar de ainda não ser uma mulher famosa, com ensaios ou livros publicados, sem sequer ter posado nua ou participado dos bigbroderes, ela tem um biógrafo oficial. Chama-se Lula Falcão, cronista, jornalista, pernambucano, radicado na República da Vila Madalena, São Paulo.


Lula tem esse dom extraordinário, quase exclusivo dos cronistas, que é o de observar,com acuidade e ironia, o comportamento humano na sua individualidade e nos seus envolvimentos coletivos. Foi isso que ele fez ao traçar o perfil de Maria Lucia.


Ela é o o retrato de uma personalidade que começa a chegar à idade madura sem ter conquistado seus ícones próprios. É a digna representante de uma geração-hiato que se dividiu entre aqueles  que sentem nostalgia dos inconformistas e hippies dos anos 60 e os que, talvez por opção, foram incapazes de seguir a trilha dos yuppies dos anos 80. Daí que passam dias, e noites, caçando no baú do tempo, causas ou bandeiras válidas para o século XXI.  Tudo isso na luta incessante para pagar o aluguel no fim do mês, comer além do miojo com ketchup e, a qualquer custo, ter o suficiente para se embriagar e assim sobreviver num universo paralelo onde todas as pequenas misérias da vida se desfazem.

A  personalidade de Maria Lucia se traçou logo no prefácio. Lá está o buraquinho da fechadura para espiar esta mulher que   “... é contraditória. É maluca. É cachaceira. É maconheira. É fogosa. É angustiada. É solitária. É viciada em internet. É uma filósofa. É atarantada. É a cara do nosso tempo”. O tempo das redes sociais. Maria Lúcia, na verdade,  não passa de uma tuiteira, neologismo da  rede social,  Twitter, que tolera amor, ódio, sexo, política, poesia, ensaios, monografias, merchandasing. Tudo em 140  caractéres. 


Com todas essas característica, é claro que Maria Lúcia é uma personagem que seduz, irrita, diverte, provoca. Tipo da pessoa que mesmo escondendo seu rosto na multidão, não consegue passar despercebida. E, fisicamente, é difícil não apreciá-la. Está entre 30 a 40 anos, diz seu biógrafo. Na capa do livro, ela não mostra o rosto porque ele é feito de mil, duas mil faces. Mas há seu corpo. Um  belo corpo de mulher. Esguia, longas e bem delineadas pernas, joelhos  inspiradores. Os sapatos, apesar de gastos, são de alguém que tem bom gosto, embora se vista de modo quase vulgar. Calma, não precisa chamar as patrulhas. Maria Lúcia não está de vestido colado, curto e cor-de-rosa comestível. Ela não consegue ser totalmente vulgar. Até nisso fica no limite.


Dispersa, essa personagem é desempregada ou, às vezes, subempregada. Seu maior obstáculo é responder um formulário burocrático para deslanchar sua profissão. Obviamente, num país acostumado às benesses do estado, sua profissão, mais ou menos indefinida, depende de recursos governamentais. Quantas pessoas você conhece assim? Diante da impossibilidade, Maria Lúcia vai sufocando sonhos. Passa pela extrema humilhação de voltar à casa dos pais que, seguem a fórmula da classe média brasileira. Ou seja, a mãe lhe sugere fazer concurso público. De fiscal. Ela quer apenas sair com sua câmera na mão atrás de uma idéia.


QUERO FAMA

Tão multifacateda é Maria Lúcia que podemos encontrá-la em em diferentes  perfis dos tuiteiros. Seu biográfo, fez uma verdadeira “operação pente-fino” entre os frequentadores de sua tela do computador. E ela, a exemplo de outras marias-lúcias, busca a fama em 140 toques . E confessa seu pecadilho:
“Arrisco um comentário num post de um jornalista conhecido. Cruzo os dedos enquanto espero a resposta. Não veio. Que vergonha. Queria mesmo era dar uma notícia quente...”

Nesse mundo de tuiteiros, há muitos que seguem a fórmula de Maria Lúcia, já profetizada por Andy Warhol. Fama quae sera tamen..Ou, por 15 minutos. Outros criam uma vida totalmente fictícia. Tuitam suas ilusões e terminam por acreditar nessa irrealidade talvez para fugir da aridez de suas próprias vidas. O Twitter tem sua biodiversidade. Há acadêmicos enfadados, curiosos anônimos, intimidades artificiais, encontro de velhos amigos e de novos amigos de infância e, principalmente, um dilúvio de informações. Até mesmo as úteis.

A edição do livro optou por uma diagramação (ai que saudades de ver uma página de jornal sendo diagramada!) que usa o símbolo @ para iniciar cada parágrafo. Até nisso, a biografia escrita  por esse jornalista, escritor e tuiteiro nos remete à vida do mundo virtual. Afinal de contas, o símbolo da arroba que há tempos tinha cheiro de naftalina,  vestiu roupa nova e se impôs ao mundo desde que o computador  se popularizou. Portanto, embora seja essencial para os tuiteiros, ela é entendida por qualquer pessoa que tenha acesso ao revolucionário mundo da internet.

Não sei se Lula Falcão, jornalista que aprendi a admirar exatamente nesse  universo etéreo tem consciência de ter escrito o primeiro manual psicanalítico  dos tuiteiros. Mas só sei que escrevi esse texto cheia de cuidados. Afinal de contas, tento analisar o livro de uma pessoa que tem um texto onde reúne profundidade, leveza, humor e ironia. Claro, tem um pouco mais de 140 caractéres. Por isso, apaguei. Ops! Deletei frases, reescrevi trechos. Enfim, suei num ambiente onde a temperatura está sempre a 22° C. Quase roendo as unhas, igual foca na sua primeira matéria de 15 linhas.


Mas chega de blablábla. Recomendo a leitura. E garanto que “Todo dia me atiro do térreo #tuiteira” vai fazer você se sentir totalmente normal. Só peço que quando terminarem de ler, me informem se Maria Lúcia é real.
P.S. Antes que me esqueça. A editora se chama BOOKESS