quarta-feira, 25 de abril de 2012

Adão Nascimento, talento e opinião

 por Laerte Rimoli 
 
Adão Nascimento. Um jornalista grandão, com coração de menino. Obrigado pela convivência. Ficamos um mês inteiro em Manaus, pelo jornal O Estado de S.Paulo, perseguindo mercenários que levavam armas para a Nicarágua. Era o início dos anos 80, em pleno regime militar. 
Corajoso, ele se enfiou sob o arame farpado que circundava o Aeroporto Eduardo Gomes, na capital amazonense, para chegar ao alvo, um avião Ilyushin, de bandeira Líbia, que tinha no interior armamento para a guerrilha da Nicarágua. Flagrante violação do espaço aéreo nacional.
O presidente Castello Branco  (de terno escuro, em primeiro plano, inaugurando uma rodovia no DF em 21 de abril de 1966: estou sorridente, sabe-se lá por quê, sem terno nem gravata, atrás do general Ernesto Geisel
Presidente Costa e Silva com jornalistas. 
Abaixo o último dos generais presidentes: Figueiredo, assina, a Lei da Anistia, 1979.


 Interceptado por dois recrutas da Força Aérea Brasileira armados com baionetas, Adão desdenhou da ameaça, afastou com o corpanzil quem tentava intimidá-lo e, máquina fotográfica no peito, altivo, chegou à escada do avião. Invadiu o interior da aeronave, espaço reconhecido por acordos internacionais como território estrangeiro e arrancou a primeira página. Seu olhar brilhava como criança que acaba de praticar uma traquinagem. Meu texto serviu apenas de suporte à bravura daquele jornalista ousado. Maior privilégio ter vivido isso contigo amigão. Vai com Deus. Missão cumprida. 
Ainda sobre o Adão Nascimento. Era homem "opiniudo". Não se incomodava de fazer inimigos na defesa intransigente dos seus pontos de vista. Presidiu, com mão de ferro e sabedoria, o Comitê de Imprensa do Palácio do Planalto. Lutou contra a discriminação a repórteres fotográficos. Grande Adão. (Acima alguma das fotos do querido fotógrafo, colega de trabalho por décadas em Brasília. Faleceu ontem, 24, no início da tarde, no Rio de Janeiro, aos 82anos.