quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Não fui eu que mudei de lado!

Por Kátia Maia  

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Só me resta rir desse movimento que divulga e escreve sobre as Marchas contra a Corrupção e as denomina como movimento de mauricinhos e patricinhas sem foco e sem conteúdo!!!!

Como assim, basicamente? Explique melhor, porque não estou entendendo. O movimento perde valor porque leva às ruas jovens que estudam em escolas particulares e que tem acesso a condições melhores de vida? Como assim? Basicamente?

Agora, é preciso ser desempregado, sem terra, sem teto e sem alguma coisa para protestar? Pois bem, participei das Marcha contra a Corrupção neste feriado e me acho perfeitamente habilitada a falar e me indignar com essa M... toda “que já vem malhada antes de eu nascer”, como diria o poeta Cazuza.

A questão aqui, caso ainda não tenham percebido os ‘bonitos’ que falam da falta de foco do movimento, é que todo e qualquer brasileiro que paga suas contas, paga os impostos (altíssimos), rala diariamente para dar conta desse absurdo que é a nossa carga tributária e, fundamental, É HONESTO, tem todo o direito de ir para frente das casas legislativas e protestar contra essa corja.


Meus filhos foram.
Eu me deito toda noite e só não durmo tranquilamente porque o alto custo de ser classe média nesse país me perturba. Mas, no quesito ‘sono dos justos’, eu posso me declarar tranqüila. Não roubei, não desviei dinheiro público, sequer comprei produtos piratas – embora muitas vezes tenha ficado tentada devido aos altos preços dos originais. Mas, nesse caso, prefiro declinar.
Eu fui!
Existe uma propaganda que ‘rola’ no rádio e que acho bem apropriada. Ela fala sobre ser ÉTICO e diz: para ser ético basta dizer não participo, não compartilho não aceito. Pois bem, estou nessa e me considero uma pessoa – embora de classe média e com filhos estudando em escolas particulares – absolutamente apta a protestar e gritar na porta do Congresso Nacional frases como : Sarney safado, fora do senado. Ou, Ordem e progresso dentro do congresso!
Pizza gigante.
Portanto, não venham me dizer que somos patricinhas fora de foco. Eu, na juventude, fui às ruas e também protestei. Na época, eu estava lado a lado com um Partido dos Trabalhadores chamado PT. Coloquei estrelinha no peito e gritei que não concordava com a situação da época.

Pois bem, preciso esclarecer um detalhe: nessa história, não fui eu que mudei de LADO. Think about it!

sábado, 8 de outubro de 2011

Do cinema para a vida ... somos (quase todas) irmãs de Liv Ullmann

por Leda Flora (Blog Papo Furado) 

Quando algo pega a gente pra valer, sempre dá um jeito de retornar com frescor, independente dos variados espaços entre as ondas de memória que o leva ou traz. A geografia de episódios assim indica que esse território se chama emoção. O material, por maior prazer que o sustente no momento da posse, está longe do atestado de vida longa. Pertence ao espaço do efêmero. O espanto da emoção, ao contrário, se eterniza. E se eternizou em mim o primeiro close da atriz norueguesa



 Liv Ullmann que eu vi dentro da sala escura. O título do filme voou,  restou apenas o olhar. Nos outros filmes dela que persegui, queria apenas ver novamente como dois olhos estáticos conseguiam tanta eloquência, como podiam dizer tanta coisa, como explicavam sentimentos em plena mudez, como exibiam a sensibilidade extraordinária dela.
E um belo dia, provavelmente da década de 1980, encontrei por acaso um livro - Mutações - que me despertou enorme curiosidade por se tratar da autobiografia de Liv. E que se tornou meu amigo e guardo até hoje. Logo eu, que dou meus livros aos montes. Ali, ela contou o mistério do close: vinha de pensamentos atrás da testa, muitas vezes encadeados, como dúvidas, covardia, ambivalência, falta de nobreza espontânea requeridas pela personagem. Ou ainda a revelação do tipo de vida que seu rosto observou. Tudo muito interior, abstrato como a matemática, e distante da maquiagem, do cabelo, da beleza.



As histórias de Liv são contadas com uma delicadeza nórdica, quase política. Abre ao leitor uma série de contradições, como se sentir forte e frágil simultaneamente, como gostar de ser paparicada em Hollywood mas desejar  correr sempre para Oslo, como perceber-se às vezes mais solitária na companhia de um homem do que sozinha. Relata o temor da velhice para quem conheceu muito bem os holofotes, a necessidade e as  armadilhas do amor, as dificuldades de ser mulher nos anos 70, o mal -estar de não poder estar mais perto da filha Linn, seu amor maior.

Muitas páginas são dedicadas a Ingmar Bergman, o diretor sueco com quem se casou e teve a filha. Isolados na Ilha de Faro, entre a Rússia e a Suécia, que ele amava muito mais do que ela, viveram durante cinco anos fases tão pesadas que mais pareciam os filmes dele, dez dos quais a elevaram à categoria de grande estrela. Liv resume a vida com Bergman dialeticamente: "A única maneira de me sentir segura era viver do modo que ele queria. Pois só assim ele estava seguro".

Lendo Mutações me senti irmã de Liv. Nenhum sentimento dela me era estranho. Atitudes que tomou eu teria tomado também. Sua visão de mundo me soou familiar. Suas dúvidas me chegaram plausíveis como também suas dores e seus medos. E olha que não conheço fiordes, não me casei com um gênio sueco, não fiz teatro ou cinema, não acompanhei Henry Kissinger num evento, não jantei com Leonid Brezhnev e Richard Nixon na embaixada russa em Washington, não fui disputada por Hollywood, e nunca esqueci um alfinete no vestido e só percebi no meio da festa.
 Com ela, passei também por uma mutação: perdi a crença na superioridade do macho branco europeu. Afinal, se Liv e eu éramos tão próximas, a ideia não se sustentava. E passei a olhar de banda os adoradores do Primeiro Mundo, hoje em processo de queda, que mal conseguem esconder o sentimento pessoal de inferioridade. Jamais conseguirei apreciá-los.