Não é repórter, é uma faz-tudo na redação. Tipo secretária de luxo, assessora para assuntos profissionais, pessoais e aleatórios. Fala inglês, arranha francês e tem um portunhol muito eloquente que está aprumando com a cubana que começou esses dias a trabalhar na sucursal de Brasília.
Participa das reuniões de pauta, anota tudo e até dá palpites. Quando alguém quer medir a temperatura de determinado fato chama a Cleusinha. Ela comenta as roupas da Dilma, sabe que a rainha da Inglaterra foi internada com problemas estomacais, quem tá saindo com quem. Já nos primeiros capítulos diz se uma novela emplaca ou não. E avalia como ninguém os programas eleitorais. Se você não sabe, já leu muitas colunas reproduzindo comentários inteiros da Cleusinha sobre política e economia. Ela é a voz do povo que refresca certezas enferrujadas e coloca por terra, muitas vezes, trabalho de um dia ouvindo especialistas,
Cleusinha é a memória da redação e principalmente do chefe por quem tem devoção. Sabe a senha dele no banco. Faz retiradas no caixa automático, faz pagamentos e depois dessas saídas é capaz de chegar com uma gravata nova pra ele. Bem mais bonita do que a jararaca da mulher comprou na Itália. E diz isso bem alto pra quem quiser ouvir, inclusive o chefe.
Sabe nada de vinho. Mas o chefe só compra o que ela degusta e aprova.A boca da Cleusinha nasceu pras delícias dessa vida. E vai logo desfilando características que deixam os entendidos de cabelos em pé e mudos. "Este vinho compra não chefe, dá um travo no céu da boca e desce pesado. É daqueles que dão dor de cabeça. Este outro só é bom pra quem gosta de cravo, canela. E este tá parecendo a cidra que minha mãe compra pra fazer ponche"
Mas vou parar de descrever a Cleusinha e ir ao que interessa. A fofa chegou, pela manhã, à redação, de cara boa como sempre, mas meio borocoxô. Não trouxe pão-de-queijo pra ninguém e o pior, começou cantarolar música da tia Rita Lee : "Kiss me baby, kiss me baby, kiss me/ Pena que você não me kiss/Não me suicidei por um triz/ Ai de mim que sou assim!" Um dos fotógrafos gritou lá do fundo redação: " Ai, ai, Cleusinha, desembucha. Diz aí o que não deu certo no fim de semana". E dela ouviu um sonoro: "Vai te catar cara!"
Ihhhhhh, melhor não cutucar a onça com vara curta!
Depois da reunião de pauta, com o dia já encaminhado, pausa para um café. Cleusinha chega ,me dá um beijinho na orelha e suspira. Fico logo sabendo que no fim de semana ela encontrou Deus e o mundo. Só não encontrou quem quis. Faz uma carinha de conformação e vai cuidar da vida que não é de ficar pensando na morte da bezerra. Sai de fininho pra encurtar a conversa.
E eu, ali esvaziando devagarinho a Xícara de café, me lembro do poema do querido professor Cassiano Nunes: Por acaso encontrei / Mesmo em Roma ou Paris/ Amigos do Brasil / Só não achei quem quis / A alma desejada / Em perfeita constância / Em anos solitários/ Obsessão da infância / Aceito meu destino sem queixas / Estou sereno / Encosto o meu rosto / No teu ombro moreno / Imensa é a solidão / Mas o mundo é pequeno."
E eu, ali esvaziando devagarinho a Xícara de café, me lembro do poema do querido professor Cassiano Nunes: Por acaso encontrei / Mesmo em Roma ou Paris/ Amigos do Brasil / Só não achei quem quis / A alma desejada / Em perfeita constância / Em anos solitários/ Obsessão da infância / Aceito meu destino sem queixas / Estou sereno / Encosto o meu rosto / No teu ombro moreno / Imensa é a solidão / Mas o mundo é pequeno."
Essa Cleusinha é mesmo da pá virada. Me faz rir, me faz chorar.
Mal me recupero dos versos de Cassiano e a danadinha passa por mim de novo e de novo cantarolando tia Rita Lee: "Quando eu me sinto um pouco rejeitada/ Me dá um nó na garganta / Choro até secar a alma de toda mágoa / Depois eu passo pra outra/ Como mutante/ No fundo sempre sozinho/ Seguindo o meu caminho/ Ai de mim que sou romântica!".
Faz uma paradinha e diz que vai dar uma fugida. Acabou de quebrar duas unhas. E a amiga da copa, dublê de manicure, lhe dará atendimento de urgência, na sala ao lado.
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