por Laerte Rimoli
Adão
Nascimento. Um jornalista grandão, com coração de menino. Obrigado pela
convivência. Ficamos um mês inteiro em Manaus, pelo jornal O Estado de
S.Paulo, perseguindo mercenários que levavam armas para a Nicarágua.
Era o início dos anos 80, em pleno regime militar.
Corajoso, ele se
enfiou sob o arame farpado que circundava o Aeroporto Eduardo Gomes, na
capital amazonense, para chegar ao alvo, um
avião Ilyushin, de bandeira Líbia, que tinha no interior armamento
para a guerrilha da Nicarágua. Flagrante violação do espaço aéreo
nacional.
O presidente Castello Branco (de terno escuro, em primeiro plano, inaugurando uma rodovia
no DF em 21 de abril de 1966: estou sorridente, sabe-se lá por quê, sem
terno nem gravata, atrás do general Ernesto Geisel
Presidente Costa e Silva com jornalistas.
Abaixo o último dos generais presidentes: Figueiredo, assina, a Lei da Anistia, 1979.
Interceptado por dois recrutas da Força Aérea Brasileira
armados com baionetas, Adão desdenhou da ameaça, afastou com o corpanzil
quem tentava intimidá-lo e, máquina fotográfica no peito, altivo,
chegou à escada do avião. Invadiu o interior da aeronave, espaço
reconhecido por acordos internacionais como território estrangeiro e
arrancou a primeira página. Seu olhar brilhava como criança que acaba de
praticar uma traquinagem. Meu texto serviu apenas de suporte à bravura
daquele jornalista ousado. Maior privilégio ter vivido isso contigo
amigão. Vai com Deus. Missão cumprida.
Ainda
sobre o Adão Nascimento. Era homem "opiniudo". Não se incomodava de
fazer inimigos na defesa intransigente dos seus pontos de vista.
Presidiu, com mão de ferro e sabedoria, o Comitê de Imprensa do Palácio
do Planalto. Lutou contra a discriminação a repórteres fotográficos.
Grande Adão. (Acima alguma das fotos do querido fotógrafo, colega de trabalho por décadas em Brasília. Faleceu ontem, 24, no início da tarde, no Rio de Janeiro, aos 82anos.