*Eduardo Balduino
Eu
vi, por exemplo, Brasília nascer. Em Goiânia, vi o horror da Ditadura pelos
meus olhos ainda de uma criança que não entendia porque o pai, tio, tia, eram
presos. Aliás, em Goiânia, foi a primeira vez que vi as pessoas na rua
defendendo sua convicção, confrontando caças e tanques em defesa de seu
governador. E foi lá, anos depois, que vi o primeiro comício pelas Diretas Já.
Eu
vi, em Brasília, a força do sentimento de gratidão quando o povo levou o caixão
de JK nos ombros e fez a força militar ainda da Ditadura recuar.
Antes,
eu vi, ainda em Goiânia, dois fenômenos que, hoje, poderiam ser criticados pelo
viés da estética, mas que mudaram o mundo. Vi, em 68, os jovens parisienses e,
em 69, os jovens de Woodstock.
Nossa!
Vi, também em Goiânia, Geraldo Vandré cantando, pela última vez no Brasil, “Prá
não dizer que falei de flores”. Na verdade, ele não cantou. Fez um show
fantástico, para 3 mil pessoas no Cine Teatro Goiânia. No final, sob os pedidos
para cantar o hino da resistência à revolução, começou a dizer que estava proibido
de cantá-lo, enquanto, no fundo, a banda tocava - e cantamos nós todos a
música, guardados por soldados que preenchiam os corredores do teatro. De lá,
Vandré foi para o Chile, naquela mesma noite.
Vi,
e compreendi, a força da arte nas revoluções. Como nesse show que aconteceu em
Brasília, no último dia 29 de junho, em homenagem a Renato Russo.
Vi,
nas redes sociais, muita gente criticando o espetáculo, porque um ou outro
errou a letra, ou porque Jerry Adriani – que pouca gente hoje sabe quem é –
estava lá. Como tentaram ridicularizar Ivete Sangalo chorar sentada no chão do
palco.
Respondi,
para uma jornalista: vocês estão vendo o show, e eu, o fenômeno.
Meninos,
estou vendo agora um movimento de ruptura cultural acontecendo no país e tem
gente preocupado com o desafinar de um cantor.
Talvez
não tenham notado, no telão de fundo de palco, a bandeira do Brasil tremulando
seguidas vezes. Nem percebido o mestre de cerimônias do show pedir – e conseguir
– um minuto de silêncio pelos mortos nas manifestações que se multiplicam no
país há alguns dias – e que estão mudando o país.
Pois,
o que eu vi no show transmitido ao vivo de Brasília foi a irreversibilidade
desse movimento, que começou com uma reivindicação de tarifas de ônibus mais
baratas, e se transformou na mola propulsora de mudança de um ciclo.
A ponto de os
que o iniciaram também não entenderem a sua extensão e se renderem ao seu
próprio alvo.A ruptura se
dá quando é transformada em sentimento uno. No tributo a Renato Russo, eu vi
isso.
Não são os
vinte centavos da passagem de ônibus. Não são os estádios erguidos para a Copa.
É o sentimento de mudança que se
cristalizou no país.
E, por ele, estamos todos cantando
juntos, desafinados, ou não. Mas, todos no mesmo tom: o da mudança.
*Jornalista
*Jornalista
Adorei seu texto. Bjs
ResponderExcluir
ResponderExcluirشركة تنظيف بالقطيف
شركه نقل عفش بالقطيف
شركة تسليك مجاري بالقطيف
شركة مكافحة حشرات بالقطيف
شركة تنظيف بتبوك
شركة نقل عفش بتبوك